sexta-feira, 30 de março de 2007

Mais duas hqs educativas foram lançadas


Esta semana mais duas hqs com objetivos educacionais foram lançadas nos últimos dias. "Está nas bancas uma nova edição do gibi Você Sabia? Sítio do Picapau Amarelo. O tema da vez é o descobrimento do Brasil. A revista, que pode ser usada em salas de aula como auxílio ao aprendizado das crianças, apresenta neste número as aventuras da Turma do Sítio acompanhando Pedro Álvares Cabral na viagem até a descoberta do Brasil e presenciando muitos outros fatos históricos, como os primeiros contatos com os índios, a exploração das riquezas naturais do País e muito mais. Curiosidades e passatempos relacionados ao tema completam esta edição (www.universohq.com.br).


Já no estado de Alagoas, a Secretaria de Educação e Esporte irá distribuir nas escolas rurais uma cartilha em quadrinhos sobre a febre aftosa, doença fatal que atinge o gado. A HQ é estrelada por Chico Bento. No gibi educativo, o personagem explica a importância dos cuidados que se deve ter com aqueles animais para evitar que sejam acometidos pela doença.

terça-feira, 27 de março de 2007

I Seminário sobre quadrinhos, leitura e ensino: retificando


Está confirmada a realização do I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino que irá acontecer em Leopoldina, em de maio de 2007, patrocinado pela Secretaria Municipal de Educação, parceira da Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado. No entanto, a data prevista inicialmente para o dia 11 de maio deverá ser mudada para o dia 18 de maio, devido à possibilidade do dia 11 de maio ser transformado em feriado nacional dedicado ao primeiro sando brasileiro, Frei Galvão. O Seminário será dirigido a professores de vários níveis, que atuam nas escolas da rede municipal de Leopoldina.
Temos por objetivo analisar e debater o uso das hqs nas escolas e o incentivo à leitura, de forma geral, como caminho para se alcançar maior êxito no processo de ensino-aprendizagem. Estão sendo oferecidas 300 vagas para participar de duas rodadas de apresentações e debates que tomarão manhã e tarde do dia 11 de maio. Os trabalhos serão realizados no Auditório do Cefet - Uned/Leopoldina, que junto com o 19° Superintendência de Ensino está apoiando o evento.

Participarão das mesas especialistas como Octavio Aragão e Waldomiro Vergueiro, além de outros pesquisadores/professores que desnvolvem trabalhos com este tema. Será distribuído um certificado de participação de 8 horas. O evento será gratuito. A programação final será divulgada na segunda quinzena de abril. Os interessados podem obter informações através do e-mail de contado deste blog.

domingo, 25 de março de 2007

O Menino Caranguejo


O Universo Hq anunciou esta semana o nascimento de mais uma hq brasileira: o Menino Caranguejo. O personagem é um defensor do da natureza. Ele não é exatamente um estreante. Conquistou o segundo lugar pelo júri popular no festival Animamundiweb de 2004 em São Paulo e no Rio de Janeiro. Agora, com apoio da Fundação Cultural de Joinville e com do Departamento e Escritório de Design da Univille, ganhou sua própria revista que apresenta o princípio de uma série de quadrinhos envolvendo situações cotidianas com ingredientes diversos como mistério, suspense, romance e troca de valores em respeito ao meio ambiente com a interação social. Nosso herói é um ex-caçador de caranguejos, menino humilde que estudou em escola pública e que agora defende a natureza contra seus agressores. Seus poderes são de caranguejo, claro. Trata-se de uma forma muito criativa de se divulgar principalmente entre os jovens a necessidade de preservação da natureza. O menino Caranguejo é, sem dúvida, uma aula de educação ambiental. A hq e o personagem possuem um site próprio, onde podemos ter acesso a todas as informações sobre a iniciativa e seus autores. o link é http://www.meninocaranguejo.com/. Há também um blog, dedicado ao personagem http://meninocaranguejo.com/mcaran_news/.

A Turma do Xaxado


A Turma do Xaxado é uma criação de Antônio Luiz Ramos Cedraz. Este Baiano, nascido no município de Miguel Calmon (Ba). Formou-se em professor primário em Jacobina, no interior da Bahia. Um amante dos quadrinhos, desde bem jovem, Cedraz criou vários personagens e teve seus trabalhos publicados nos principais jornais de Salvador e em outros estados brasileiros. Lançou revistas e se tornou um autor brasileiro premiado, fazendo uma hq que não apenas prima pela qualidade como também é um estimulo para educadores do país todos. Como professor, Cedraz teve a preocupação em dar usar o Xaxado como um veículo para divulgar temas folclóricos e regionais. Xaxado, o personagem principal do universo criado por Cedraz, é neto de um famoso cangaceiro que vivia com o bando de Lampião. É um menino do campo, que com muita simplicidade, desvenda o mundo ao seu redor. A Turma do Xaxado é formada por personagens tipicamente brasileiros, cada um com seu jeito próprio de falar, pensar e agir, passando pelas várias classes econômicas, graus de instrução etc.

Para entender a importância que o personagem ganhou na Bahia, basta dizer que o Universo Hq anunciou esta semana que o personagem virou tema de uma Dissertação de Mestrado, a ser defendida dia 26 de março, por Cláudio José Meneses. O tema da dissertação é “Uma história em quadrinhos: representação do sertão nordestino brasileiro em A Turma do Xaxado”. Segundo Cláudio, a pesquisa analisa as formas como as imagens e idéias associadas à região nordeste são representadas nas tiras de Antônio Cedraz, o criador da Turma do Xaxado, publicadas, originalmente, no jornal A Tarde, de Salvador, Bahia, desde 1998.

