Assim como o Sertão, o romance Grande Sertão: veredas, obra-prima do
mineiro João Guimarães Rosa, também é o mundo, é em toda parte, é dentro
da gente, é sem lugar, é o sozinho. Uma das narrativas mais tocantes e
trabalhadas da literatura brasileira, o volume é tão amado quanto
respeitado – e, justamente por isso, considerado quase irretocável.
Recriar ou inventar em cima de um livro tão icônico parece, na melhor
das hipóteses, risco desnecessário.
Viver, no entanto, é muito perigoso, e a vida quer da gente coragem.
Dois quadrinistas gaúchos, Eloar Guazzelli e Rodrigo Rosa, aceitaram o
desafio proposto de contarem em HQ a história de Riobaldo, da guerra
entre jagunços, o amor por Diadorim e a existência do diabo. Grande
Sertão: veredas – graphic novel (Biblioteca Azul) foi publicado no final
ano passado, em uma edição caprichada e com tiragem limitada de 7 mil
exemplares. Uma versão ousada, com qualquer adaptação do clássico teria
que ser.
No volume, com 180 páginas, reduz bastante as mais de 600 do romance –
a principal dificuldade, segundo o roteirista Eloar Guazzelli.
Experiente em adaptações, ele precisou, para poder cortar com coerência,
colocar os acontecimentos em ordem cronológica, em oposição às
deliciosas idas e vindas do pensamento de Riobaldo. Não sem uma boa dose
de sofrimento, boa parte das elucubrações do personagem-narrador foram
postas de lado, assim como algumas histórias paralelas. “Eu tive que
cometer o crime de retirar coisas da obra”, define Eloar.
PUBLICADO NO: JORNAL DO COMÉRCIO
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