quinta-feira, 29 de abril de 2021

GIBITECAS ESCOLARES: UM AMBIENTE PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES


A postagem é para professores que tem interesse em saber mais sobre gibitecas escolares. Trata-se de um artigo recentemente publicado nos anais do 10º Simpósio Internacional de Educação e Comunicação, com o título de "Gibitecas Escolares: um ambiente para a formação de leitores". O texto resultado de uma pesquisa realizada por Ida Conceição Andrade de Melo, Valéria Aparecida Bari e Joyce Dayse de Oliveira Santos, e está muito interessante. 

Leia o resumo!

Esse artigo verifica a relação entre as gibitecas escolares e as possibilidades pedagógicas e informativas de sua presença nas escolas brasileiras. As gibitecas são acervos de histórias em quadrinhos, com a gestão voltada para a formação de gostos e hábitos leitores. A pesquisa tem caráter bibliográfico, qualitativo e exploratório, resultante de um levantamento de projetos e trabalhos que utilizaram as gibitecas na formação de leitores nas escolas. Além da trajetória histórica dos quadrinhos no Brasil e de suas características de linguagem e da utilização paradidática desse recurso, buscouse identificar, nos projetos e trabalhos selecionados, a equipe multidisciplinar. A pesquisa confirma a hipótese de que as gibitecas são ambientes de informação que se constituem como recurso didático-pedagógico na formação do leitor e na proficiência em leitura, principalmente entre os alunos em processo de alfabetização.

O texto pode ser acessado aqui!

terça-feira, 27 de abril de 2021

INSTITUTO MAURICIO DE SOUSA DISPONIBILIZA HISTÓRIAS GRATUITAS PARA PESSOAS COM AUTISMO


No mês de abril é celebrado o Dia Mundial do Autismo, síndrome que causa um transtorno de desenvolvimento grave, prejudicando a capacidade de se comunicar e interagir com as pessoas, que é causado pelo sistema nervoso. O transtorno do espectro do autismo (TEA) é também conhecido pela sua denominação antiga (DSM IV). 

O autismo, é um transtorno neurológico caracterizado por comprometimento da interação social, comunicação verbal e não verbal e comportamento restrito e repetitivo. Os sinais geralmente desenvolvem-se gradualmente, mas algumas crianças com autismo alcançam o marco de desenvolvimento em um ritmo normal e depois regridem.

Com objetivo  do projeto é levar cada vez mais informações sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), e o Instituto Mauricio de Sousa (IMS), em parceria com a Revista Autismo e o Instituto Singular, preparou histórias em quadrinhos do André, personagem com autismo da Turma da Mônica. Essas publicações digitais que podem ser acessadas clicando AQUI!

Texto adaptado. Leia a postagem original, clicando aqui.

sábado, 24 de abril de 2021

GANHADOR DO SORTEIO DO LIVRO: EGITO PASSO A PASSO

 


O ganhador do sorteio do livro "Egito Passo a Passo" foi Luís Felipe Martins de Sousa. O vencedor pode entrar em contato conosco pelo e-mail gibitecacom@gmail.com, deixar um comentário para que possamos combinar o envio (caso não seja de Leopoldina), ou retirar o livro na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, avenida dos Expedicionários, s/n, Jardim Bela Vista.

A escola estará reaberta a partir de 30 de abril, do ano corrente, mas aconselhamos a retirada o mais rápido possível  por conta a possibilidade de novo lockdown.

Obrigado a todos que participaram e espero que continuem participando. Teremos muitos outros sorteios até o final do ano.

terça-feira, 20 de abril de 2021

O EGITO TAMBÉM ESTÁ NOS QUADRINHOS

As Histórias em Quadrinhos podem ser inspiradas em personagens e fatos reais, assim como pode ser ambientadas em lugares e tempo distintos. Os autores de quadrinhos não criam mundos imaginários usando apenas a sua imaginação. Eles procuram informações na História, consultam a Geografia, mergulham na Literatura, na Física, na Matemática e em muitas outras ciências para criarem seus mundo fictícios.

