O ato de ensinar tem sido um desafio para os educadores brasileiros. Enfrentamos grandes dificuldades para estimular crianças e adolescentes a desenvolverem o raciocínio lógico, a interpretação e a criatividade. É comum, principalmente na rede pública de ensino, ouvir comentários ácidos de estudantes desmotivados que sugerem que estudar não faz sentido e que basta a um indivíduo saber ler, escrever e fazer contas. Interessante notar que o “saber ler, escrever e contar”, ao qual se referem, é um ato mecânico, desprovido de raciocínio e criatividade. Estamos diante de jovens e até mesmo adultos que não acreditam ser necessário pensar. Umas razões de tal posicionamento pode estar no fato de não terem sido estimulados a desenvolver um espírito crítico nem aprendido a se expressar, tanto oralmente quando através da escrita.
O que fazer então? Muitos educadores afirmam que é necessário trabalhar a leitura e a interpretação, devendo fazer parte de um processo permanente e contínuo de avaliação. O aluno deve aprender a ler e a trabalhar informações que adquire através da leitura. Acreditamos que um excelente instrumento para alcançar este objetivo seja o uso das Histórias em Quadrinhos (HQ’s) na sala de aula.
No Brasil, no início do século XX, mais precisamente no ano de 1905, surgiu a primeira publicação em quadrinhos: o Tico-Tico, criado por Renato de Castro e Manuel Bonfin e publicado pela editora S.A.O. Macho. O gibi era voltado para o público infantil e baseado nas publicações européias – notadamente francesas e inglesas. Desde o início, os criadores do Tico-Tico tiveram a preocupação em ressaltar a importância das HQ’s como instrumento de aprendizagem, apresentando sempre encartes e curiosidades que tinham por finalidade atrair a atenção das crianças para o “mundo do saber”.
Ao Tico-Tico seguiram-se outras publicações, sempre com a mesma preocupação em informar e ensinar a juventude brasileira da primeira metade do século XX. Dentre ela: A Gazeta Infantil (1929), O Mundo Infantil (1929), o Suplemento Juvenil (1934), o Mirin (1937), o Lobinho (1938), o Gibi (1939). a Gazetinha (1939). o Globo Juvenil (1941), o Sesinho (1948).
Durante a década de 1950, a Editora Brasil-América (EBAL), fundada em 1945 por Adolfo Aizen, foi uma das pioneiras na produção e edição de HQ’s dedicadas a temas históricos, investindo também nas HQ’s educativas. Atualmente, existe uma considerável produção e edição de HQ’s que remetem a temas relacionados à história, política, sociologia, saúde, meio-ambiente, etc.
As formas do emprego das HQ’s como instrumento didático dependem do tipo de estratégia que será utilizada pelo educador. Em história pode-se optar pelo uso das HQ’s como fonte de pesquisa e como meio de incentivo à pesquisa e ao raciocínio dos estudantes; pode-se incentivar a criatividade e a imaginação dos alunos desafiando-os a criarem suas próprias HQ’s, adaptadas a contextos históricos diversos; podemos, também, utilizá-las como forma de introduzir questões em avaliações ou mesmo para ilustrar temas diversos, que vão da pré-história aos dias atuais.
No entanto, alguns cuidados devem ser tomados com o uso das HQ’s nas aulas de história. O primeiro é ter em mente que uma HQ’s é uma obra de ficção que retrata as idéias do autor e o contexto do período no qual foi produzida. Portanto, pode conter lacunas uma vez que não possuem compromisso explícito em retratar a realidade.
Desde 2002 tenho introduzido nas aulas de História o uso das HQ’s e obtendo bons resultados com alunos de escolas carentes e de classe média. Inicialmente, trabalhei a análise de pequenas tirinhas, retiradas de jornais ou gibis, com alguns personagens conhecidos dos alunos, como a Turma da Mônica (Maurício de Souza), Mafalda (Quino) e a Turma do Xaxado (Antônio Cedraz), relacionando-as aos temas que eram trabalhados na sala de aula, incentivando produções de textos e a análise do conteúdo expresso nos quadrinhos.
Em um segundo momento, passei a direcionar as atividades para desenvolvimento da criatividade do aluno, levando em consideração, também, a capacidade de representação de temas históricos. Os estudantes recebiam um duplo desafio: eles tinham não apenas que organizar as idéias, como também seguir as regras (método) de criação de uma história em quadrinhos. Para atingir os objetivos era necessário criar e organizar as idéias. Era preciso disciplinar o espírito, seguir regras.
O processo de criação foi dividido e organizado da seguinte forma: criação dos personagens; criação do argumento e roteiro, que devem preceder a “arte” e orientá-la a fim de organizar e estruturar a HQ’s; a produção do desenho em si, que deve ser definido e discutido antes de finalizado; criação das letras, que não podem extrapolar o espaço delimitado em cada quadro – daí a necessidade de se organizar bem o roteiro; a escolha da arte-final e da cor.
