Comfort women é um termo utilizado
para designar as mulheres que, durante a Segunda Guerra Mundial, foram forçadas
à escravidão sexual em bordéis criados pelo exército japonês. Esse sistema de
exploração sexual baseado na criação de “estações ou casas de conforto” vitimou
centenas de milhares de mulheres que ainda aguardam a reparação pelos
danos físicos e psicológicos deixados pela experiência.
O sistema de comfort women teve
origem na prática institucionalizada pelo Estado japonês de enviar mulheres
jovens ao estrangeiro como escravas sexuais. País profundamente patriarcal, o
Japão tratava as mulheres como uma mercadoria. Durante a Segunda Guerra
Mundial, o Japão impôs essa realidade às suas colônias, criando o sistema
de comfort women para atender às necessidades de seus soldados.
Foram criadas cerca de 400 “estações de
conforto”, espalhadas pela China, Filipinas, Taiwan, Cingapura, Indonésia,
Birmânia, Tailândia e Vietnã, sempre próximas às bases militares. Estima-se que
cerca de 80 a 200 mil mulheres foram forçadas a prestar serviços sexuais a
soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, sendo que apenas 30% delas
sobreviveram. O maior número de mulheres era de origem coreana, cerca de 80%
delas.[1]
Grama nos coloca
dentro das memórias de uma das sobreviventes, a vovó Ok-sun Lee. É,
portanto, é um quadrinho biográfico e, ao mesmo tempo, uma reportagem em
quadrinhos ou jornalismo em quadrinhos que dá voz àquelas mulheres que foram
esquecidas ou silenciadas pela história.
Em respeito às vítimas e suas famílias, Keum Suk
Gendry-Kim teve especial cuidado com as cenas que envolviam violência. Segundo
autora, por ser mulher, consegue se colocar melhor no lugar das sobreviventes e
sensibilizar com sua dor de uma forma que um homem não conseguiria. “Precisamente por ser
mulher, provavelmente estou melhor posicionada, em relação aos artistas
masculinos, para compreendê-las. Prestei atenção especialmente às cenas de
estupro para não mostrá-las diretamente nas imagens.”[2]
Ao contrário da
Alemanha, que, após a Segunda Guerra Mundial, assumiu a responsabilidade pelos
crimes cometidos contra a humanidade, o Japão não apenas negou a existência das
“estações de conforto” como também destruiu provas da sua existência. Além
disso, o sistema não foi encerrado após a guerra. Durante a ocupação
estadunidense, ele continuou funcionando, atendendo agora aos soldados dos
Estados Unidos. Estima-se que, após a guerra, cerca de 70.000 mulheres foram
escravizadas para atender a 350.000 soldados durante a ocupação do Japão.[3]
A busca pelo
reconhecimento dos crimes e por reparação tem sido a luta das sobreviventes e
suas famílias desde a década de 1990, quando surgiram as primeiras
denúncias. A sociedade mobilizou-se, tanto na Coreia quanto em
outros países, nos quais as mulheres também foram vítimas da escravidão sexual
durante e depois da Segunda Guerra, incluindo o próprio Japão. “Grama” e outras
obras que abordam o tema cumprem o papel de reivindicar esse “dever de memória”
e ser o lugar de fala dessas mulheres que, por quase 50 anos, permaneceram
resignadas e silenciadas em seus sofrimentos, mas que agora estão tendo-os
registrados nos anais da história.
A luta das comfort women tornou-se
a luta de todas as mulheres contra a exploração sexual e o machismo, que as
sufocam e oprimem em todo mundo, não apenas no Leste Asiático. “Grama” fala com
essas mulheres a partir da linguagem universal da justiça, da reivindicação de
uma memória, mesmo que dolorosa, dando nome e identidade a mulheres que foram
por décadas silenciadas.
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Bibliografia consultada:
[1] OKAMOTO,
Julia Yuri. As “mulheres de conforto” da Guerra do Pacífico. Revista
de Iniciação Científica em Relações Internacionais, João Pessoa, v. 1, n.
1, 2013. p. 92-93. Disponível em:
<https://periodicos.ufpb.br/index.php/ricri/article/view/17698/10136>.
Acesso em: 12 out. 2020.
[2] NOGUEIRA,
Natania Aparecida da Silva. Entretien avec l'artiste de bande dessinée. Entrevista
com Keum Suk Gendry-Kim. Mensagem
recebida por: <natania.nogueira2010@gmail.com> em 30 set. 2020.
[3] RAYMOND, Janice. 70 anos
depois, um novo sistema de “mulheres de conforto”. Medium.
Feminismo com classe. Disponível em: < https://cutt.ly/ngk6PKO >. Acesso
em: 28 set. 2020.
Um comentário:
Sim,pfvr achei interessante
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