Algumas vezes eles usam os quadrinhos para contar a História de uma forma divertida e atrativa, tanto para crianças quanto para adultos. São quadrinhos didáticos utilizados pelos professores para ensinar  um pouco mais sobre o conteúdo que temos nos livros e apostilas escolares. 

Personagem constante da série Mitos Recriados em Quadrinhos da Editora Nemo, nestes quadrinhos o Professor Lobato nos conta a origem dos primeiros textos escritos. Estes quadrinhos são uma criação do roteirista Wellington Srbek e do desenhista Will.

Um tema que já esteve muito presente nas histórias em quadrinhos é o Egito Antigo, com seus faraós e rainhas, suas grandes pirâmides, suas múmias e o famoso rio Nilo. No Brasil, e em muitos outros países como os Estados Unidos, França e até no Japão, tivemos quadrinhos nos quais personagens famosos visitaram o Egito, seja no passado ou no tempo presente. 

Papyrus é uma série de quadrinhos belga, escrita e ilustrada por Lucien de Gieter. A história se passa no Egito Antigo. Foi publicado pela primeira vez em 1974 na revista Spirou, na forma de episódios. Uma série animada foi criada em 1998, com duas temporadas e exibida na TFOU TV na França e em Quebec na Radio-Canada. 

Sempre misterioso, com seus deuses, suas lendas e uma história com mais de 4000 anos, o Egito atrai a atenção de roteiristas e desenhistas de todo o mundo. Temos alguns personagens de quadrinhos famosos inspirados no Egito antigo como Papyrus e Kéos, cujas HQs são publicados na França e em muitos países europeus. 

Keos é um jovem nascido no milagre e nos tormentos do antigo Egito. Fiel companheiro do Faraó Mieptah, ele recebeu a proteção do deus Osíris na forma de um anel mágico que lhe dá um poder salvador para a humanidade.

Outros como Tintim e Asterix, cujas aventuras já foram traduzidas para o português, que viveram suas aventuras no mundo dos faraós. Crianças, jovens, adultos, faraós felás (nome dado aos servos egípcios), bárbaros e romanos, personagens diversos já percorram desertos e desvendaram mistérios de templos e pirâmides nas páginas de revistas em quadrinhos. 

César desafia Cleópatra a construir um palácio para ele em Alexandria em 3 meses, para mostrar que os egípcios não eram apenas escravos. Ela passa essa tarefa para o arquiteto Numerobis, que chama Asterix, Obelix e Panoramix para lhe ajudar. 

A Turma da Mônica, por exemplo, já esteve dentro das grandes pirâmides. Personagens da Disney, como Tio Patinhas, Pato Donald e seus sobrinhos embarcaram em aventuras pelo Egito Antigo em busca de tesouros dos faraós.

O Terceiro Nilo, é um HQ publicada pela primeira vez em 1999 na Itália. Pato Donald está trabalhando numa biblioteca e é pego de surpresa pelos seus sobrinhos, que estão procurando por um livro. No meio da bagunça, acabam encontrando um manuscrito de Jonathan Livingpato, que diz ter encontrado um Terceiro Nilo ao procurar pela nascente do rio, que chamou de Nilo Dourado por conta do ouro no local. Ao saber disso, o Patinhas se interessa e dá início à uma expedição! 

É sempre bom lembrar que o Egito localiza-se na África e que quando estamos falando de Egito, estamos falando de História da África, uma história sobre a qual ainda estudamos pouco e que esses quadrinhos podem nos ajudar a conhecer mais.

E aí? Gostou da postagem?

Deixe seu comentários (não esqueça de colocar o nome completo) e concorra ao sorteio do livro "Egito Antigo passo a passo".

