quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

PROFESSORES DA AMAZÔNIA INOVAM E ENSINAM CIÊNCIAS POR MEIO DOS QUADRINHOS


Ao falarmos sobre histórias em quadrinhos, lembramos daquelas fantásticas e divertidas trazidas pelos gibis. Mas já imaginou ser informado e aprender ciência por meio delas? É o que o professor da Universidade Federal do Pará Bruno Spacek Godoy, em parceria com o cientista Luciano Lopes Queiroz, começou a fazer. O primeiro quadrinho de nome “Ciclos” foi publicado este mês e já está disponível, em inglês e português, no site do cientista.

Foi por meio das tirinhas que os autores acharam uma forma de inovar na propagação das informações cientificas que têm sido produzidas diariamente no ambiente acadêmico e não são de conhecimento da comunidade externa. “Produzir os quadrinhos possibilitou uma reflexão do nosso grupo de trabalho,para a simplificação de nossas ideias. Para conseguirmos colocar o conteúdo no formato de quadrinho, é necessário que as informações sejam simples e claras, sem linguajar científico ou técnico. Isso nos ajuda muito, pois permite um momento para entendermos bem o que estamos fazendo”, ressalta Bruno Godoy.


Por se tratar de uma história em quadrinhos, que facilita o aprendizado por meio do desenho, o conteúdo alcança leitores de todas as idades e leva o conhecimento científico até quem não era alcançado anteriormente. “Eu vejo essa expansão com bons olhos, pois, no Brasil, o trabalho de fazer ciência é visto como algo distante da realidade. Podemos mostrar ao grande público que ciência é algo simples, ao mesmo tempo que pode ser divertido aprender e construir conhecimentos”, explica Bruno Godoy.

Quadrinhos
O quadrinho intitulado “Ciclos” está disponível, em português e inglês, no site do cientista Luciano Queiroz. O roteiro das tirinhas de “Ciclos” foi criado por Luciano Lopes Queiroz e a ilustração, por Marco Merlin, que viram na forma que os quadrinhos são compartilhados uma boa alternativa para a divulgação científica. “As pessoas adoram o formato de tirinhas e ainda compartilham, marcam amigos e comentam”, lembra Luciano Queiroz.

E mesmo com pouco tempo da divulgação inicial, a inicitiva já tem repercurtido por todo o país, o que anima a equipe a continuar trabalhando neste tipo de divulgação. “No mesmo dia em que publicamos o quadrinho, vários conhecidos vieram parabenizar e comentar o material. Toda essa visualização nos fortaleceu para continuarmos e elaborarmos mais conteúdo nesse sentido”, comenta o professor da UFPA.

Sobre a pesquisa
O estudo de Bruno Godoy, professor do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares, objetiva entender como ocorrer a colonização de riachos por insetos aquáticos. Ele foi realizado por meio do financiamento da UFPA pelo Programa de Apoio à Publicação Qualificada (PAPQ), que busca fomentar a publicação de artigos científicos de autoria de docentes, técnicos e discentes dos Programas de Pós-Graduação, em revistas estrangeiras.

Para ter acesso ao artigo completo, escrito por Bruno Spacek Godoy, Luciano Lopes Queiroz, Sara Lodi, Jhonathan Diego Nascimento de Jesus e Leandro Gonçalves Oliveira, clique aqui.

Publicado originalmente no Portal Amazônia

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

UMA HISTÓRIA DAS MULHERES E DA ARTE POR MEIO DOS QUADRINHOS

Capa da HQ de Aline Lemos "Artistas Brasileiras" (2018), pela editora Miguilim.
Lançada em 2018, a HQ "Artistas Brasileiras" de Aline Lemos apresenta ao público geral um seleção de 30 mulheres que se destacaram no campo artístico, de várias regiões do país. Um projeto que busca tirar das sombras mulheres talentosas cuja existência ou foi obscurecida pela história, ou mesmo esquecida ao longo dos anos. 

Já no início da HQ, numa introdução quadrinizada, a autora tem o cuidado de  esclarecer que existem outras mulheres, tão interessantes quanto as que ela selecionou para a HQ, e que objetivo da obra "não é apresentar todas ou as melhores artistas" mas mostrar diversidade de mulheres que produziram arte no nosso país.
Quadrinho sobre Tarsila do Amaral.
A obra coloca as mulheres dentro da história da arte e mostra que, mesmo com todas as dificuldades impostas pela sociedade, elas conseguiram deixar sua marca. Entretanto, suas marcas foram aos poucos desaparecendo e é necessário reavivá-las. Este é  um dos méritos da HQ de Alice Lemos, o de fazer um exercício de memória. 

