terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A leitura de Mangás no Brasil: o pioneirismo

Aproveitando o início das comemoração sobre o Centenário da Imigração Japonesa, segue uma reportagem que saiu hoje na Folha on line, sobre os mangás no Brasil, fazendo um breve balanço sobre sua história, a a partir de informações dadas por estudiosos brasileiros. Aprendi muito, vale a leitura.


Brasil foi pioneiro na leitura de mangá no Ocidente

DAYANNE MIKEVIS


No Brasil, os mangás vieram com os imigrantes japoneses que aqui desembarcaram. Logo que surgiram as primeiras importadoras de revistas e jornais japoneses, este tipo de quadrinho se tornou uma forma de acompanhamento do que acontecia no Japão. "Ler mangá foi sempre uma forma de preservar a língua japonesa e também de atualização da mesma. Portanto o Brasil é um país que lê mangá muito antes de qualquer outro país ocidental do mundo. Somente nos anos 90 com o sucesso de alguns mangás e animês nos Estados Unidos é que a grande massa começou a ter conhecimento da cultura pop japonesa", afirma a pesquisadora Sônia Maria Bibe Luyten, autora de "Mangá, o Poder dos Quadrinhos Japoneses" e "Cultura Pop Japonesa: Mangá e Animê".

O contato com o universo dos mangás pela via familiar é o caso da estudiosa Christine Akune Sato, que desde a infância teve em sua casa as revistas, como uma forma dos avós a fazerem se interessar pelo idioma japonês. "Meus avós assinavam revistas que vinham do Japão e com elas, mangás. Nos anos 50, 60, elas eram exaustivamente trocadas entre os parentes", afirma Sato.

De origem italiana e com sobrenome holandês devido ao casamento, Luyten foge à regra. "Em 1972 comecei o primeiro curso universitário de histórias em quadrinhos. Foi na Universidade de São Paulo, na Escola de Comunicações e Arte, no departamento de Jornalismo e Editoração", disse a pesquisadora.

"Nos anos 1970 o Japão teve um grande avanço econômico que veio surgindo desde o final da 2º Guerra Mundial. Com este boom da economia a indústria editorial também cresceu muito e os quadrinhos japoneses --os mangás-- também aceleraram muito em vendas. Este foi o grande motivo do meu interesse pois em nenhum país do ocidente uma revista alcançou vendagens de um milhão de cópias por semana", conta Luyten. Ela resolveu então entrar em contato com editoras japonesas para obter mais informações em um semestre no qual havia muitas alunas nisseis na turma.

Mangás no Brasil

Segundo Luyten, muitos descendentes de japoneses que liam mangá também tomaram gosto pelo desenho e entraram no mercado editorial brasileiro nos anos 60. "É o caso de Julio Shimamoto, Paulo Fukue, entre outros. Portanto tivemos uma geração de nisseis desenhando mangá antes de qualquer outro país no mundo", disse a pesquisadora. Já Sato, concorda, mas afirma que o boom do mangá foi nos anos 80, após a criação da divisão de quadrinhos da editora Abril, no qual uma área passou a esporadicamente publicar mangás, e as exposições na Sociedade de Cultura Japonesa.

A própria Abrademi foi criada naquela década, em 1984. Para Sato, o sucesso só não foi maior porque havia um certo preconceito com a publicação de mangás, pois estes eram considerados muito violentos e sem apelo para o público brasileiro em geral. A pesquisadora, que foi bolsista em 1987 no Japão, conta que também há dificuldades técnicas em decorrência da escrita, que é da direita para a esquerda, de baixo para cima. Isto muda o formato dos balões.

Sato cita, como tentativas de se publicar mangás no Brasil, "Akira", que foi lançado pela editora Globo. A especialista marca a metade da década de 90 como uma outra mudança crucial, com a vinda ao mercado das editoras Conrad e JBC, focadas na publicação de mangás para o público brasileiro.

"Atualmente há muitas publicações em forma de fanzines que estão experimentando a linguagem dos mangás, o que acho algo extraordinário pois a maioria nem é descendente de japoneses", afirmou Luyten.

Dentre os sucessos brasileiros de mangás em bancas, a pesquisadora cita "Holy Avenger", da dupla Marcelo Cassaro e Erica Awano. A publicação teve uma série completa e boa vendagem.

A pesquisadora também lembra a publicação de "Mangá Tropical", coordenada por Alexandre Nagado, que reuniu desenhistas e roteiristas com ou sem descendência japonesa e que tinha como principal característica histórias passadas no Brasil. Além disso, Luyten também citou Fábio Yabu, que desenhou Combo Rangers publicado primeiro na internet e que depois virou revista em quadrinhos, publicadas pelas editoras JBC e Panini. Ao todo, foram 25 revistas.
Desafios

Os principais desafios para este mercado, segundo Luyten, são os desafios que qualquer desenhista brasileiro enfrenta: encontrar editoras que aceitem o trabalho, ter um trabalho bom e com continuidade, enfrentar os ciclos altos e baixos da economia brasileira entre outros motivos.

"Há muita gente que acha o mangá está tirando o pão de cada dia do desenhista brasileiro. Antes a culpa era dos americanos e antes ainda dos europeus. Acredito que o mercado brasileiro tem capacidade de absorver tudo desde que seja bom, de preço acessível, que tenha continuidade. Há lugar para todos quando algo tem qualidade", disse Luyten.


Fonte:Folha
OBS: as imagens não são as do texto original.

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