terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Aprendendo com os quadrinhos

por
Inaldo da Paixão Santos Araújo





Certo dia, escrevi que muito aprendi e aprendo com as histórias em quadrinhos. Apesar de ser um entusiasta por mudanças e em nelas acreditar, não mudei o meu pensar. Como já confessei alhures, se hoje sou um apaixonado pelos livros, o meu encantar teve como mote principal a arte dos quadrinhos. Saudades (sempre!) das primeiras leituras de Mickey Mouse e dos geniais heróis, da Marvel e da DC Comics.
Muitos desconhecem a essência dos quadrinhos e até os banalizam. O fato é que eles são importantes no processo de aprendizagem, e isso não deve, nem pode, ser desconsiderado.
Entendo que a história em quadrinhos representa a junção de duas artes: o desenho e a escrita. E não podemos esquecer: é a arte que nos aproxima do divino.
Desse modo, a leitura visual é um fator que motiva e desperta o interesse para a leitura, de forma criativa, lúdica e prazerosa, ampliando o potencial de comunicação e conhecimento, até mesmo para os pequenos que não sabem “ler” (no sentido convencional do verbo).
Assim sendo, gosto, sempre que possível, de utilizar essa figura que encanta como um veículo que transmite bons exemplos, promovendo, igualmente, o ensino de bons valores e de bons hábitos.
Utilizar o quadrinho para o ensino torna a apreensão do conhecimento algo muito mais descomplicado, pois o estudo se torna uma enorme brincadeira. E afinal, quem não gosta de aprender brincando?
Não é à toa que o dizer atribuído a Platão assim informa: “Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa”.
Mas voltando ao tema dos personagens dos quadrinhos, há muito deixei de ler os almanaques da Disney. Muito tempo faz que não lia o universo dos super-heróis. Não consegui acompanhar suas constantes alterações, seus estranhos mundos, suas mudanças de uniformes e suas mortes e ressurreições.
Para os não iniciados, explico a quais heróis me refiro: da editora DC Comics, o Batman e o Super-Homem; já os da editora Marvel, o Homem de Ferro, o incrível Hulk, o Thor, o Capitão América e o impressionante Homem-Aranha.
Faz algum tempo, ao passar em uma banca de revistas, em um centro comercial da cidade (alguém já percebeu que na orla de Salvador não existem bancas de jornais? Aliás, o que existe mesmo naquilo que nós soteropolitanos denominamos de orla?), chamou minha atenção uma nova publicação do Homem Morcego.
Como era o número um, resolvi comprar e voltar ao passado, ou tentar entender o presente.
Fui duplamente agraciado. Primeiro, ao ler a revista, lembrei-me das minhas leituras às tardes, no bairro de Itapuã, local onde passava o verão e não via o tempo passar. Hoje, como já escrevi, não passo – nem posso passar – na praia de Itapuã.
Naqueles tempos, como era difícil conseguir dinheiro com o velho Paixão para comprar um exemplar para minha pequena coleção de gibis! (um dia, ainda confesso meus pecados). Mas hoje o que me falta é, cada vez mais, tempo para ler.
O segundo motivo para o meu contentar foi o discurso proferido por Bruce Wayne (o Batman) sobre o dia de amanhã, nas primeiras páginas da revista, na história “Truque com facas”, com roteiro de Scott Snyder.
Nele, o milionário Bruce Wayne, ao defender propostas inovadoras para a cidade de Gotham City, relata que não há sentido em se preocupar com o que se foi ou com o que se é, mas, sim, com o que se quer ser. No transcurso da sua fala, Wayne rememora um dizer de seu pai e verbaliza que “o amanhã está a um sonho de distância”.
Ao ler essa frase, muito refleti sobre a importância do sonhar e do acreditar para a transformação de uma realidade. Em outras palavras, toda realização humana depende sempre do ato de idealizar.
É, caro leitor, em face das atribulações da vida, tenho deixado de lado muitas coisas boas, simples e, paradoxalmente, importantes.
Entretanto, permita o Senhor que eu não perca a minha capacidade de ler e que, nas minhas leituras – seja de livros ou de quadrinhos –, eu continue a compreender o quanto é bom recordar, o quanto é bom viver, o quanto é bom aprender, o quanto é bom sonhar; afinal, não é o sonho que nos separa do amanhã? Contudo, o que ao mesmo tempo separa aproxima.
Além disso, não é no amanhã que, como poetizou Guilherme Arantes, “está toda a esperança por menor que pareça” e “mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar”?  
Texto original disponível em: Tribuna da Bahia

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