sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Aulas mistas de leitura
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Persépolis: uma história de vida em quadrinhos
A autobiografia em quadrinhos que talvez tenha tido a maior repercussão nos últimos anos foi a da iraniana Marjane Satrapi que viu seu país ser completamente transformado a partir de 1979, com a revolução islâmica. Para contar sua história ela publicou Persépolis. Ela tinha 10 anos, teve que trocar se escola, usar véu e parar de estudar francês. Não podia usar jeans, ouvir rock ou usar um par de tênis. Seus pais, que intelectuais liberais – além de terem apoiavam o governo anterior - passaram a ser perseguidos e ela presenciou os horrores da guerra, quando uma bomba caiu em seu bairro. Mas como nem tudo são lágrimas, a história também mostra momentos de descontração em família e até passagens cômicas, envolvendo a autora.
Persépolis foi lançado na França, em 2001, por uma pequena editora independente. Tornou-se um fenômeno de crítica e público. No mesmo ano, o primeiro volume ganhou o importante prêmio do Festival de Angoulême, na França. Persepólis foi considerada a melhor história em quadrinhos de 2004 pela Feira do Livro de Frankfurt. O sucesso de Persepolis, foi tão grande que a série (que tem 4 partes) teve os direitos de publicação vendidos para Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Israel, Suécia, Finlândia, Noruega, Japão, Coréia do Sul, Hong Kong, Turquia e Estados Unidos, inclusive o Brasil, onde foi publicada pela Companhia das Letras. Persepolis foi transformado em um longa de animação, dirigido pela própria e por Vincent Paronnaud, vencendo o Festival de Cannes deste ano, que se encerra neste fim de semana. Persepolis é uma história de vida e uma aula de história.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Quadrinhos: ganhando mais espaço na imprensa
Discurso sobre quadrinhos na mídia impressa começa a mudar
(...)
A revista "Época" da semana passada trouxe uma matéria sobre a chamada literatura em quadrinhos. Segundo a reportagem, os novos "reis do mundo" não são Super-Homem ou Hulk, e sim Machado de Assis e Eça de Queirós (alusão às adaptações de "O Alienista" e "A Relíquia", lançadas neste ano). A "IstoÉ" -também da semana passada- trouxe uma matéria de duas páginas a respeito do mesmo assunto: a ida dos quadrinhos às livrarias.
A revista "Língua Portuguesa" deste mês traz uma reportagem de seis páginas sobre o jornalismo em quadrinhos, gênero que ainda se firma e que tem no jornalista maltês Joe Sacco o principal representante. A matéria, feita por Luiz Costa Pereira Junior, é representativa por dois motivos: 1) é uma das mais completas sobre o assunto; 2) leva o tema "quadrinhos" a um universo de leitores que tradicionalmente não acompanha quadrinhos. O maior exemplo, no entanto, foi visto no último domingo. E também sobre jornalismo em quadrinhos. A "Folha de S.Paulo" publicou 16 páginas em quadrinhos feitas por Joe Sacco.
A reportagem em quadrinhos foi veiculada no "Mais!", caderno voltado a literatura e artes. O caderno é lido principalmente pelo grupo rotulado como "formador de opinião", que, embora pequeno, influencia o modo como outros enxergam temas artísticos.
A presença da história de Sacco no caderno repercutiu, dentro e fora do jornal.
Pessoas que historicamente ignoravam quadrinhos passaram a noticiar o tema.
"Formadores" porque fazem um recorte de tudo o que é produzido em termos artísticos dentro e fora do país e o leva até o leitor, na forma de notícia.
( ... )
Do que se pode ver no calor dos acontecimentos, não se trata de um reconhecimento tardio ou algo do tipo.
O ponto é que os quadrinhos tomaram posse de dois aspectos valorizados pelos "formadores de opinião".
O primeiro foram as livrarias.
(...)
O outro ponto é que os quadrinhos se vincularam a três rótulos pra lá de prestigiados em todos os âmbitos sociais: educação e, principalmente, jornalismo e literatura.
Aos olhos do formador de opinião e do novo consumidor, não se trata de quadrinhos feitos com viés jornalístico. É exatamente o contrário. É jornalismo produzido em quadrinhos.
Destaca-se em primeiro lugar o teor jornalístico, valorizado socialmente, tido como "sério". Os quadrinhos vêm em segundo plano, acompanhando o rótulo "principal". Há uma sensível diferença.
(....)
