Um grupo de alunos da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Erechim, traduziu para a língua kaingang um livro paradidático no formato de história em quadrinhos. A iniciativa partiu de acadêmicos do curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências da Natureza. A obra original é de autoria de Cherlei Coan, Dionei Rua dos Santos, Lisandra Almeida Lisovski e Vanderléia Dartora, e a tradução para o kaingang foi lançada no início do mês.
O trabalho dos acadêmicos é fruto de um projeto maior, resultado de uma proposta submetida a um edital da Capes e da Agência Nacional das Águas (ANA), coordenado pela professora Sinara München. O projeto incentiva a articulação do tema da água para o ensino de Ciências da Natureza em espaços do campo e da cidade. A história em quadrinhos que os acadêmicos traduziram tem como enredo a proteção de recursos hídricos.
Professora na UFFS e uma das autoras do livro, Cherlei Coan diz que a necessidade de as escolas trabalharem com esta temática foi observada pelos próprios universitários, a partir de diferentes atividades nas comunidades indígenas em que os acadêmicos vivem. “Identificamos sérios problemas de falta de água, de uso de água não tratada. Daí veio a ideia de um livro sobre o tema”, conta.
A história se passa em uma escola do campo que também atende estudantes indígenas, e traz uma reflexão sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos, a Lei das Águas e o papel dos Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas – em especial, o Comitê da Bacia Apuaê-Inhandava, que atua na nossa região e a importância da gestão compartilhada deste recurso. Os personagens passeiam pelo Rio Dourado abordando diversos temas, por exemplo, os diferentes usos do espaço ao longo do rio.
Os tradutores são licenciandos que já atuam como professores. “Muitos deles ministram a disciplina de Kaingang. Em um processo de luta dos povos indígenas, foi conquistada a garantia da inclusão do ensino da língua materna no currículo das escolas indígenas”, destaca ainda a professora da UFFS.
“Há uma escassez de material traduzido para ser trabalhado nas escolas. A tradução é difícil, pois existem muitos dialetos em diferentes comunidades kaingangs, e nem todas as palavras têm tradução. Houve também um grande esforço por parte de um grupo de docentes e o livro passou por revisões em comitês de leitura presenciais até ser finalizado”, conta Cherlei. “Por fim, a importância desse trabalho também se dá ao destacarmos os nossos acadêmicos indígenas kaingang do curso de Educação do Campo, contribuindo para a valorização de sua identidade cultural”, destaca Cherlei Coan.
(*) Com informações daUniversidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Erechim.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SUL21
Um comentário:
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