Contextualização brasileira
Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
Muito mais do que ler histórias em quadrinhos, Paulo Ramos as digere, estuda, analisa e compartilha suas observações com o mundo. Morador de São Caetano, o professor universitário e integrante do Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP é responsável pelo Blog dos Quadrinhos (www.blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br), uma das páginas mais respeitadas do gênero. On-line desde 2006, o endereço conta com centenas de reportagens e resenhas que agora deixam a internet e, reunidas, formam o livro Revolução do Gibi - A Nova Cara dos Quadrinhos no Brasil (Devir Livraria, 520 páginas, R$ 45 em média).
"Inicialmente relutei (em fazer a coletânea). Se as informações estavam na internet, para que reuní-las em livro? O contra-argumento me convenceu: havia a necessidade de organizar tematicamente todas aquelas informações, de modo a produzir um registro inédito sobre esse momento peculiar pelo qual os quadrinhos passam hoje no Brasil", diz Ramos. "A maior dificuldade foi a preparação do livro em si. Precisei reler todas as matérias e resenhas do blog, selecionar quais entrariam na obra, dividir por temas. Depois, cortar as redundâncias, padronizar os textos, selecionar imagens e atualizar as informações uma a uma."
Prometido pela editora para março do ano passado, o trabalho não ficou parado e o autor continuou a acrescentar dados de 2011. Não ficaram de fora da publicação a retomada da importância das revistas de super-heróis ao mercado (incluindo aqui o lançamento mensal das aventuras do Lanterna Verde, da DC Comics, com ilustrações de Ivan Reis, de São Bernardo), o fenômeno dos mangás, a reinvenção editorial do veterano Mauricio de Sousa e o aumento das produções independentes.
Além do conteúdo das publicações, as análises trazem à tona como as modificações do mercado tiveram influência direta nesta revolução. "Uma das mudanças em relação ao passado é que antes havia maiores tiragens, um número menor de editoras, a produção era feita quase toda no formato revista e os produtos eram vendidos nas bancas. Hoje, há tiragens menores, mais editoras, divisão das obras nos formatos revista e livro e uma diversificação de pontos de venda", explica o professor.
Outro ponto de destaque no livro é o fomento a trabalhos viabilizados por meio de incentivos públicos. O papel do ProAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, surge como destaque entre as opções do mercado. Um dos pioneiros a utilizar esse meio é o cartunista Gilmar, do Diário, que lançou o álbum Caroço no Angu em abril de 2009.
Mas, afinal de contas, vivemos hoje o melhor período do quadrinho nacional? Segundo Ramos, "em termos de tiragem, não. Em relação à diversificação de temas, produções e autores, entendo que sim".
PUBLICADO NO DIÁRIO DO GRANDE ABC
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