O livro será sorteado sexta, 23 de abril, às 12:00 e o nome do ganhador ou ganhadora será divulgado em uma postagem especial neste dia.


quinta-feira, 15 de abril de 2021

HISTÓRIA EM QUADRINHOS SOBRE A LÍNGUA INDÍGENA DE SINAIS DO POVO TERENA


A Universidade Federal do Paraná (UFPR) anunciou nesta semana o lançamento de uma história em quadrinhos que retrata a língua indígena de sinais utilizada pelos surdos da etnia terena. Segundo a universidade, a obra, produzida por Ivan de Souza, como trabalho de conclusão do curso de licenciatura em Letras Libras, tem o propósito de fortalecer o reconhecimento e a preservação das línguas de sinais indígenas. 

Além de possibilitar a disseminação e a preservação da língua terena de sinais, a história tem o propósito de evidenciar a cultura e a história desse povo. De acordo com a universidade, todo o processo teve acompanhamento de pesquisadoras que já desenvolviam atividades com os terena.  A comunidade indígena também teve participação ativa no desenvolvimento e na validação da obra. 

As ilustrações da HQ foram feitas por Julia Alessandra Ponnick, que é acadêmica do curso de Design Gráfico da UFPR. A defesa do TCC de  Ivan de Souza está agendada para o final de março junto com o lançamento oficial da história.

Sobre a História 

Inspirada na história real do povo terena, a narrativa apresenta a comunidade na época que ela ainda vivia nas Antilhas e era designada pelo nome Aruák. A pajé Káxe, procurada por uma mulher em trabalho de parto, ajuda no nascimento do pequeno Ilhakuokovo. A partir daí, a obra ilustra um pouco da trajetória desses indígenas e da sua instalação no território brasileiro. Buscando caminhos que levasse aos Andes, em meados do século XVI, os espanhóis estabeleceram relações com os terena, à época chamados de Guaná, na região do Chaco paraguaio. A chegada dos brancos acarretou muitas mudanças nas vidas dos indígenas, que procuraram, durante certo período, locais onde pudessem exercer seu modo de vida sem a influência da colonização.

HQs sinalizadas

O projeto da UFPR HQs Sinalizadas trabalha com temas transversais dos artefatos da cultura surda – história, língua, cultura e saúde. O objetivo é criar, aplicar e analisar histórias em quadrinhos sinalizadas como uso de sequências didáticas bilíngues para o ensino de surdos. Além da elaboração de materiais bilíngues capazes de auxiliar na aprendizagem, a proposta permite aprofundar os estudos linguísticos como prática social. Todas as HQs produzidas pelo grupo apresentam vídeos sinalizados, desenhos, ilustrações e escrita do português. 

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Texto publicado originalmente por Patrícia Patrocínio no site Mercadizar, no dia 19 de março de 2021.

 


terça-feira, 13 de abril de 2021

QUEM SÃO OS PROFISSIONAIS QUE PRODUZEM QUADRINHOS?

Quadrinistas autografando quadrinhos durante o Festival de Angoulême, em 2017.

Muitas pessoas leem revistas em quadrinhos, mas não conhecem o trabalho das pessoas que produzem essas revistas, que a gente pode chamar de quadrinistas. Na produção de quadrinhos podem haver várias pessoas envolvidas.  Nas grandes editoras e nos estúdios famosos como o de Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica muitas pessoas trabalham na produção dos quadrinhos que temos na nossa Gibiteca.

Há aquele ou aquela profissional que responsável pela coloração (colocar as cores nas imagens); há profissionais responsáveis por escrever a história, o roteirista; o desenhista, que é sempre o mais lembrado, que faz as ilustrações; o letrista que escreve os textos que lemos nos quadrinhos, dentro e fora dos balões; o arte-finalista, que dá os retoques finais da história em quadrinhos antes da publicação e o responsável por organizar a publicação da revista, o editor.

Mas você sabia que temos quadrinistas que não publicam seus quadrinhos por editoras seus sozinhos?

