Talvez quem vê a cena dos quadrinhos de fora tenha a impressão de que ela é muito mais masculina do que feminina. Dos principais quadrinistas, aqueles que já estão há um tempo num posto confortável (e merecido) de reconhecimento, a maioria é de homens. Por muito tempo, até a forma como as mulheres eram retratadas como personagens dava essa impressão: as figuras femininas eram sempre as gostosonas que povoavam os desejos dos heróis protagonistas, geralmente relegadas a um sub-local nas histórias. Mas aí vem o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), cuja a edição 2013 começou quarta-feira e termina hoje em Belo Horizonte, na Serraria Souza Pinto, trazendo uma série de artistas e atrações para a cidade e, entre os convidados, muitas mulheres que reiteram que, sim, quadrinhos são também para meninas – as que leem e as que produzem. Ou, como resume bem o lema do site Lady’s Comics, que se dedica a divulgar o trabalho de autoras de histórias gráficas sequênciais: “HQ não é só para seu namorado.”
Pra quem está dentro da cena, a conclusão é que, sim, mulheres sempre estiveram aí envolvidas com quadrinhos, mas, de fato, acabaram ficando mais escondidas, o que tem deixado de acontecer nos últimos anos. “Não tenho essa imagem, que me parece que é bem recorrente, de um portão fechado onde ficavam milhares de mulheres que queriam fazer quadrinhos esperando uma aberturinha para passar. Acho que a entrada é uma ponte, e tem mais mulheres se interessando em ir ver o que tem do outro lado”, comenta Julia Bax, ilustradora, quadrinista e uma das convidadas do FIQ deste ano – ela lançou na quarta-feira a HQ “Remy”, em conjunto com Diego Barcito, que assina o texto.
A gaúcha Cris Peter, que já assinou trabalhos para duas das maiores editoras do mundo, a Marvel e a DC Comics, concorda que, finalmente, presta-se mais atenção às quadrinistas. “Só recentemente realmente percebi o quanto os quadrinhos são focados no público masculino, e como continua sendo assim por puro vício. As mulheres nos quadrinhos não estão surgindo Agora. Elas estão aí há anos, acontece que só agora percebemos que ‘hey! Nós existimos’. Cada vez mais percebemos como somos numerosas, estamos nos encontrando online e finalmente batalhando pelo nosso espaço. Queremos mostrar que é uma burrice mercadológica continuar publicando quadrinhos com único foco no público masculino. Existe maneira de contarmos histórias universais, que agradem a todos!”, afirma.
Para Mariamma Fonseca, uma das editoras do site especializado Lady’s Comics, as novas formas de publicação – internet, webcomics, crowdfunding etc – permitem mais oportunidades de circulação para quem foge do padrão que as editoras estabeleceram – e isso, claro, inclui as quadrinistas. “O espaço sempre existiu, mas as mulheres geralmente fazem quadrinhos mais independentes, que não interessam às editoras mais comerciais. Com esses meios, descobrimos que são muitas as mulheres nessa área, produzindo histórias de diversos estilos”, comenta.
O FIQ, que termina hoje, carrega a bela marca de ter trazido entre os convidados principais nomes como Chantal, Lu Cafaggi, Cristina Eiko, Erica Awano, Becky Cloonan e Sonia Luyte, além de Petra Leão, Cris Peter e as próprias meninas do Lady’s Comics – além de Mariamma, fazem o site Samanta Coan e Samara Horta –, que fizeram mediações em diversas mesas. E pegando carona no clima de igualdade de gêneros, o Magazine deixa aqui, nesta página, sugestões dos quadrinhos delas que merecem ser vistos por todos. Boa leitura!
O mapa das minas
Conheça os trabalhos de algumas das autoras que marcaram presença no FIQ 2013:
CHANTAL
CRISTINA EIKO
ERICA AWANOwww.ericaawano.tumblr.com
JULIA BAX
LU CAFAGGI
PETRA LEÃO
BECKY CLOONAN
CRIS PETER
Retirado do O Tempo Magazine
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