Com alunos do Ensino Fundamental, os gibis foram produzidos em sala de aula, sob minha orientação. Eles se organizaram em duplas e aprenderam a dividir tarefas: depois de escolher o tema e definir os personagens, um deles ficava encarregado do roteiro, enquanto outro se preocupava com a arte; os dois juntos davam o retoque final no trabalho. O material utilizado é simples: papel e lápis de cor, fornecidos pela escola.
O resultado dessa experiência permanece gratificante. Os alunos produziram HQ’s criativas, com roteiros sintéticos e agradáveis. Alguns optaram por histórias contextualizadas, com personagens fictícios; outros trabalharam diálogos entre personagens anônimos que debatiam sobre o tema abordado. Eles conseguiram assimilar o conteúdo rapidamente. Alunos com baixo índice de aproveitamento em sala de aula foram capazes de transferir para o gibi assuntos complexos, como o patriarcalismo no Brasil colonial, de forma clara e objetiva.
No Ensino Médio, optei pelo trabalho extra-classe, precisamente orientado, com turmas do 1º ano, de classe média. Eles conseguiram transportar de forma criativa e, em alguns casos, surpreendente, temas como sociedades pré-históricas, Egito antigo, Grécia antiga, Idade Média e América pré-colombiana para os quadrinhos. Adaptaram a história à sua própria realidade de vida, transportando para as HQ’s muitos de seus próprios valores e concepções de mundo. Os trabalhos foram expostos em uma Feira Cultural que a escola realizou no mês de setembro passado, possibilitando o contato da comunidade com os trabalhos desenvolvidos.
O material utilizado vai variar de acordo com a realidade de cada escola. Em escolas de periferia, mais carentes de recursos, papel e lápis-de-cor, jornais, revistas e HQ’s coletadas entre a comunidade escolar são suficientes. Em escolas mais bem equipadas, as HQ’s podem ser montadas utilizando-se programas de computador criados especialmente para essa finalidade e disponíveis em sites na internet. Os estudantes podem ser apresentados à leitura HQ’s criadas especialmente para fins didáticos, nacionais ou estrangeiras, de acordo com o a capacidade de consumo da classe.
Este tipo de recurso didático é de fácil aplicação, mas é imprescindível preparar o aluno. Ele deve considerar a atividade tão importante quanto qualquer outro tipo de avaliação e deve, também, valorizar seu trabalho. O aprendizado é apenas uma das conseqüências. Estamos trabalhando a criatividade e, principalmente, a auto-estima (que vem com reconhecimento pelo esforço, tanto por parte dos colegas quanto dos professores).
O que fazer então? Muitos educadores afirmam que é necessário trabalhar a leitura e a interpretação, devendo fazer parte de um processo permanente e contínuo de avaliação. O aluno deve aprender a ler e a trabalhar informações que adquire através da leitura. Acreditamos que um excelente instrumento para alcançar este objetivo seja o uso das Histórias em Quadrinhos (HQ’s) na sala de aula.
No Brasil, no início do século XX, mais precisamente no ano de 1905, surgiu a primeira publicação em quadrinhos: o Tico-Tico, criado por Renato de Castro e Manuel Bonfin e publicado pela editora S.A.O. Macho. O gibi era voltado para o público infantil e baseado nas publicações européias – notadamente francesas e inglesas. Desde o início, os criadores do Tico-Tico tiveram a preocupação em ressaltar a importância das HQ’s como instrumento de aprendizagem, apresentando sempre encartes e curiosidades que tinham por finalidade atrair a atenção das crianças para o “mundo do saber”.
Ao Tico-Tico seguiram-se outras publicações, sempre com a mesma preocupação em informar e ensinar a juventude brasileira da primeira metade do século XX. Dentre ela: A Gazeta Infantil (1929), O Mundo Infantil (1929), o Suplemento Juvenil (1934), o Mirin (1937), o Lobinho (1938), o Gibi (1939). a Gazetinha (1939). o Globo Juvenil (1941), o Sesinho (1948).
Durante a década de 1950, a Editora Brasil-América (EBAL), fundada em 1945 por Adolfo Aizen, foi uma das pioneiras na produção e edição de HQ’s dedicadas a temas históricos, investindo também nas HQ’s educativas. Atualmente, existe uma considerável produção e edição de HQ’s que remetem a temas relacionados à história, política, sociologia, saúde, meio-ambiente, etc.