Uma das discussões que sempre nortearam a área era se quadrinhos eram literatura ou uma linguagem autônoma (embora com um claro diálogo entre as duas formas de arte).
Sempre defendi que associar quadrinhos à literatura era uma forma de buscar um rótulo socialmente aceito e prestigiado -a literatura- para justificar a aceitação dos quadrinhos.
Ironicamente, foi o que ocorreu. Corrigindo: que está ocorrendo.
A apropriação dos termos "literatura" e "jornalismo" ajudou a furar o bloqueio invisível da mídia impressa, que dá sinais de que começa a ver os quadrinhos como "algo sério".
Não pelos quadrinhos em si, mas pelas livrarias, pela educação, pelo jornalismo, pela literatura.
Não deixa de ser relevante.
E é uma porta de entrada para que outros gêneros dos quadrinhos sejam, enfim, descobertos.
Para quem se interessar e quiser saber outros dados, o texto integral pode ser lido no Blog dos Quadrinhos, http://www.blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/
sábado, 25 de agosto de 2007
Che Guevara em quadrinhos
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Agatha Christie em quadrinhos
Eu sou uma fã declarada dos livros de mistério de Agatha Christie. Devo ter lido quase todos durante a minha adolescência e acho difícil dizer quais são os melhores. Suas obras fora adaptadas para a televisão, o cinema, o teatro e para os quadrinhos. Bom, pelo menos uma, que eu li e que temos na Gibiteca: Assassinato no expresso do Oriente.
A adaptação do Assassinato no expresso do Oriente, em português, pode ser encontrada em boas livrarias e em lojas especializadas em quadrinhos. Pesquisando sobre o notícia eu me deparei com um site dedicado a esta escritora – em português - , criado por fãs e que me pareceu muito legal, a primeira vista. Para quem estiver interessado, o linlk é http://acbr.luky.com.br/index.php
terça-feira, 21 de agosto de 2007
Dedret em Quadrinhos
O título da HQ é "Debret em Viagem Histórica e Quadrinhesca ao Brasil". Jean-Baptiste Debret morou no Brasil, de 1816 a 1831. Veio com uma missão de artistas franceses, a convite de D. João VI, algum tempo depois da queda de Napoleão. Debret ilustrou cenas da corte portuguesa, reproduzindo em suas obras momentos marcantes da nossa história como a aclamação de D. João VI ao reinado, em 1818, a coroação de d. Pedro 1º, em 1822, e a renúncia deste em favor de seu filho, d. Pedro 2º, em 1831. De 1834 a 1839 ele publicou, em três volumes, "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", retratando o dia-a-dia brasileiro: paisagens, índios, escravos, condecorações e cenas da sociedade carioca.
“Aqui, Spacca nos mostra como a queda de Napoleão tornou a situação política dos que o apoiavam insustentável - o que acabou por motivar a aventura tropical de Debret -, além das intrigas e rixas da incipiente vida artística do Rio de Janeiro. Com prefácio, cronologia, bibliografia e galeria de obras, o livro é uma introdução ao tema da história da arte no Brasil, mas não pára por aí. O traço de Spacca conta, sem perder o humor, os atrasos de anos na criação da Academia de Belas Artes, a rivalidade com o grupo dos artistas portugueses e os ataques de ambas facções. Contada por um cartunista, a história de Debret no Brasil fecha um ciclo: através de seu discípulo predileto, Manuel de Araújo Porto Alegre, autor da primeira caricatura impressa no Brasil, Debret também é o mestre dos cartunistas brasileiros.”[1]
A HQ em si possui 18 páginas, tendo ainda os esboços feitos pelo quadrinista para preparar os personagens. A edição, também, traz prefácio assinado pela historiadora Elaine Dias, cronologia, bibliografia e galeria (grande parte reproduzida a partir das obras originais dos Museus Castro Maya). Não é uma biografia de Debret, mas mostra sua presença em eventos importantes da nossa história, durante os 15 anos que viveu no Brasil. Eu particularmente estou curiosa para ler e poder usar este material nas minhas aulas sobre Brasil Império. Quem é professor de História sabe como é difícil ter em mãos um material deste tipo, ainda mais um história relativamente curta, que pode ser lida e comentada durante uma aula.
Pesquisando mais sobre a HQ, eu encontrei uma resenha interessante no link http://www.poppycorn.com.br/artigo.php?tid=1490, de Afonso Rodrigues e encontrei, também, uma resnha feito por Matheus Moura e publicada no site Bigorna.net http://bigorna.net/index.php?secao=lancamentos&id=1184216451
Confiram!
