sábado, 26 de novembro de 2011

FC e carnaval

O universo Intempol é criação do escritor, designer gráfico e professor Octavio Aragão. A ideia brotou no conto Eu Matei Paolo Rossi, publicado em 1998, na antologia Outras Copas, Outros Mundos. Ali, Octavio já misturava ficção científica com futebol, apresentando uma polícia temporal com um jeitinho bem brasileiro de agir.
De lá pra cá, o universo Intempol apareceu em contos, numa webcomic, numa graphic novel e em jogos de RPG, mas Octavio ainda não havia conseguido produzir uma HQ de sua autoria. A “maldição” foi quebrada quando, em parceria com o desenhista capixaba Manoel Ricardo, Octavio produziu o álbum Para tudo se acabar na quarta-feira (Editora Draco, 64 páginas, P&B, R$ 24,90), baseado em seu conto homônimo.
Com um plot inovador, Octavio presta homenagem a Will Eisner e Edgard Allan Poe, num prólogo (ou seria “comissão de frente”?) bem sacado – apresentando o Comissário Valadão, o “Ectoplasma” e o quadrinista Wilson (lembram de William Wilson e seu sósia?) –, que se completa no epílogo (numa metanarrativa perfeita), no qual ele brinca com três ícones da literatura fantástica e também faz menção a outra dupla famosa dos quadrinhos: Comissário Gordon e Batman.
A trama principal (que aparentemente não tem ligação com o prólogo ou o epílogo, uma espécie de “paradinha” executada com maestria) foca no traficante Guilherme Matheus Renhe, que durante o carnaval vai acertar contas com o dono do morro, Dedé Cascadura, a respeito de um x-9 que o mesmo havia infiltrado em seu bando. Prestes a mostrar quem mandava mesmo no morro, Guilherme é abordado por Payne, um agente da Intempol. Esse revela que o nome de Guilherme é Mateorecne e lhe conta a verdade sobre sua história e seu treinamento. Guilherme fica atônito, mas não dá bola pra Payne. Segue com seu pessoal pra Sapucaí, esperando ver sua garota, Joana, desfilando.
O samba-enredo na boca do povo, todos se divertindo, até um tiro fatal ser disparado. Guilherme tenta descobrir de onde veio o tiro. Encontra dois homens (outras referências literárias, mas não necessariamente de FC) que informam a fuga do assassino. Sem entender aquilo tudo, Guilherme contata Payne. Payne dá uma pequena mostra dos poderes da Intempol e explica a forma de agir sui generis dessa agência (excelente teoria sobre a sobrevivência do Cro-Magnon em detrimento do Homem de Neanderthal). Caberá a Guilherme ser um agente legal ou um completo FDP. Ele sabe que o tempo premiará a melhor estratégia.
A quem está tomando o primeiro contato com a Intempol, Para tudo se acabar na quarta-feira é um excelente cartão de visitas. Na HQ, o leitor fica sabendo que a Intempol se utiliza de universos criados pelas mentes mais prolíficas da literatura e da arte sequencial, e uma das missões dos agentes é matar os próprios escritores (ou não).
E a arte de Manoel Ricardo reflete a premissa de Octavio. Ao misturar o estilo mangá com a linha clara, alterna aspectos realistas e fantasiosos, com espaço para alguns exageros gore e muita ação.
Octavio e Manoel comprovam que a ficção científica dá samba. Seus personagens fazem bonito na avenida, e em todos os quesitos ganham nota 10.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO GHQ

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