Para quem quiser conhecer todos os personagens e as publicações de Cedraz, basta ir ao site http://www.xaxado.com.br/. Lá há tirinhas, informação detalhada sobre a hq, além de fascículos á venda que podem ser muito interessantes tanto para educadores, quanto para pais que desejem oferecer uma leitura de qualidade para seus filhos.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Les Bandes dessinées


Bom, quem me conhece sabe que eu gosto muito de BD (Banda Desenhada, Histórias em Quadrinhos). Em princípio pelo cuidado que os autores e desenhistas tem em compor uma obra que comunga muito bem o roteiro com a arte. É claro, nem tudo pode ser considerado material de primeira linha, mas uma boa parte das BD que eu já li ou que já pesquisei até hoje possuem um nível muito superior às comics norte-americanas, de um modo geral. Tenho pesquisado muito sobre BD nos últimos anos e, mesmo com alguns intervalos provocados pelo excesso de trabalho, consegui coletar um bom material para servir de fonte para meu trabalho atual. Hoje no Brasil está havendo uma maior abertura para as BD. Por exemplo, no ano passado títulos como XIII, Blacksad, Corto Maltese, etc, foram (re)publicados e parece que para 2007 as perspectivas são muito boas. Mais material e mais acesso à produção de outros países. No que tange à questão das artes visuais e mesmo do ensino, eu encontrei esta semana um site muito interessante. Trata-se do Centro National de la Bande Dessinée et de l'Image. Um site destinado a tratar de temas ligados à imagem e que possui, inclusive algumas sugestões de trabalho. Está em Francês. Para quem não domina o idioma, mas tem interesse pelo assunto, sugiro o uso de tradutores on line. É uma oportunidade de ver como os quadrinhos são tratados com seriedade lá fora e, quem sabe, aumentar o interesse por esta mídia.
ORIGINALMENTE PUBLICADO EM http://www.cnbdi.fr/

Homem-Aranha ajudou a desenvolver monitoramento eletrônico


Achei o texto interessante! Bem dentro do espírito do blog, onde quadrinhos podem ser usados com criatividade para melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem, assim como para servir de estimulo na vida real (no trabalho, em casa e na escola).
Homem-Aranha ajudou a desenvolver monitoramento eletrônico na vida real
Juiz do Novo México se inspirou no gibi para vigiar prosioneiros
Por Erico de Assis

Heróis e vilões dos gibis cumpriram sua função e ensinaram ao mundo real algumas maneiras interessantes de manter a lei e a ordem. A revista estadunidense Esquire lembrou na sua última edição um fato interessante: uma revista do Homem-Aranha inspirou um juiz dos EUA a desenvolver o monitoramento eletrônico de prisioneiros - aqueles aparelhos, geralmente presos no tornozelo, que avisam às autoridades se um mau elemento deixou o perímetro em que devia estar, seja sua casa (em casos de prisão domiciliar) ou as prisões.

Numa edição de Amazing Spider-Man de 1977, o Rei do Crime prende um bracelete no Aranha para monitorar seus passos por Nova York. Um juiz do Estado do Novo Mexico, Jack Love, leu o gibi, achou a idéia interessante e levou-a para um amigo técnico em eletrônica e informática, Mike Gross. Cinco anos depois, Gross e Love estavam testando a invenção. Em 1983, cinco elementos perigosos de Albuquerque, a maior cidade do estado, já estavam sendo monitorados eletronicamente.

Na verdade, não foram os roteiristas do Aranha os responsáveis pela idéia do aparelho - a tecnologia vinha sendo estudada nos EUA pelo menos desde a Primeira Guerra Mundial. Mas foi o estímulo do gibi que levou o sistema a ser desenvolvido para aquele fim.

Fonte: Omelete

domingo, 18 de março de 2007

Novos personagens infantis pela Editora Globo


A Editora Globo irá investir em personagens infantis, para compensar o fato da Panini ter assumido a publicação da Turma da Mônica. Parece que a editora assinou um contrato com a Cultura Marcas e prevê o licenciamento para livros e revistas em quadrinhos com os personagens infantis da TV Cultura e TV Rá-Tim-Bum. Isto é ótimo para os leitores (e professores e alunos de escolas, especialmente) que terão acesso a um novo material, rico em informações e situações que poderão muito bem ser aproveitas no cotidiano escolar. A reportagem saiu no Universo HQ (http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/n16032007_02.cfm). Um exemplo do investimento em hqs infantis é o retorno do Menino Maluquinho e da Revista da Julieta (personagens do Ziraldo) e do Sítio do Pica-Pau- Amarelo, também por esta esditora.

sábado, 10 de março de 2007

Oficinas nas Bibliotecas



Em São Paulo as bibliotecas estão oferecendo oficinas de desenho para jovens e crianças. Uma ótima iniciativa, pois atrai o público para a biblioteca. Um erro muito freqüente é limitar o espaço das bibliotecas apenas à pesquisa. Ele deve ser também um espaço de lazer. Ademais, o desenho é uma das paixões dos jovens. Quem não fez seus desenhos, suas "cópias" quando era criança? Segue o link com mais informações sobre esta iniciativa. http://www.universohq.com.br/quadrinhos/2007/n06032007_08.cfm

Quadrinhos e Segunda Guerra Mundial


Encontrei um artigo muito interessante sobre a Disney na II Guerra Mundial no Universo HQ esta semana. Chama-se "Quando Patópolis foi à Guerra". O Universo HQ é um site muito interesante, que aborda assuntos relacionados a Histórias em Quadrinhos e tem textos muito bons. Sobre o texto em questão, eu o achei muito rico em detalhes e com dicas excelentes para professores de História trabalhareem este tema. Eu, partucularmente, ja estou levantando as possibilidades de abordagem do tema para este ano, nas minhas aulas. Para quem se interessar, segue o link.

http://www.universohq.com.br/quadrinhos/2007/DisneyGuerra.cfm

terça-feira, 6 de março de 2007

Doações de hqs


Bem, como não podia faltar, segue abaixo o endereço para doação de hqs.

Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado
Av. Dos Expedicionários, s/n
Bairro Bela Vista
Cep: 36.700-000 Leopoldina - MG


Aos cuidados da prof. Natania Nogueira ou da Diretora Ana Petraglia
Nosso telefone é: (32) 3694 4269

Agradecemos antecipadamente o interesse!

segunda-feira, 5 de março de 2007

Nove passos para se criar uma gibiteca escolar



1 - Conhecer seu objeto: se você não sabe nada sobre hqs, tem que se informar antes, ler, entender e aprender a gostar delas;
2 - Ter o apoio da direção e da equipe pedagógica;
3 - Motivar os colegas e mostrar que o projeto não é seu: é da escola e, conseqüentemente, deles, também;
4 - Mostrar sempre boa disposição, mesmo quando as coisas parecem estar estagnadas, isto dá mais credibilidade a você e ao projeto;
5 - Ter paciência! Muita coisa você vai ter que fazer sozinha e, por mais que ofereçam ajuda, ela tem um limite;
6 - Convide alunos e outros professores e visitarem a gibiteca enquanto ela está sendo montada. Eles irão perceber as mudanaças e irão se sentir parte delas;
7 - Ter cara-de-pau! Você tem que pedir ajuda a seus colegas de trabalho, amigos e a gente que você nunca viu na vida! Tem que levar seu projeto organismos ligados à educação e defender sua viabilidade;
8 - Vestir a camisa, acima de tudo. Se você não acredita no que está fazendo, as outras pessoas também não vão acreditar;
9 – Finalmente, nunca veja a gibiteca como se fosse sua: quando ela estiver pronta você tem que entregá-la para a escola, e vai passar a ser mais um a usufruir das possibilidades de uso que ela poderá lhe oferecer.

Um pouco mais sobre a Gibiteca da E M Judith Lintz Guedes Machado


Bom, a gibiteca está quase pronta para uso de professores e alunos, mas não foi fácil chegar até aqui. Não digo que tivemos problemas, mas todo começo é naturalmente difícil. Depois das pequenas reformas que foram deitas na sala que comporta o nosso acervo, vieram as doações de hqs. Eu comecei, doando aproximadamente 500 volumes da minha coleção particular. Em seguida, comecei a pedir doações nas listas de hqs das quais participo e recebi, com muita alegria, a primeira grande doação: A PIXEL nos enviou vários álbuns, de grande qualidade. Em seguida, Waldomiro Vergueiro nos presenteou com vários volumes repetidos da gibiteca da USP.

Motivados e entusiasmados com a idéia, professores e até alunos meus de outra escola enviaram hqs. Recebi, também, generosas doações de colecionadores e da Conclave, uma loja especializada de Juiz de Fora e de um pessoal da ed. Abril, que deu o maior apoio a nossa iniciativa. À medida que a gibiteca está ganhando notoriedade, estamos recebendo mais doações e nosso acervo parece que vai conseguir se manter numa quantidade razoável. Tenho esperança de que possamos começar com um acervo de quase 2000 hqs.


Agora a fase final chegando, falta apenas marcar o treinamento para os professores e observar o trabalho que será relaizado. Eu tenho esta gibiteca como um laboratório onde não apenas poderei observar o trabalho dos colegas, mas desenvolver meus pequenos projetos. Mais do que tudo, vejo como uma experiência de união, colaboração e solidariedade, ultimanente tão difícil de se ter em qualquer lugar, não apenas nas escolas.

Neorama

Estamos no Neorama! Um blog amigo que está dando a maior força ao projeto!!

Seminario sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino


Estamos organizando um seminário sobre quadrinhos, leitura e ensino, para o mês de maio. Aguardem mais informações.

domingo, 4 de março de 2007

Quadrinhos e educação: ensino da história com criatividade


Nos últimos anos, as Histórias em Quadrinhos têm sido utilizadas como recurso didático por muitos professores das diversas disciplinas que compõem o currículo escolar. Elas oferecem uma gama variada de possibilidades de uso pelos professores. Na sala de aula, sua produção ajuda os estudantes a compreenderem temas complexos da História, que normalmente estão afastados da sua experiência diária de vida. Seu uso como recurso didático, no entanto, ainda é tema pouco discutido no meio acadêmico. Nosso desafio, na presente exposição, é apresentar possibilidades de utilização das Histórias em Quadrinhos como forma de reforçar o processo de ensino e aprendizagem, além de expôr experiências e resultados deste trabalho com alunos do Ensino Fundamental.

A arte seqüencial – como é classificada a História em Quadrinhos -, é muito valorizada, especialmente em países europeus, como a França e a Bélgica, onde editoras especializaram-se na sua publicação, na forma de álbuns cartonados, alguns com encadernações de luxo. Com gêneros variados, as estórias atingem a públicos de todas as idades. As histórias em quadrinhos com temas históricos, por exemplo, são um grande sucesso. Elas são ambientadas nos mais variados contextos, desde a antigüidade (como Alix, Asterix e Papyrus), passando pela Revolução Francesa (Dampierre), apenas para citar alguns exemplos. Os temas abordados também envolvem questões sociais atuais, como discriminação racial, pobreza e desigualdade, além de política e organização econômica.

Na Argentina, temos a consagrada produção de Quino, publicada no Brasil pela Editora Martins Fontes, criador de Mafalda – uma menina precoce e questionadora – e seus amigos, personagens que possuem uma incrível carga de crítica político-social. As tirinhas de Mafalda são uma referência a problemas atuais e são exploradas na composição de questões de vestibular, nas universidades brasileiras – as charges também servem freqüentemente a este propósito.

Existe no mercado editorial brasileiro uma quantidade considerável de álbuns produzidos com finalidade pedagógica. Vamos nos ater, no caso específico, aos volumes dedicados ao ensino da História ou que podem ser referenciados como tal. Esse tipo de iniciativa não é exatamente uma novidade. A Editora Brasil-América (EBAL), fundada em 1945 por Adolfo Aizen, foi um dos pioneiros na produção e edição de histórias em quadrinhos dedicadas a temas históricos, abrindo espaço para desenhistas nacionais, numa época em que os quadrinhos eram colocados como responsáveis pela delinqüência juvenil.