[1] http://www.planetanews.com/produto/L/131387/debret-em-viagem-historica-e-quadrinhesca-ao-brasil-spacca.html
sábado, 18 de agosto de 2007
Festa do Folclore e acervo da Gibiteca
Entre as barraquinhas de doces e salgados da escola, a Gibiteca contou um cantinho. Eu, a professora Sheyla e alguns alunos muito prestativos conseguimos vender saquinhos de guloseimas na festa, confeccionados a partir de doações gentilmente feitas por comerciantes e membros da comunidade. Com o dinheiro arrecadado já compramos vários números de uma série de mangá que estava incompleta e ainda recebemos a notícia de que poderemos completar outra, graças à boa arrecadação que a escola teve com a festa.
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Quadrinhos: seu uso cotidiano
Fórmula química dos quadrinhos e seu uso no cotidiano educacional
Não é difícil ver os quadrinhos como uma arte-comunicativa. O problema é que parte de nossa cultura inferioriza os quadrinhos a ponto de não termos muitas bases para tirar nossas conclusões. Às vezes a resposta para a definição de quadrinhos é vaga, resultado de um conceito mastigado por educadores ou críticos. Mais ou menos como a criança que decora que a formula química H2O é água, mas não tem a mínima idéia do significado de átomos, hidrogênio ou oxigênio.
Existe uma explicação para a fórmula dos quadrinhos? Com certeza!
O autor e quadrinista Will Eisner define quadrinhos com o termo arte-sequencial. A partir de Eisner temos também uma definição mais elaborada, de que particularmente eu gosto muito, feita por Scott McCloud: “Imagens pictóricas e outras justapostas em seqüência deliberada, destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no espectador.”
Quando tomamos essas duas definições podemos afirmar que o conceito por trás dos quadrinhos já fazia parte da história da humanidade, muito antes da própria invenção da imprensa e até mesmo da palavra escrita ou falada. Desde o período paleolítico as ações reais ou imaginárias já eram gravadas em seqüências de imagens que serviam, segundo alguns historiadores, para evocar a sorte na caça (talvez nossos ancestrais estivessem só entediados, mas quem vai saber?).
O uso da arte seqüencial como meio de comunicação prossegue por toda história da humanidade e se mostra notório em várias culturas. Egípcios, pré-colombianos, pré-cambrianos, indianos, chineses e europeus da idade média são algumas das sociedades que usavam a imagem e/ou o texto para transmitir mensagens ideológicas, políticas ou religiosas a seus componentes.
No Brasil o valor dado aos quadrinhos pelo grande público e por uma parte dos professores é apenas de entretenimento. Porém sua aplicação é muito mais ampla do que a usada atualmente, principalmente no que se refere às salas de aula, onde por muitas vezes é colocada mais como "uma curiosidade" ou "expressão artística menor" do que como objeto educacional que pode ser usado tanto na vida escolar como na vida cotidiana, mesmo porque as duas estão associadas.
Muitas vezes, quando procuramos exemplos de uso dos quadrinhos como instrumento educacional o que encontramos é quase sempre o uso de imagens de tirinhas de jornal chamando atenção para um assunto especifico. Mas em uma análise mais detalhada do "corpo" de uma história em quadrinhos, que não é limitada a tiras de jornais, podemos encontrar mais do que a estética como ponte para questões, digamos, acadêmicas.
O uso como ponte para um assunto como geografia ou física é válido, mas muito limitado. É como usar um bisturi para descascar laranja. Uma história em quadrinhos não é composta simplesmente por imagem/texto, mas também de outros signos, oralidades e ideologias formando um complexo meio de comunicação. Dessa maneira através do estudo básico e da produção dos quadrinhos podem ser inseridos temas como produção e argumentação de textos, conhecimento de códigos e linguagens, além de uma infinidade de conceitos artísticos, filosóficos e qualquer outro tipo de informação.
O texto original está no link http://www.popbaloes.com/mats/hqnasala2.htm, lá também há outros textos deste autor e e-mail para contato.
domingo, 12 de agosto de 2007
HQs e folclore
A Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, também utiliza elementos ou personagens do nosso folclore em suas aventuras. Nas HQs do personagem Chico Bento, por exemplo, crendices populares estão constantemente presentes. Personagens como a Iara, do lobisomem ou a Mula-sem-cabeça, assim como festas juninas e pratos típicos são citados em suas histórias. Maurício de Souza produziu uma edição da Turma da Mônica especial sobre folclore que pode ser acessada pelo site http://www.monica.com.br/comics/folclore/welcome.htm.