São o que chamamos de QUADRINISTAS INDEPENDENTES. Esses e essas quadrinistas fundam suas próprias editoras, em casa. Eles e elas fazem todo esse trabalho, sozinhos e costumam vender seus eventos que reúnem fãs de quadrinhos, nas redes sociais e em sites na internet.

Assim, se você deseja produzir seus quadrinhos, pode começar em casa ou mesmo na escola. Pode mais tarde fazer um curso, se especializar e se tornar um profissional nesta área.

Conheça o trabalho de uma quadrinista independente: Cátia Ana Baldoíno.



 

O que você achou?
Quer saber mais alguma coisa sobre o trabalho dos quadrinistas?
Deixe um comentário!

quinta-feira, 8 de abril de 2021

OS COLECIONADORES DE QUADRINHOS E SEUS ACERVOS

Os amantes dos quadrinhos muitas vezes se tornam colecionadores. Eles começam muitas vezes bem cedo, comprando sua primeira revista, guardando ela com cuidado em uma gaveta. Depois compram mais uma, mais outra... Com o tempo uma gaveta não é mais suficiente e eles começam a colocar em caixas ou estantes. O fã se torna um colecionador e seus HQs, são seu tesouro. 

Pois é, uma revista em quadrinhos em uma gaveta pode se tornar uma coisa muito mais valiosa no futuro. Mesmo sem saber, essas pessoas formam, em casa, suas gibitecas, ou seja, suas coleções de quadrinhos, que podem possuir vários gêneros (superaventura, humor, romance, terror, crime) ou se concentrar em apenas um gênero ou estilo. 

Há colecionadores que investem em estantes com portas de vidro e até mesmo transforma um cômodo inteiro em uma gibiteca. Essas pessoas começaram suas coleções ainda bem jovens, muitas vezes juntando o dinheiro do troco da merenda das escola para, todo mês poder comprar a revista do seu personagem preferido. E há até quem, mais tarde, transforme isso numa profissão, quando adulto.

Os colecionadores de quadrinhos tem alguns hábitos. Um dos mais comuns é guardar suas coleções em saquinhos plásticos, para evitar que elas fiquem empoeiradas e mais bem conservadas. E a conservação do acervo (da coleção) de quadrinhos segue os mesmos procedimentos de uma coleção de livros (biblioteca). 

Para aqueles que amam seus quadrinhos e seus livros, separamos um vídeo no qual uma especialista no assunto fala da importância da conservação das coleções e dá dicas do que pode do que não pode ser feito. O vídeo é recomendado tanto para os colecionadores quando para profissionais que trabalham em gibitecas e/ou bibliotecas.

   

terça-feira, 6 de abril de 2021

OUSADAS: MULHERES QUE SÓ FAZEM O QUE QUEREM


Dica de leitura para quem curte uma boa biografia em quadrinhos e gosta de conhecer a história de mulheres empoderadas. Em "Ousadas: mulheres que só fazem o que querem", a quadrinista francesa Pénélope Bagieu nos traz a biografia de 30 mulheres, em dois livros em quadrinhos, publicados respectivamente em 2019 e 2020 aqui no Brasil. 

São lindas e emocionantes histórias e mulheres reais, de todo mundo e de todas as épocas. De mulheres comuns a mulheres que se tornaram famosas, todas estão ali. Rainhas, princesas, cientistas, donas de casa e refugiadas. Belas histórias de mulheres que nos deixam excelentes exemplos de superação e de luta contra preconceitos e discriminação.

Fica a dica de leitura. 

Gostou da postagem? Deixe aqui seus comentários e sugestões!

quinta-feira, 1 de abril de 2021

QUADRINHOS AFRICANOS MOSTRAM DIVERSIDADE DO CONTINENTE E COMBATEM PRECONCEITOS

Aya de Youpougon está disponível  no acervo da Gibiteca Helena Fonseca.

Por muito tempo persistiu – e ainda persiste – no imaginário coletivo o estereótipo de que a África é um lugar atrasado e assolado pela miséria. Essa forma de pensar e de se representar a África vem sendo colocada em xeque graças ao esforço de diversos intelectuais e artistas africanos que apresentam outras perspectivas sobre o continente, denunciando, assim, o grande perigo que é contar uma história única.

