Quadrinhos e literatura sempre conversaram
entre si. Há uma década, o mercado brasileiro vive um bom momento para
adaptações de romances para gibi – sobretudo de títulos dedicados ao
público infantojuvenil, ainda em formação, para quem as versões
apresentam clássicos ou obras recomendadas pelos principais vestibulares
do país.
Agora, as editoras voltam o foco para um
público mais experiente e conhecedor de alta literatura, com
quadrinizações que procuram ser obras completas, tão densas quanto os
romances originais. Nesta seara, de Milton Hatoum a Guimarães Rosa, de
Adolfo Bioy Casares a Albert Camus, variados autores têm seus livros
transformados em romances gráficos.
Uma das mais esperadas adaptações deste ano é
a de “Dois Irmãos”, do amazonense Milton Hatoum, feita pelos
paulistanos Fábio Moon e Gabriel Bá para a Companhia das Letras, que
será lançada neste mês.
No fim do ano passado, “Grande Sertão:
Veredas”, de Guimarães Rosa, ganhou uma versão pelos quadrinistas Eloar
Guazzelli e Rodrigo Rosa, em edição caprichada (com 7.000 volumes
numerados) lançada pela Biblioteca Azul, selo da Globo.
Já “A Morte de Ivan Ilitch”, de Liev Tostói,
ganhou sua versão pelas mãos do cartunista Caeto para a editora
Peirópolis. E outras ainda deverão chegar ao mercado, como “O
Seminarista”, que comemora os 90 anos de Rubem Fonseca, com roteiro
adaptado por ele mesmo e ilustrado por Rodrigo Rosa, para a editora
Agir.
Na avaliação do veterano Guazzelli, há três
décadas envolvido no setor, “o mercado brasileiro de quadrinhos nunca
viveu um momento tão positivo e muito disso aconteceu em função das
adaptações”. Através delas, as editoras “descobriram” o nicho e o
talento dos quadrinistas nacionais.
De acordo com Renata Farhat Borges, diretora
da editora Peirópolis, essa virada aconteceu a partir de 2006, quando
as adaptações de clássicos em quadrinhos passaram a ser incluídas nos
editais de compra de livros para escolas.
Assim, obras importantes para o currículo
escolar, como “O Alienista”, de Machado de Assis, começaram a ser
quadrinizadas. No afã de vender para o governo, três versões somente
desse romance machadiano já foram publicadas até agora, pelas editoras
Companhia Editora Nacional, Ática e Escala, cada uma delas adaptadas por
quadrinistas diferentes. Como elas exemplificam, uma enxurrada de
quadrinizações de livros em domínio público inundou o mercado.
Para Guazzelli, a euforia do mercado para o
nicho tem seu lado positivo e negativo. “Foi lindo ver quadrinistas
podendo se dedicar a desenhar, ganhando por isso. Mas tudo que exige um
ritmo industrial acaba perdendo na qualidade. O principal dessa história
é que passaram a ver valor nos profissionais, que já estavam prontos
para quando a oportunidade surgisse”, diz. Novo momento.
O que acontece, agora, é uma
nova percepção das editoras: a possibilidade de vender as adaptações
para quem já consome os livros, para além da sala de aula.
Leia mais, clicando aqui!
Nenhum comentário:
Postar um comentário