Ele lançou as séries Edições Maravilhosas, Grandes Figuras do Brasil (lançado pela primeira vez em 20 volumes, entre 1957 e 1958), História do Brasil e Epopéia. A finalidade destes empreendimentos, segundo o professor Alexandre Valença Alves Barbosa, era reverter o status cultural dos quadrinhos e afastar do Brasil o fantasma da censura aos quadrinhos – praticada na década de 50 nos Estados Unidos, na forma do macartismo, liderado pelo senador Joseph McCarthy, o mais famoso caçador de bruxas, no cinema, jornalismo, literatura e televisão -, colocando-os como parte importante da formação cultural Brasileira. Para tanto, Aizen procurou se aproximar das autoridades brasileiras da época, como o Ministro Clóvis Salgado.

A produção de Histórias em Quadrinhos da EBAL possuía características positivistas. Eram álbuns ilustrados por desenhistas brasileiros e organizados por historiadores, que privilegiam a narrativa e apresentavam os temas de forma romanceada, enaltecendo a figura do herói. A título de ilustração, podemos citar a edição comemorativa dos 500 anos do nascimento de Pedro Álvares Cabral, lançada pela EBAL em l968. Outro exemplo é a História do Brasil em Quadrinhos, que narra em duas edições a História do Brasil (de 1500 a 1967). Os dois álbuns possuem um caráter enciclopédico, prevalecendo a narrativa dos fatos, que são ilustrados em quadrinhos, sem destaque para nenhum personagem em especial.

A redemocratização trouxe ao mercado nacional novas abordagens de temas de nossa História, como é o caso do álbum produzido pelo cartunista Angeli e pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz, “Cai o Império! República vou ver!”. Com bom humor e descontração, os autores contam a transição do Império para a República. Este álbum faz parte da coleção Redescobrindo o Brasil – um nome bem sugestivo - e exemplifica uma transformação na linha editorial brasileira, que rompeu com a rigidez e o oficialismo característicos da produção nacional até então.

No campo da ficção, temos a obra de Flavio Colin e Wellington Srbek, “Estórias Gerais” (2001), que traz influências literárias, mescladas com a História, ao retratar o banditismo no norte de Minas Gerais. Uma mistura de Guimarães Rosa, Monteiro Lobato e tantos outros autores regionalistas, retratando de forma singular a vida e as dificuldades do povo brasileiro, seu folclore, seu misticismo, seus valores e suas angústias, ao explorar o tema do banditismo e do coronelismo no norte de Minas Gerais.

Cabe citar também o mineiro Henfil, um dos cartunistas brasileiros de maior influência sobre a juventude durante a ditadura militar. Seus personagens da caatinga, como a Graúna, Zeferino e Bode Orelana, foram presenças diárias nos jornais, não esquecendo ainda do Urubu; Ubaldo, o paranóico; e do Orelhão. Através deles, Henfil extravasou seu inconformismo com as injustiças e preconceitos sociais. Seu trabalho foi homenageado em 2003, com o lançamento de um documentário exibido pela TV Cultura – Henfil em profissão: cartunista.

Existe uma grande quantidade de Histórias em Quadrinhos que podem ser utilizadas nas salas de aula. Seria necessário muito mais do que algumas páginas para descrever e analisar toda a produção nacional e estrangeira que pode ser utilizada como recurso didático. O momento, no entanto, não seria apropriado para dissertar em demasia sobre o assunto.

Vamos relatar aqui a nossa experiência com o uso das Histórias em Quadrinhos na sala de aula, mais especificadamente no ensino Fundamental, em uma comunidade carente. Encontramos muita dificuldade em transmitir conceitos complexos aos estudantes, tais como modo de produção e revolução. Os resultados nem sempre foram satisfatórios. Muitos alunos não conseguiam traduzir em palavras o conteúdo estudado. É abstrato demais, muito distante da realidade onde eles vivem. Começamos então a introduzir, aos poucos as histórias em quadrinhos nas atividades de sala de aula.

Inicialmente trabalhamos com alunos de quinta série, analisando pequenas tirinhas, retiradas de jornais ou gibis, com alguns personagens conhecidos dos alunos, como a Turma da Mônica (de Maurício de Souza), e outros menos conhecidos, como Mafalda (Quino) e a Turma do Xaxado (Antônio Cedraz), relacionando-as aos temas que eram trabalhados na sala de aula, incentivando produções de textos e a análise do conteúdo expresso nos quadrinhos. Trabalhar com histórias em quadrinhos é, ao mesmo tempo, trabalhar com arte e com literatura. As crianças e os adolescentes gostam de ler; apenas não estão, em alguns casos, habituados a isso. Os quadrinhos são atraentes, porque conseguem prender a atenção como nenhum outro recurso didático seria capaz.

Num segundo momento, partimos para o desafio de criar Histórias em Quadrinhos com os alunos. Dentro de uma perspectiva construtivista, trabalhamos a construção do conhecimento histórico, associando-o a uma atividade criativa e original. Começamos esse trabalho com turmas de sétima série. O tema escolhido foi a escravidão no Brasil - conteúdo que estava sendo estudado naquele momento em sala de aula. A proposta era a confecção de histórias em quadrinhos simples, que não chegavam a ocupar mais do que uma ou duas laudas. Os trabalhos tiveram bons resultados, mas ainda faltava aprimorar a técnica de produção, a fim de permitir ao aluno desenvolver e organizar melhor suas idéias.

Encontramos nas páginas da revista Nossa Escola excelentes sugestões de como trabalhar as Histórias em quadrinhos na sala de aula e as adaptamos à realidade material dos alunos e da escola. Passamos a direcionar os trabalhos não apenas para o conteúdo histórico mas, principalmente, para desenvolvimento da criatividade do aluno. Levamos em consideração também a capacidade de trabalhar com um método de criação, além da capacidade de representação de temas históricos. Os estudantes recebiam um duplo desafio: eles tinham não apenas que organizar as idéias, como também seguir as regras (método) de criação de uma história em quadrinhos. Era necessário criar e organizar as idéias. Era preciso disciplinar o espírito, seguir regras.

O processo de criação foi dividido e organizado da seguinte forma: a) criação dos personagens; b) argumento e roteiro, que devem preceder a “arte” e orientá-la a fim de organizar e estruturar a história em quadrinhos; c) o desenho em si, que deve ser definido e discutido antes de finalizado; d) as letras, que não podem extrapolar o espaço delimitado em cada quadro, daí a necessidade de se organizar bem o roteiro; e) a arte-final e a cor.