Nesse cenário de reivindicação das narrativas e reinterpretação dos sentidos na busca de evidenciar a diversidade existente nos diferentes países africanos, a cena de quadrinhos africanos surge como uma potência criativa que vem chamando a atenção dos leitores não só do Brasil, mas de todo o mundo.

“Há na cena de quadrinhos do continente uma variedade enorme de estilos, traços e influências distintas abordando as mais diversas temáticas. Temos desde contos infantis, como Akissi, de Marguerite Abouet e Mathieu Sapin, passando por narrativas biográficas como o The Initiation, de Mogorosi Motshumi, que permite vislumbrar a vida cotidiana de um artista em formação durante os anos do apartheid sul-africano, até deuses renascendo para combater vilões, como em El3osba, de John Maher, Maged Raafat e Ahmed Raafati.” É o que nos diz o professor e pesquisador de quadrinhos sul-africanos Júlio Sandes.

Interesse de longa data

Júlio aponta que o interesse tanto do público, quanto dos pesquisadores brasileiros por HQs africanas não é algo novo e que vem crescendo há cerca de uma década. “O fortalecimento das discussões sobre o papel das histórias negras e africanas na indústria do entretenimento em nível mundial faz com que público se pergunte: ‘onde estão as histórias africanas contadas por artistas de África’”, comenta.

Um dos fatores atuais que despertaram o interesse do público brasileiro foi o curso Quadrinhos Africanos, ministrado gratuitamente pelo pesquisador e editor Márcio Rodrigues em seu canal do Youtube. “O curso online é uma reedição de um curso presencial que ofereço no Maranhão há um tempo”, afirma Márcio.

“A ideia surgiu inicialmente como uma parceria com o Curso de Estudos Africanos e afro-brasileiros da UFMA, e foi construído junto do Centro Acadêmico Maria Firmina dos Reis, encabeçado por estudantes do referido curso”, complementa.

A respeito da recepção do curso, Márcio diz que o público se mostra bastante interessado. “O interesse é tanto que o pessoal me aguenta falando por quase 4 horas seguidas sobre quadrinhos africanos e só se lembra de pedir para assinar a lista de presença após 3 horas de falação”, brinca.

Interesse do público, desinteresse das editoras

Todavia, mesmo que haja interesse pelos quadrinhos africanos por parte do público leitor e dos pesquisadores, as editoras voltadas para a publicação de HQs no Brasil parecem não dar tanta importância, ou até mesmo desconhecem essa produção.

Márcio afirma que costuma acompanhar o catálogo de editoras que geralmente se identificam como progressistas e percebe a falta de diversidade nas publicações. “Fico espantado de ver como em alguns catálogos não há publicação de autoria negra ou feminina, até quadrinhos europeus, como os alemães, são ignorados. Agora imagina se vão dar atenção para os quadrinhos africanos?”, afirma.

Entre as poucas publicações de quadrinhos africanos feitas no Brasil, temos Funmilayo Ransome-Kuti e a União das Mulheres de Abeokuta, de Obioma Ofoego e Alaba Onajin, Njinga Mbandi – Rainha de Ndongo e Matamba, de Edouardserbin Joubeaud e Wangari Maathai e o Movimento do Cinturão Verde, de Wangari Maathai e Eric Muthoga. Essas são obras que fazem parte da coleção Mulheres na História da África, publicados pela Casa das Letras.

A Sesi-SP Editora lançou Púrpura, de Pedro Cirne. A HQ foi inspirada na história da avó do autor, que é luso-angolana, e traz perspectivas dos países africanos falantes de português, como Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau.

Já a embaixada brasileira em Cabo Verde lançou uma adaptação do romance O Mulato, que foi ilustrada pela cabo-verdiano Hegui Mendes. A embaixada também produziu um quadrinho com contos de diferentes países falantes de português.

