quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Crianças e jovens não estão trocando quadrinhos por tecnologia.


Às vésperas de mais uma premiação do Troféu HQMIX – no qual desenhistas profissionais de todo o país votam nos melhores do ano que passou -, entre mais de mil lançamentos de livros e revistas de HQ, podemos dizer que nunca houve tanta efervescência no mercado de quadrinhos como hoje.

Não que estejamos vendendo muito mais do que em outras épocas. Mas há uma grande variedade de novos autores brasileiros que estão ganhando mercado rapidamente.

E não é para menos: temos cerca de 18,3 milhões de leitores de quadrinhos ativos (Ibope-Instituto Pró Livro – 2012). Além disso, há muitas pessoas que não leem quadrinhos hoje, mas já leram em algum dia, e podem ser resgatados com essa nova produção para adultos que desponta nesse momento.

Então não dá para ficar sem uma boa análise do que os quadrinhos representam para a cultura e para a indústria cultural brasileira. É um público maior que o de cinema ou teatro, por exemplo. Estranho que pouco se fala disso, mas somos um grande mercado em termos mundiais.

Enquanto um Homem Aranha vende até 300 mil exemplares nos EUA, aqui temos a Turma da Mônica Jovem com picos de venda de mais de 500 mil exemplares. Um sucesso desses não acontecia há mais de 30 anos no Brasil. Essa conquista de leitores em plena era dos games, celulares e equipamentos eletrônicos – que poderiam, em tese, roubar o lazer da leitura -, vale ouro para a educação.

Para quem acha que as crianças e os jovens estão abandonando a leitura de quadrinhos por essas novas tecnologias, há um exemplo evidente. O Japão, que é o país onde há mais equipamentos eletrônicos no mundo, é justamente onde mais se vende HQs (mangá) no planeta. Uma revista apenas, a “Shonen Jump”, tem tiragens de dois milhões de exemplares por semana. E se analisarem o porquê desse interesse em leitura impressa por lá, verão que as crianças, já aos cinco anos de idade, querem se alfabetizar para ler os quadrinhos.

Isso não acontece nos EUA ou na Europa, onde os gibis infantis (primeira infância) quase não existem, mas acontece no Brasil. Portanto, temos um mercado que pode crescer ao menos três vezes mais se houver um empenho de editores e autores para isso. A produção de revistas, livros e quadrinhos independentes vem crescendo nos últimos anos na mesma proporção de ótimos autores.
A conquista de leitores em plena era dos games, celulares e equipamentos eletrônicos vale ouro para a educação Gualberto Costa e José Alberto Lovetro, sobre o mercado de quadrinhos no país
Mais um exemplo da boa fase das HQs no país é o reforço do ProAC Quadrinhos (Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de SP), que aumentou de cinco premiações de R$ 40.000,00 para cada projeto de HQ, em 2012, para 20 premiados em 2014.

Para ajudar, está em trâmite no Congresso o Projeto de Lei nº 6060/2009, do deputado Vicentinho (PT-SP), que estabelece mecanismos de incentivo para a produção, publicação e distribuição de revistas em quadrinhos nacionais. Essa lei poderá ser sancionada ainda em 2015.
É importante porque o material estrangeiro que chega ao Brasil para ser publicado vem a preços baixos porque já está pago em seu país. Com isso, os desenhistas brasileiros não conseguem competir de igual para igual com essa importação.

Mesmo que o artista nacional faça também um preço baixo por seu material, o editor evitará lançar novos personagens brasileiros porque há um investimento de marketing que ele não tem com o produto estrangeiro.

Não se deve evitar publicar quadrinhos vindos de outros países, já que a diversidade cultural deve ser preservada. Mas que haja melhores condições para que outros grandes artistas nacionais como Ziraldo, Mauricio de Sousa, Henfil, Angeli, Laerte, entre tantos outros, despontem de nosso país para o mundo. Qualidade para isso temos de sobra.

Gualberto Costa – 59 anos, é presidente do Instituto Memorial das Artes Gráficas do Brasil
José Alberto Lovetro – 58 anos, é presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil

Texto retirado do Zine Brasil

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