Inicialmente, a atividade foi sugerida de forma extraclasse. Os alunos teriam um tempo considerável (de uma a duas semanas) para entregar seus gibis. Os resultados, no entanto, ficaram aquém do que era esperado. Alguns não fizeram e outros simplesmente ignoraram completamente a metodologia. Poucos foram os trabalhos que realmente atingiram o objetivo. Foi preciso mudar a estratégia. Os gibis passaram a ser produzidos na sala de aula, sob orientação direta do professor. Os alunos se organizaram em duplas. Eles aprenderam a dividir as tarefas: depois de escolher o tema e definir os personagens, um deles ficava a cargo do roteiro, enquanto outro se preocupava com a arte. Os dois juntos davam o retoque final no trabalho. Em alguns casos, foi permitido que terminassem em casa a fase final, de colorização. O material utilizado era simples: papel e lápis de cor, fornecidos pela escola aos alunos.

Os alunos produziram quadrinhos criativos, com roteiros sintéticos e agradáveis. Alguns optaram por histórias contextualizadas, com personagens fictícios. Outros trabalharam diálogos entre personagens anônimos que debatiam sobre o tema abordado. O importante, no entanto, foi o aproveitamento: eles conseguiram assimilar o conteúdo muito mais rápido. Alunos com baixo índice de aproveitamento em sala de aula foram capazes de transferir para o gibi assuntos complexos, como o patriarcalismo no Brasil colonial, de forma clara e objetiva.

A realidade editorial brasileira talvez contribua para isso, uma vez que os quadrinhos nacionais sobrevivem com parcos recursos e graças a insistência de alguns artistas, que conseguem divulgar seu trabalho através de pequenos espaços em jornais ou da produção independente. Esse preconceito pode ser derrubado introduzindo desde bem cedo as histórias em quadrinhos na vida das crianças. Na escola, esse processo pode ocorrer através da criação de gibitecas, num trabalho conjunto da comunidade com os professores. Na gibiteca eles irão criar familiaridade com esse tipo de arte e obter informações sobre artistas nacionais e seus trabalhos. Esse processo de divulgação de Histórias em Quadrinhos tem sido feito atualmente por apaixonados pela nona arte, como é o caso de André Diniz, que criou um site na internet, o Nona Arte, onde disponibiliza desde programas para criação de Histórias em quadrinhos até uma variedade imensa de Hq’s feitas por amadores e por artistas que já possuem alguma projeção no mercado nacional. André Diniz também se envolve em projetos educativos, relacionados às histórias em quadrinhos.

Os melhores resultados foram obtidos com os estudantes da sexta série. Eles se entusiasmaram e não se contentaram apenas em fazer a sua História em quadrinhos. Eles pediram para dividir o resultado de seu trabalho com outros colegas e outros professores da escola. Foi uma experiência nova para eles, criar personagens e diálogos e vê-los representados na forma de Histórias em quadrinhos.

Em suma, este tipo de recurso didático é de fácil aplicação, mas é imprescindível preparar o aluno para ela. Ele deve considerar a atividade tão importante quanto qualquer outro tipo de avaliação e deve, também, valorizar seu trabalho. O aprendizado é apenas uma das conseqüências. Estamos trabalhando a criatividade e, principalmente, a auto-estima (que vem com a valorização do trabalho e com o reconhecimento pelo esforço). O material utilizado vai variar muito de acordo com a realidade de cada escola. Em escolas de periferia, mais carentes de recursos, papel e lápis-de-cor são suficientes. Em escolas mais bem equipadas, os quadrinhos podem ser montados utilizando-se programas de computador feitos especialmente para essa finalidade. O resultado final, no entanto, supera as diferenças sociais e as dificuldades econômicas. É importante frisar a possibilidade de integração de conteúdos, através do trabalho conjunto com os professores de português e artes, que podem auxiliar o professor de história na atividade, orientando os alunos.

(texto integral publicado nos anais do XIV Encontro Regional da ANPUH-MG/2004)

A História nas Histórias em Quadrinhos


O ato de ensinar tem sido um desafio para os educadores brasileiros. Enfrentamos grandes dificuldades para estimular crianças e adolescentes a desenvolverem o raciocínio lógico, a interpretação e a criatividade. É comum, principalmente na rede pública de ensino, ouvir comentários ácidos de estudantes desmotivados que sugerem que estudar não faz sentido e que basta a um indivíduo saber ler, escrever e fazer contas. Interessante notar que o “saber ler, escrever e contar”, ao qual se referem, é um ato mecânico, desprovido de raciocínio e criatividade. Estamos diante de jovens e até mesmo adultos que não acreditam ser necessário pensar. Umas razões de tal posicionamento pode estar no fato de não terem sido estimulados a desenvolver um espírito crítico nem aprendido a se expressar, tanto oralmente quando através da escrita.

O que fazer então? Muitos educadores afirmam que é necessário trabalhar a leitura e a interpretação, devendo fazer parte de um processo permanente e contínuo de avaliação. O aluno deve aprender a ler e a trabalhar informações que adquire através da leitura. Acreditamos que um excelente instrumento para alcançar este objetivo seja o uso das Histórias em Quadrinhos (HQ’s) na sala de aula.

No Brasil, no início do século XX, mais precisamente no ano de 1905, surgiu a primeira publicação em quadrinhos: o Tico-Tico, criado por Renato de Castro e Manuel Bonfin e publicado pela editora S.A.O. Macho. O gibi era voltado para o público infantil e baseado nas publicações européias – notadamente francesas e inglesas. Desde o início, os criadores do Tico-Tico tiveram a preocupação em ressaltar a importância das HQ’s como instrumento de aprendizagem, apresentando sempre encartes e curiosidades que tinham por finalidade atrair a atenção das crianças para o “mundo do saber”.

