sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Mestre dos quadrinhos, agora, documentado

Por:

Luís Felipe Soares

Acostumado a criar cartuns e histórias em quadrinhos, Márcio Baraldi deixou o desenho de lado para utilizar o audiovisual como ferramenta para prestar homenagem a um dos nomes que mais influenciaram os rumos de sua carreira. O agora diretor aborda a vida e a obra do desenhista argentino Rodolfo Zalla no documentário  'Ao Mestre Com Carinho'. Além de celebrar o homenageado, a produção independente tem papel de reverência à geração que marcou a história da HQ brasileira entre os anos 1960 e 1970.

Natural de Santo André, Baraldi aprendeu a gostar do universo dos quadrinhos justamente por acompanhar os trabalhos desses profissionais capitaneados por Zalla. "Cresci lendo as histórias dele (Zalla) e de toda essa galera. Era diferente das revistas norte-americanas e distante do que eu via no Brasil. A então produção nacional animou os leitores e, sem saber, me transmitiu a atitude rebelde que tenho hoje. Tudo me entusiasmou de tamanha maneira que hoje vivo dessa arte", explica o cartunista, ressaltando nomes em destaque na época, casos de Jayme Cortez, Primaggio Mantovi e do italiano radicado em Santo André Eugenio Colonnese (1929-2008).

A ideia original do andreense era realizar um documentário sobre todo esse grupo, mas a morte de alguns integrantes o forçaram a optar pelo foco em torno do argentino. O filme custa R$ 15 e está à venda na loja virtual da Comix Book Shop (www.comix.com.br). A dupla estará promovendo o documentário na 19ª edição da feira de quadrinhos Fest Comix, que ocorre entre sexta e domingo no Centro de Eventos São Luís (Rua Luis Coelho, 323), em São Paulo.

RICO CONTEÚDOCom 72 minutos de duração, 'Ao Mestre Com Carinho' é uma grande conversa na qual o entrevistado revisa toda sua jornada. A astuta capacidade de abrasileirar com qualidade os grandes personagens de décadas passadas, caso do Tarzan com a criação do herói local Targo, foi uma das principais características do homenageado. Em sua carreira, o argentino também chamou a atenção dos leitores ao ilustrar revistas voltadas a um universo mais macabro, entre elas a 'Mestres do Terror'. "Sou apenas um cara que gosta de desenhar quadrinhos e que levou uma vida interessante até agora", analisa Zalla no filme. Segundo Baraldi, o grande desafio foi acertar a edição. "Deixei só o filé para o público."

Destaque para a sessão de extras. "Um grande furo são as capas inéditas do Escorpião. Duas delas tiveram de ser destruídas por conta de acordo envolvendo outra editora devido a semelhança do uniforme do herói com o do Fantasma. Graças a Deus, o Zalla guardou uma cópia de cada", comemora o diretor.

Baraldi planeja novos documentários sobre seus desenhistas preferidos. Julio Shimamoto e Colonnese são alguns que estão em sua mira. "O que eu peguei de toda essa geração foi a ideologia, a coragem de brigar pelo quadrinho brasileiro. O pessoal atual está muito colonizado. O sentimento nacionalista está morrendo com esses caras e é o tipo de legado que não podemos esquecer.

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO DIÁRIO DO GRANDE ABC

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