As formas do emprego das HQ’s como instrumento didático dependem do tipo de estratégia que será utilizada pelo educador. Em história pode-se optar pelo uso das HQ’s como fonte de pesquisa e como meio de incentivo à pesquisa e ao raciocínio dos estudantes; pode-se incentivar a criatividade e a imaginação dos alunos desafiando-os a criarem suas próprias HQ’s, adaptadas a contextos históricos diversos; podemos, também, utilizá-las como forma de introduzir questões em avaliações ou mesmo para ilustrar temas diversos, que vão da pré-história aos dias atuais.
No entanto, alguns cuidados devem ser tomados com o uso das HQ’s nas aulas de história. O primeiro é ter em mente que uma HQ’s é uma obra de ficção que retrata as idéias do autor e o contexto do período no qual foi produzida. Portanto, pode conter lacunas uma vez que não possuem compromisso explícito em retratar a realidade.
Desde 2002 tenho introduzido nas aulas de História o uso das HQ’s e obtendo bons resultados com alunos de escolas carentes e de classe média. Inicialmente, trabalhei a análise de pequenas tirinhas, retiradas de jornais ou gibis, com alguns personagens conhecidos dos alunos, como a Turma da Mônica (Maurício de Souza), Mafalda (Quino) e a Turma do Xaxado (Antônio Cedraz), relacionando-as aos temas que eram trabalhados na sala de aula, incentivando produções de textos e a análise do conteúdo expresso nos quadrinhos.
Em um segundo momento, passei a direcionar as atividades para desenvolvimento da criatividade do aluno, levando em consideração, também, a capacidade de representação de temas históricos. Os estudantes recebiam um duplo desafio: eles tinham não apenas que organizar as idéias, como também seguir as regras (método) de criação de uma história em quadrinhos. Para atingir os objetivos era necessário criar e organizar as idéias. Era preciso disciplinar o espírito, seguir regras.
O processo de criação foi dividido e organizado da seguinte forma: criação dos personagens; criação do argumento e roteiro, que devem preceder a “arte” e orientá-la a fim de organizar e estruturar a HQ’s; a produção do desenho em si, que deve ser definido e discutido antes de finalizado; criação das letras, que não podem extrapolar o espaço delimitado em cada quadro – daí a necessidade de se organizar bem o roteiro; a escolha da arte-final e da cor.
Com alunos do Ensino Fundamental, os gibis foram produzidos em sala de aula, sob minha orientação. Eles se organizaram em duplas e aprenderam a dividir tarefas: depois de escolher o tema e definir os personagens, um deles ficava encarregado do roteiro, enquanto outro se preocupava com a arte; os dois juntos davam o retoque final no trabalho. O material utilizado é simples: papel e lápis de cor, fornecidos pela escola.
O resultado dessa experiência permanece gratificante. Os alunos produziram HQ’s criativas, com roteiros sintéticos e agradáveis. Alguns optaram por histórias contextualizadas, com personagens fictícios; outros trabalharam diálogos entre personagens anônimos que debatiam sobre o tema abordado. Eles conseguiram assimilar o conteúdo rapidamente. Alunos com baixo índice de aproveitamento em sala de aula foram capazes de transferir para o gibi assuntos complexos, como o patriarcalismo no Brasil colonial, de forma clara e objetiva.
No Ensino Médio, optei pelo trabalho extra-classe, precisamente orientado, com turmas do 1º ano, de classe média. Eles conseguiram transportar de forma criativa e, em alguns casos, surpreendente, temas como sociedades pré-históricas, Egito antigo, Grécia antiga, Idade Média e América pré-colombiana para os quadrinhos. Adaptaram a história à sua própria realidade de vida, transportando para as HQ’s muitos de seus próprios valores e concepções de mundo. Os trabalhos foram expostos em uma Feira Cultural que a escola realizou no mês de setembro passado, possibilitando o contato da comunidade com os trabalhos desenvolvidos.
O material utilizado vai variar de acordo com a realidade de cada escola. Em escolas de periferia, mais carentes de recursos, papel e lápis-de-cor, jornais, revistas e HQ’s coletadas entre a comunidade escolar são suficientes. Em escolas mais bem equipadas, as HQ’s podem ser montadas utilizando-se programas de computador criados especialmente para essa finalidade e disponíveis em sites na internet. Os estudantes podem ser apresentados à leitura HQ’s criadas especialmente para fins didáticos, nacionais ou estrangeiras, de acordo com o a capacidade de consumo da classe.
Este tipo de recurso didático é de fácil aplicação, mas é imprescindível preparar o aluno. Ele deve considerar a atividade tão importante quanto qualquer outro tipo de avaliação e deve, também, valorizar seu trabalho. O aprendizado é apenas uma das conseqüências. Estamos trabalhando a criatividade e, principalmente, a auto-estima (que vem com reconhecimento pelo esforço, tanto por parte dos colegas quanto dos professores).
(texto integral publicado na Revista de História, n. 6, jan/2006)
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