Ao Tico-Tico seguiram-se outras publicações, sempre com a mesma preocupação em informar e ensinar a juventude brasileira da primeira metade do século XX. Dentre ela: A Gazeta Infantil (1929), O Mundo Infantil (1929), o Suplemento Juvenil (1934), o Mirin (1937), o Lobinho (1938), o Gibi (1939). a Gazetinha (1939). o Globo Juvenil (1941), o Sesinho (1948).

Durante a década de 1950, a Editora Brasil-América (EBAL), fundada em 1945 por Adolfo Aizen, foi uma das pioneiras na produção e edição de HQ’s dedicadas a temas históricos, investindo também nas HQ’s educativas. Atualmente, existe uma considerável produção e edição de HQ’s que remetem a temas relacionados à história, política, sociologia, saúde, meio-ambiente, etc.

As formas do emprego das HQ’s como instrumento didático dependem do tipo de estratégia que será utilizada pelo educador. Em história pode-se optar pelo uso das HQ’s como fonte de pesquisa e como meio de incentivo à pesquisa e ao raciocínio dos estudantes; pode-se incentivar a criatividade e a imaginação dos alunos desafiando-os a criarem suas próprias HQ’s, adaptadas a contextos históricos diversos; podemos, também, utilizá-las como forma de introduzir questões em avaliações ou mesmo para ilustrar temas diversos, que vão da pré-história aos dias atuais.

No entanto, alguns cuidados devem ser tomados com o uso das HQ’s nas aulas de história. O primeiro é ter em mente que uma HQ’s é uma obra de ficção que retrata as idéias do autor e o contexto do período no qual foi produzida. Portanto, pode conter lacunas uma vez que não possuem compromisso explícito em retratar a realidade.

Desde 2002 tenho introduzido nas aulas de História o uso das HQ’s e obtendo bons resultados com alunos de escolas carentes e de classe média. Inicialmente, trabalhei a análise de pequenas tirinhas, retiradas de jornais ou gibis, com alguns personagens conhecidos dos alunos, como a Turma da Mônica (Maurício de Souza), Mafalda (Quino) e a Turma do Xaxado (Antônio Cedraz), relacionando-as aos temas que eram trabalhados na sala de aula, incentivando produções de textos e a análise do conteúdo expresso nos quadrinhos.

Em um segundo momento, passei a direcionar as atividades para desenvolvimento da criatividade do aluno, levando em consideração, também, a capacidade de representação de temas históricos. Os estudantes recebiam um duplo desafio: eles tinham não apenas que organizar as idéias, como também seguir as regras (método) de criação de uma história em quadrinhos. Para atingir os objetivos era necessário criar e organizar as idéias. Era preciso disciplinar o espírito, seguir regras.

O processo de criação foi dividido e organizado da seguinte forma: criação dos personagens; criação do argumento e roteiro, que devem preceder a “arte” e orientá-la a fim de organizar e estruturar a HQ’s; a produção do desenho em si, que deve ser definido e discutido antes de finalizado; criação das letras, que não podem extrapolar o espaço delimitado em cada quadro – daí a necessidade de se organizar bem o roteiro; a escolha da arte-final e da cor.

Com alunos do Ensino Fundamental, os gibis foram produzidos em sala de aula, sob minha orientação. Eles se organizaram em duplas e aprenderam a dividir tarefas: depois de escolher o tema e definir os personagens, um deles ficava encarregado do roteiro, enquanto outro se preocupava com a arte; os dois juntos davam o retoque final no trabalho. O material utilizado é simples: papel e lápis de cor, fornecidos pela escola.

O resultado dessa experiência permanece gratificante. Os alunos produziram HQ’s criativas, com roteiros sintéticos e agradáveis. Alguns optaram por histórias contextualizadas, com personagens fictícios; outros trabalharam diálogos entre personagens anônimos que debatiam sobre o tema abordado. Eles conseguiram assimilar o conteúdo rapidamente. Alunos com baixo índice de aproveitamento em sala de aula foram capazes de transferir para o gibi assuntos complexos, como o patriarcalismo no Brasil colonial, de forma clara e objetiva.

No Ensino Médio, optei pelo trabalho extra-classe, precisamente orientado, com turmas do 1º ano, de classe média. Eles conseguiram transportar de forma criativa e, em alguns casos, surpreendente, temas como sociedades pré-históricas, Egito antigo, Grécia antiga, Idade Média e América pré-colombiana para os quadrinhos. Adaptaram a história à sua própria realidade de vida, transportando para as HQ’s muitos de seus próprios valores e concepções de mundo. Os trabalhos foram expostos em uma Feira Cultural que a escola realizou no mês de setembro passado, possibilitando o contato da comunidade com os trabalhos desenvolvidos.

O material utilizado vai variar de acordo com a realidade de cada escola. Em escolas de periferia, mais carentes de recursos, papel e lápis-de-cor, jornais, revistas e HQ’s coletadas entre a comunidade escolar são suficientes. Em escolas mais bem equipadas, as HQ’s podem ser montadas utilizando-se programas de computador criados especialmente para essa finalidade e disponíveis em sites na internet. Os estudantes podem ser apresentados à leitura HQ’s criadas especialmente para fins didáticos, nacionais ou estrangeiras, de acordo com o a capacidade de consumo da classe.

Este tipo de recurso didático é de fácil aplicação, mas é imprescindível preparar o aluno. Ele deve considerar a atividade tão importante quanto qualquer outro tipo de avaliação e deve, também, valorizar seu trabalho. O aprendizado é apenas uma das conseqüências. Estamos trabalhando a criatividade e, principalmente, a auto-estima (que vem com reconhecimento pelo esforço, tanto por parte dos colegas quanto dos professores).