Também passou por aqui uma coletânea de autores falantes de português, o BDLP - Banda Desenhada da Língua Portuguesa, organizado pelo Estúdio Olindomar. A publicação chegou a ganhar o HQmix, considerado o Oscar dos quadrinhos no Beasil, e contou com a participação de autores brasileiros. A BDLP já está no quinto volume, mas só o primeiro teve uma boa repercussão por aqui.

Atualmente a Skript Editora está realizando a pré-venda de dois quadrinhos africanos. O primeiro é Ligeiro Amargor: uma História do Chá, do costa-marfinense Koffi Roger N'Guessan, com roteiro da dupla Elanni e Djaï.

Já o segundo quadrinho é O Pesadelo de Obi, quadrinho guinéu-equatoriano com roteiro de Chino e Tenso Tenso e ilustração de Ramón Esolo Ebalé. A obra satiriza o atual presidente da Guiné Equatorial Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, o que ocasionou na perseguição política dos autores, sendo que Ebelé chegou a ser preso.

As duas HQs contam com a edição de Márcio Rodrigues e só chegaram no Brasil graças ao curso sobre quadrinhos africanos. “O convite surgiu após o Sandro Merg, organizador do Butantã Gibicon, ter dito ao Douglas Freitas, um dos donos da Skript Editora, que ele estava fazendo o meu curso online. Douglas então entrou em contato comigo e desde então temos passado 24 horas por dia falando sobre quadrinhos”, comenta.

Mas de todos os quadrinhos africanos publicados no Brasil, Aya de Yopougon, com dois volumes publicados pela L&PM, com roteiro da costa-marfinense Marguerite Abouet e arte do francês Clément Oubrerie, talvez seja a obra mais conhecida e acessível por ter sido selecionada para o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) em 2012.

“Esqueça tudo o que você já ouviu sobre a África”

É assim que se inicia a sinopse de Aya de Yopougon. A HQ acompanha a rotina de três amigas, Aya, Bintou e Adjoua, que vivem dilemas normais de tantos outros jovens: garotos, festas e dúvidas sobre o futuro. Tendo como palco o bairro de Yopougon, na Costa do Marfim, a obra é ambientada nos anos de 1970 e traduz algumas das vivências da própria Marguerite Abouet.

“Acompanhar a história daquelas jovens por Yop City desafia as noções pré-concebidas que o senso comum constrói sobre o que seria uma juventude africana”, comenta Júlio Sande. “Aya não é ‘de África’, nem tampouco ‘de Abidjan’ – cidade onde habita. Ela é de Yopougon. Um bairro que é o seu mundo”, completa.

Para o professor e pesquisador, esse fato já coloca em cheque a noção racista de uma africanidade universal, que toma toda experiência e toda pessoa africana como um exemplar da mesma história, da mesma realidade.

“Um equívoco que só ocorre por conta da ‘história única’, para usar a expressão tornada famosa pela escritora nigeriana Chimamanda Adichie, que o senso comum conhece sobre todo um continente e que precisa ser implodida para ser complexificada”, diz Júlio.

Novos universos

Sobre a publicação de quadrinhos africanos no Brasil, tanto Márcio quanto Júlio apontam para a importância não só de atender uma demanda antiga de leitores e pesquisadores, mas também de apresentar ao público outros universos simbólicos que são totalmente diversos e diferentes dos que estamos acostumados a ver, contribuindo para expandir a nossa ideia sobre quadrinhos e sobre o continente africano.

“Essas publicações certamente contribuem para o questionamento dos estereótipos generalizantes e frequentemente racistas que o senso-comum costumeiramente atribui à região e aos seus povos”, finaliza Júlio.

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Texto publicado no Brasil de Fato, em 21 de março de 2021, de autoria de Edmar Neves é filho de Oxóssi; mestrando em Teoria e História Literária pelo IEL/Unicamp e pesquisador de histórias em quadrinhos, literatura, arte e cultura negra/periférica.