A jovem autora nos lembra ainda que as mulheres são talentosas e não excepcionais. E qual seria a diferença?

Tirinha onde a autora usa
a artista plástica Zina Aída
para criticar o machismo
presente na sociedade.
Durante muito tempo a História nos apresentou as mulheres que se destacaram (e cuja presença não podia ser ocultada) em alguma área dominada pelo homens como excepcionais. Elas eram casos raros, únicos. O talento dessas mulheres era, portanto, uma anomalia, que não poderia servir de base para se julgar outras mulheres. 

Mas na HQ  "Artistas Brasileiras" a intenção da autora é demonstrar que havia, e há entre nós, mulheres talentosas cuja obra não é resultado apenas de uma excepcionalidade, mas de muito trabalho, dedicação, estudo e talento. 

A HQ não coloca as mulheres como sendo melhores que os homens, mas tão talentosas e capazes quanto eles, com as mesmas capacidades e habilidades criativas. O mesmo talento que se encontra em um homem e que pode ser encontrado, também, em uma mulher. 

Do ponto de vista didático, a narrativa é muito bem construída e a obra pode fornecer a professores de história e artes material para trabalhar História da Arte no Brasil de uma forma leve e divertida. As biografias das autoras curta, chegando ao máximo a 3 páginas e são acompanhadas de tiras irônicas e divertidas. A autora expõe e debocha de preconceitos machistas usando de ironia e  muito humor.

Nestes quadrinhos a autora reúne quatro personagens: Anital Malfatti, Fédora do Rego, Georgina de Albuquerque e Tarsila do Amaral.
Aline Lemos, em muitos momentos, lembra o estilo de narrativa da quadrinista sueca Liv Strömquist, que publicou no Brasil a HQ "A origem do mundo: uma história da vagina ou a vulva vs. o patriarcado" (clique aqui para conferir uma matéria sobre esta obra). 

Um quadrinho recomendado para pessoas de todas as idades e indicado para professores que procuram por um material rico e criativo sobre história da arte. Vale ainda acrescentar que a autora fez uma ampla pesquisa bibliográfica, cujas fontes estão disponíveis no livro.

* Texto postado originalmente no blog História e Ensino Sem Fronteiras.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

QUADRINHOS ‘RIO NEGRO’ TRAZ A HISTÓRIA DE LENDAS INDÍGENAS DA AMAZÔNIA

Quem nasceu no Amazonas conhece bem as lendas regionais que invadem o imaginário caboclo. Histórias passadas de geração para geração, e que muito mais do que contos para assustar visitantes, refletem a identidade cultural de povos indígenas que habitaram a Amazônia há pelo menos 40 mil anos. E foi inspirado por figuras como o Saci, o Curupira e o Mapinguari que um ilustrador brasiliense (DF) decidiu dividir a vida de analista de sistemas com a missão de promover o folclore amazônico por meio de histórias em quadrinhos.

A natureza do criador
Eron Costa, de 48 anos, ou Ikarow Ilustrador, como é conhecido no mundo geek, nasceu na capital do país, em Brasília. Ele contou que a arte de desenhar o acompanha desde sempre e que antes mesmo de falar suas primeiras palavras, já rabiscava folhas de papeis com lápis de cores. O nome de trabalho (Ikarow) descende de uma lenda grega onde o personagem tenta alcançar o sol voando sob asas de cera, mas acaba morrendo afogado no mar ao ter o par de asas derretidas pelo calor da grande estrela
.
“Antes de eu falar eu já desenhava, a diferença é que as pessoas param de desenhar quando crescem, e eu continuei. Sempre me interessei por desenhar e ler quadrinhos pois sou fascinado por essa forma de comunicação. Acredito que os quadrinhos são uma incrível forma de transferir conhecimento, pois trabalha o cérebro não só lendo o texto, mas também decifrando imagens”, revelou o artista.

Como nos quadrinhos de super-heróis, Ikarow também divide a vida entre duas personalidades. Além de ilustrador, o desenhista atua como analista de projetos – profissão na qual se qualificou profissionalmente. Já a aptidão com o papel e as cores é mais natural do que parece, pois é como autodidata, que o também roteirista desenvolve suas produções.

