Às vésperas de mais uma premiação do
Troféu HQMIX – no qual desenhistas profissionais de todo o país votam
nos melhores do ano que passou -, entre mais de mil lançamentos de
livros e revistas de HQ, podemos dizer que nunca houve tanta
efervescência no mercado de quadrinhos como hoje.
E não é para menos: temos cerca de 18,3 milhões de leitores de quadrinhos ativos (Ibope-Instituto Pró Livro
– 2012). Além disso, há muitas pessoas que não leem quadrinhos hoje,
mas já leram em algum dia, e podem ser resgatados com essa nova produção
para adultos que desponta nesse momento.
Então não dá para ficar sem uma boa
análise do que os quadrinhos representam para a cultura e para a
indústria cultural brasileira. É um público maior que o de cinema ou
teatro, por exemplo. Estranho que pouco se fala disso, mas somos um
grande mercado em termos mundiais.
Enquanto um Homem Aranha vende até 300 mil exemplares nos EUA, aqui temos a Turma da Mônica Jovem com picos de venda
de mais de 500 mil exemplares. Um sucesso desses não acontecia há mais
de 30 anos no Brasil. Essa conquista de leitores em plena era dos games,
celulares e equipamentos eletrônicos – que poderiam, em tese, roubar o lazer da leitura -, vale ouro para a educação.
Para quem acha que as crianças e os
jovens estão abandonando a leitura de quadrinhos por essas novas
tecnologias, há um exemplo evidente. O Japão, que é o país onde há mais
equipamentos eletrônicos no mundo, é justamente onde mais se vende HQs
(mangá) no planeta. Uma revista apenas, a “Shonen Jump”, tem tiragens de
dois milhões de exemplares por semana. E se analisarem o porquê desse
interesse em leitura impressa por lá, verão que as crianças, já aos
cinco anos de idade, querem se alfabetizar para ler os quadrinhos.
Isso não acontece nos EUA ou na Europa,
onde os gibis infantis (primeira infância) quase não existem, mas
acontece no Brasil. Portanto, temos um mercado que pode crescer ao menos
três vezes mais se houver um empenho de editores e autores para isso. A
produção de revistas, livros e quadrinhos independentes vem crescendo
nos últimos anos na mesma proporção de ótimos autores.
A conquista de leitores em plena era dos games, celulares e equipamentos eletrônicos vale ouro para a educação Gualberto Costa e José Alberto Lovetro, sobre o mercado de quadrinhos no país
Mais um exemplo da boa fase das HQs no
país é o reforço do ProAC Quadrinhos (Programa de Ação Cultural do
Governo do Estado de SP), que aumentou de cinco premiações de R$
40.000,00 para cada projeto de HQ, em 2012, para 20 premiados em 2014.
Para ajudar, está em trâmite no Congresso
o Projeto de Lei nº 6060/2009, do deputado Vicentinho (PT-SP), que
estabelece mecanismos de incentivo para a produção, publicação e
distribuição de revistas em quadrinhos nacionais. Essa lei poderá ser
sancionada ainda em 2015.
É importante porque o material
estrangeiro que chega ao Brasil para ser publicado vem a preços baixos
porque já está pago em seu país. Com isso, os desenhistas brasileiros
não conseguem competir de igual para igual com essa importação.
Mesmo que o artista nacional faça também
um preço baixo por seu material, o editor evitará lançar novos
personagens brasileiros porque há um investimento de marketing que ele
não tem com o produto estrangeiro.
Não se deve evitar publicar quadrinhos
vindos de outros países, já que a diversidade cultural deve ser
preservada. Mas que haja melhores condições para que outros grandes
artistas nacionais como Ziraldo, Mauricio de Sousa, Henfil, Angeli,
Laerte, entre tantos outros, despontem de nosso país para o mundo.
Qualidade para isso temos de sobra.
Gualberto Costa – 59 anos, é presidente do Instituto Memorial das Artes Gráficas do Brasil
José Alberto Lovetro – 58 anos, é presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil
Texto retirado do Zine Brasil
Texto retirado do Zine Brasil
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