(texto integral publicado na Revista de História, n. 6, jan/2006)

Algumas dicas para se trabalhar com HQ’s



· No estudo da história, as HQ’s podem ser utilizados como referências e também como instrumentos para a construção do conhecimento. Em “Como usar as Histórias em Quadrinhos na sala de aula” são sugeridos aos professores de história alguns procedimentos que devem orientar sua leitura: a) reunir informações sobre o(s) autor(es); b) analisar o contexto histórico em que foi produzida; c) identificar valores e ideologias expressas pelo(s) autor(es) na obra; d) identificar o público- alvo ao qual se destina a HQ’s; e) sua finalidade - se informativa, educativa, didática, política, etc.
· Outra sugestão é a criação de gibitecas nas escolas. A gibiteca pode ser iniciativa de uma classe ou de toda a escola. Na falta de espaço pode-se optar pela realização de um rodízio de HQ’s, possibilitando a leitura do acervo pelo maior número de estudantes. Todo tipo de HQ’s tem utilidade, desde as educativas até as HQ’s de heróis. A forma como serão trabalhadas irá depender do objetivo do professor: introduzir o hábito de leitura, trabalhar a crítica social e a interpretação de contextos, etc.
· A escola pode motivar os alunos através da criação de homepages com divulgação de seus trabalhos, realçando a importância da atividade e motivando sua produção. Esta estratégia pode ser aplicada com alunos de ensino médio, trabalhando-se temas atuais, relacionando-os a acontecimentos passados ou simplesmente retratando a realidade brasileira, na forma de estórias mais maduras e com enredo mais personalizado.

Aprendendo através das hqs


Historicamente, os quadrinhos sofreram inúmeras perseguições, resultado de preconceitos endossados por educadores que, partindo de uma visão reducionista e simplista, condenaram sua leitura por crianças e adolescentes rotularam as hqs como responsáveis pela violência e pela perversão moral da juventude. Hoje, sua leitura e produção auxilia estudantes a compreenderem temas complexos da História, que normalmente estão afastados da sua experiência diária de vida. Seu uso como recurso didático, no entanto, ainda é tema pouco discutido no meio acadêmico. Nosso desafio é apresentar possibilidades de utilização deste recurso como forma de reforçar o processo de ensino-aprendizagem, através do incentivo do uso dos quadrinhos na sala de aula.

As hq’s podem ser utilizadas para estimular a leitura e o interesse dos estudantes pelas abstrações, mantendo o vínculo com o objeto formal e abrindo caminho para o desenvolvimento do raciocínio lógico e para a criação de instrumentos de compreensão da realidade social em que vivem.

Um dos grandes desafios dos educadores atualmente é estimular o hábito da leitura e da escrita. O estudante deve aprender a ler e aprender a trabalhar as informações que adquire através da leitura. Acreditamos que um excelente instrumento para alcançar este objetivo, seja o uso das histórias em quadrinhos na sala de aula. Partindo deste princípio, estamos desenvolvendo um projeto que envolve o uso das hq’s, tanto sua leitura quanto sua elaboração pelos estudantes de Ensino Fundamental e, posteriormente, de Ensino Médio.

As Histórias em Quadrinhos possuem uma linguagem simples e de fácil compreensão para os alunos, que em geral não oferecem resistência a seu uso, uma vez que são relacionadas a uma forma de entretenimento e lazer. Desvendar essas “intenções”, aprendendo a ler nas entrelinhas, é fundamental para uma boa compreensão e absorção das informações. É necessário desenvolver as habilidades de “ler, escrever e pensar”. Esta tem sido uma necessidade urgente nos tempos difíceis em que vive a educação brasileira, no que se refere à formação tanto de professores quanto de alunos.

Existe uma grande quantidade de Histórias em Quadrinhos que podem ser utilizadas nas salas de aula. No Brasil, infelizmente, esse rico material ainda está distante das escolas publicas. São publicações muito bem elaboradas, mas com um custo elevado, como acontece com a maior parte do material paradidático. Daí a dificuldade do professor da rede de escolas públicas de utilizá-los na sala de aula, recorrendo, em alguns casos, à reprodução de pequenos fragmentos.

Os trabalhos publicados, através de artigos ou obras completas, sobre o uso das hq’s nas escolas ainda estão em número reduzido, embora este recurso esteja sendo cada vez mais utilizado nas salas de aula. Temos conhecimento de iniciativas bem sucedidas de muitos professores que apostaram no uso deste recurso como reforço ao processo de ensino aprendizagem. Falta, entretanto, a divulgação de idéias e resultados.

No estudo da história, os quadrinhos podem ser não apenas utilizados como referências, mas também como instrumento para a construção do conhecimento. Sua leitura envolve e desenvolve uma série de competências e habilidades, importantes para o desenvolvimento intelectual dos estudantes. Em “Como usar as Histórias em Quadrinhos na sala de aula” (VERGUEIRO, 2004), são sugeridos aos professores de história alguns procedimentos para sua leitura: a) reunir informações sobre o(s) autor(es); b) analisar o contexto histórico em que foi produzida; c) identificar valores e ideologias expressas pelo(s) autor(es) na obra; d) identificar o público- alvo ao qual se destina a hq; e) sua finalidade _ se informativa, educacional, educativa, didática, política.

Alguns cuidados devem ser tomados com o uso das Histórias em Quadrinhos. O primeiro deles é ter em mente que uma história em quadrinhos é uma obra de ficção que retrata as idéias do autor e o contexto do período no qual foi produzida. Portanto, ela pode conter, por vezes, lacunas uma vez que não possuem compromisso explícito em retratar a realidade.

O fato de uma hq ser ambientada em um tempo passado não sugere que seu conteúdo seja integralmente fiel ao contexto histórico. Um exemplo pode ser a obra de Frank Miller, os 300 de Esparta. É uma hq belíssima, inspirada em um fato histórico real, mas que é dotada também de elementos fictícios e romanceados. Ela pode ser utilizado como referência em uma aula de história? Certamente. Mas cabe ao professor orientar a leitura e possibilitar aos alunos recolher do texto informações que podem ser fonte de aprendizado, aprendendo a separar ficção de fato histórico. É um exercício que ajuda a desenvolver o raciocínio e a capacidade de análise do estudante.

Douglas Pescadinha Jr. (1991) abordou a questão do uso de histórias em quadrinhos no ensino de história na sua monografia de bacharelado, onde analisou o uso de Asterix como fonte histórica e como material didático. Ele questiona o fato de ser ou não historicamente correto usá-lo em sala de aula. Segundo Pescadinhas, a resposta é não. Asterix representaria muito mais os anseios de uma Europa – França – contemporânea do que a realidade histórica da antiguidade romana. Ele aponta muitas razões para isso. Dentre elas podemos citar o anacronismo histórico, a despreocupação com a localização de detalhes geográficos apresentados no texto; referências a fatos históricos contemporâneos, mesmo que implicitamente, etc.