“Todo o meu trabalho é autodidata. Sou ilustrador, roteirista, quadrinhista e colorista. Tenho pouco tempo livre porque viajo com frequência, então precisava arranjar uma solução para continuar produzindo mesmo quando estivesse em viagens. Por isso hoje eu faço o esboço de todas as minhas artes e depois aplico as cores digitalmente, direto no Ipad”, esclarece Ikarow.

A paixão pelo folclore amazônico
“Nosso folclore nos une como nação bem mais do que a bandeira do Brasil”, destaca o desenhista.

O folclore brasileiro é como uma verdadeira mina de ouro que poucos garimpeiros ainda exploram. Apaixonado por mitologias, o artista destaca que sempre teve facilidade em encontrar informações sobre a cultura grega, egípcia, nórdica, entre outras, mas se incomodava com a falta de material para leitura sobre as histórias folclóricas do próprio Brasil.

“Eu sou apaixonado pela mitologia brasileira, e a fonte dessas histórias começa aí na Amazônia, todos os mitos vem da floresta como a Mãe d’Água, o Saci, o Mapinguari, Jurupari. A Amazônia é a mãe da mitologia brasileira e você percebe isso quando viaja para essa região e enxerga de perto como essas pessoas convivem com essa misticidade de forma saudável, fazendo dessas lendas sua identidade cultural e dando extremo valor a isso”, esclareceu o artista.
Foi a partir desse processo de autoconhecimento cultural que Ikarow começou a desenvolver um universo de personagens da cultura brasileira. Quem eram os Deuses cultuados aqui antes da invasão dos europeus? Quem eram os povos que habitavam aqui? Como eram suas relações como o sagrado e com o profano? Essas são algumas das perguntas que o quadrinhista se fez ao assumir a responsabilidade de levar ao mundo a identidade folclórica da Amazônia.

“Para escrever a ‘Rio Negro’ fui buscar referências em livros muito difíceis de encontrar, alguns nem existem mais, e graças a Deus a internet me ajudou muito por meio de resgates em PDF. Também estudei pesquisas acadêmicas, onde cientistas recolheram relatos de indígenas que contam sobre essas lendas ainda em suas línguas nativas. Ainda é tímido, mas existe um movimento de resgate da cultura brasileira, trabalhando e pesquisando muito”, disse o analista de projetos.

Rio Negro HQ
Foi dos anseios de quem buscava se orgulhar por sua própria identidade cultural que nasceu a série em quadrinhos Rio Negro HQ. Disponível por enquanto apenas em edição virtual, o conto dialoga sobre a existência de seres aquáticos ainda desconhecidos nas águas região amazônica. Ikarow revelou que a inspiração para o roteiro surgiu após uma conversa entre ele e uma pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas do Amazonas (Inpa).

“Rio Negro é uma série em HQ e que já conta com 2 edições. Ela é inspirada na mitologia de vários personagens do folclore brasileiro. A ideia inicial era fazer uma história curta, mas o conteúdo é tão rico que decidi fazer uma série”, explica o artista que ainda completou: “Em 1997 uma cientista do Inpa pesquisava camarões na base do rio negro, mas acabou achando um peixe diferente de tudo que ela já tinha visto. Ao recolher o animal e levá-lo para o laboratório foi descoberto que ele não era uma espécie catalogada e que o instituto não descobria uma nova espécie nos rios da Amazônia há pelo menos 150 anos. Pesquisadores voltaram ao local e procuram outro peixe igual aquele por 4 anos, mas nunca o acharam novamente”.

Atualmente a ‘Rio Negro’ já soma duas edições, e sob a mesma ótica Ikarow também lançou mais um HQ virtual intitulado ‘Monstro’, onde a lenda amazônica do Mapinguari é contada. Agora o ilustrador trabalha no nascimento de mais uma obra, dessa vez o conto ‘A Bruxa’ deve trazer aos leitores a lenda da Cuca, personagem metade jacaré e metade bruxa, criada pelo escritor brasileiro Monteiro Lobato.

Mais informações sobre o trabalho de Ikarow Ilustrador podem ser encontradas por meio das redes sociais do artista, que levam o seu nome.
Edição: Bruna Chagas 


*Artigo publicado originalmente por João Gomes, em 06