No entanto, esses fatos em si não desmerecem o valor da obra, que representa uma excelente referência para se estudar questões referentes à sociedade européia contemporânea, com destaque para o imperialismo norte-americano (representado por Roma) e suas conseqüências sobre a Europa e a França (representadas pela aldeia gaulesa que resiste à dominação). Por outro lado, Asterix é uma obra rica para ser explorada pelos professores de língua portuguesa, que podem destacar as palavras em latim, base do nosso idioma.

Nossa própria experiência com hq´s em sala de aula demonstrou que este recurso pode auxiliar os estudantes a organizarem melhor suas idéias, a desenvolverem o raciocínio e fazer comparações entre passado e presente, compreendendo de forma mais clara conceitos como o de anacronismo, por exemplo. Trabalhamos com a confecção de quadrinhos com alunos de escolas públicas de baixa renda e de classe média. Os resultados têm sido satisfatórios. Os trabalho produzidos _ sempre em duplas _ ajudam os estudantes a colocarem em prática os conhecimentos apreendidos em sala de aula. O próximo passo é a criação de uma gibiteca, pelos próprios alunos, e a divulgação dos trabalhos na escola, numa pequena exposição para pais e professores, no término do ano letivo.

As formas do emprego dos quadrinhos como instrumento didático dependem do tipo de estratégia que será utilizada pelo educador. Em história pode-se optar pelo uso dos quadrinhos como fonte de pesquisa e mesmo como meio de se incentivar a pesquisa e o raciocínio dos estudantes; pode-se incentivar a criatividade e a imaginação dos alunos desafiando-os a criarem suas próprias hq’s, adaptadas a contextos históricos diversos; podemos, também, utilizá-las como forma de introduzir questões em avaliações ou mesmo para ilustrar temas diversos, que vão das cruzadas ao imperialismo.

Como qualquer outro material didático as Histórias em Quadrinhos devem ser utilizadas com responsabilidade. Mesmo as histórias em quadrinhos para uso didático podem apresentar equívocos que devem ser identificados e administrados pelo professor. Seu uso em sala de aula deve ser devidamente planejado e adaptado à realidade social e econômica dos estudantes. Toda leitura deve ser acompanhada de questionamento. O papel do professor é fundamental para isso. O livro não é, em si só, elemento fundamental para a aprendizagem. O professor é quem faz a diferença neste processo.
(Texto integral publicado nos Anais do Simpósio Nacional de História – UEL/2005)

sábado, 3 de março de 2007

Projeto Gibiteca na Escola


O projeto Gibiteca na Escola surgiu da necessidade de melhorar a qualidade das minhas aulas de história, prejudicadas pela grande dificuldade de interpretação e leitura de meus alunos. Como eu já trabalhava com quadrinhos - em atividades extra-classe, exercícios e pequenos trabalhos em sala de aula - resolvi abraçar a idéia de que a leitura de hqs poderia incentivar e desenvolver a capacidade de interpretação dos meus alunos. Muitos deles me ajudaram nos primeiros meses, limpado a sala que eu havia conseguido da direção, carregando caixas, estantes de aço e separando e carimbando as doações que nós começamos a recever. Os alunos das séries iniciais da escola também estão sendo envolvidos no projeto. a Gibiteca deve começara a funcionar ainda este mês, com um acervo inicial de aproximadamente 1400 hqs. Com a gibiteca os professores das séries iníciais e avançadas do ensino fundamental poderão desenvolver projetos tendo como ponto de partida das hqs. Além disso, faz parte do projeto o incentivo à produção literária e artística. No decorrer do ano serão produzidas pequenas oficinas de desenhos, fanfics e outros tipos de produção voltados á leitura, escrita e interpretação. A vantagem da gibiteca é que ela transforma a leitura em um prazer e abre caminho para que o jovem leitor de hqs se torne um leitor universal.

O que é uma gibiteca?


Grosso modo, a gibiteca é um espaço destinado ao armazenamento e divulgação de Histórias em Quadrinhos, que pode ser público ou não. Nas gibitecas os leitores têm acesso a uma enorme variedade de quadrinhos (terror, ficção científica, humor, aventura, etc.) e nelas este tipo de material literário receber um tratamento apropriado, que inclui a conservação de exemplares, de publicação recente, ou aqueles considerados raros. A primeira gibiteca inaugurada no Brasil foi a Gibiteca de Curitiba, em 1982.

Constituindo-se uma iniciativa particular, a gibiteca de Curitiba acabou tornando-se um exemplo para colecionadores e leitores tornando-se objeto, espaço de pesquisa e estudo nas universidades brasileiras. Aos poucos, foram surgindo gibitecas em várias regiões do Brasil. Originalmente, os quadrinhos eram relegados a segundo plano, nas bibliotecas públicas. Não eram devidamente catalogados e não se desenvolviam atividades relacionadas a eles. Com o surgimento da gibiteca este panorama mudou de forma considerável. Em alguns casos, a gibiteca tornou-se um anexo da biblioteca, em outros, ela ganhou espaço próprio e passou a desenvolver atividades independentes.

Em São Paulo está a maior gibiteca brasileira, mantida por um organismo do Estado: a Gibiteca Henfil Órgão do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria de Cultura do município de São Paulo, ela foi inaugurada em 1991 e conta com o maior acervo do país, 100.000 exemplares. A Gibiteca Henfil é uma iniciativa de grande sucesso e mantém diversas atividades relacionadas a quadrinhos. São freqüentes cursos e oficinas para crianças, jovens e professores. Com um sítio específico na internet, a Gibiteca possui um calendário ativo é um exemplo de que uma idéia simples pode gerar grandes conquistas para a sociedade. O Estado, ao investir nas gibitecas está investindo também em qualidade de vida e em educação.