Não podemos esquecer da Turma do Sítio do Pica-pau-amarelo, adaptação para quadrinhos da obra de Monteiro Lobato. Monteiro Lobato resgata aspectos da cultura popular em sua obra e, atualmente, os seus personagens ainda contracenam, na TV e nos quadrinhos, com seres místicos do folclore brasileiro como a Cuca, o Saci, a Iara e a Mula-sem-cabeça. Nas HQs do Sítio, podemos encontrar muitas informações sobre o folclore, em meio às aventuras de Pedrinho, Narizinho, Emília e Visconde. Hqs as turminha do Sítio são usadas constantemente em campanhas do governo, e estas HQs distribuídas gratuitamente nas escolas públicas de todo o Brasil .
Outra HQ inspirada no folclore brasileiro é a Turma do Pererê, Criado por Ziraldo, ano 1959. A revista explodiu na década de 60: foi publicada mensalmente de outubro de 1960 a abril de 1964. A tiragem, em média, foi de 120 mil exemplares. As histórias se passavam na "Mata do Fundão", que seria, na verdade, o próprio Brasil. "Os bichinhos heróis dessas aventuras são figuras clássicas da lenda brasileira. Toda história que a mãe preta, o avô contador de caso ou as tias mais amorosas contaram para seus meninos, seus netos ou seus sobrinhos foram povoadas pelo coelho ou pelo macaco, pelo tatu e o jaboti, pela onça e pela coruja, com sua sabedoria. Aí, inventei de juntá-los todos em volta do Saci-Pererê e arrumar mais gente para contracentar com eles: um indiozinho, duas meninas lindas, dois caçadores, e alguma maluquice."[1] O MEC distribuiu recentemente álbuns da Turma do Pererê para bilbiotecas de escolas públicas. Esta HQ não é voltada necessariamente para o folclore, mas ela valoriza a cultura popular e tudo aquilo que se refere ao Brasil, estando sempre presente uma crítica política e social, característica do contexto em que o personagem surgiu.
Para quem gosta de aventura e muita ação a Via Lettera publicou em 2005 o álbum nacional Jaguara: guerreira e soberana, criação de Altemar Domingos, que narra a vida da guerreira Jaguara, a protetora de Jaguaretama (Vale da Onça), um lendário local do Amazonas conhecido por pouquíssimos índios. Após a morte de seu pai, Aguaratã, Jaguara assumiu seu lugar liderando os Krenakores (Índios gigantes), lutando para resgatar a honra da tribo após o grande massacre imposto pelos inimigos Caetés. Agraciada pelo deus Nhanderubussu com a milenar lança Tupã, deve reinar em absoluto em todo Jaguaretama e lutar contra as forças de Jurupari (Diabo indígena), que pretende dominar o Vale e destruir a lança, única arma capaz de subjugá-lo. Para isso, liberta seus demônios, aprisionados na Terra Proibida. Seres do nosso folclore como Saci, Lobisomem, Mula-sem-cabeça, Yara, Curupira, Cobra-norato estarão no encalço da bela guerreira em batalhas assustadoras e inesperadas.
Há também na obra do mestre dos quadrinhos nacionais, o saudoso Flavio Colin (1930 - 2002). Sua obra sempre se notabilizou por tratar de temas e personagens brasileiros. Vou citar duas que incluem em seu roteiro elementos do nosso folclore. A primeira, que está sendo republicada pela Conrad é Estórias Gerais, onde o autor trabalha a questão do cangaço, dando espaço para “causos” e crendices populares. A outra HQ foi lançada em 2006 pela Pixel, O Curupira. Ela utiliza a lenda de nosso folclore para mostrar diversas facetas dos grandes problemas ambientais que o nosso país enfrenta. Curupira, criatura de cabelos vermelhos cor-de-fogo, tem pés ao contrário para enganar caçadores que o perseguem e adora sentar em árvores para comer seus frutos. Protege as matas e seus habitantes, defende a fauna, a flora e pune os agressores da natureza - caçadores e empresas clandestinas. As aventuras do Curupira ainda incluem outros personagem do nosso folclore como a Onça-pé-de-Boi e o Jurupari.
[1] http://ziraldo.com/livros/perere.htm
[2] http://gibitecacom.blogspot.com/2007/06/HQ-educacional-ensina-prevenir-o-cancer.html
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
As histórias em quadrinhos no contexto escolar e acadêmico
Várias pessoas não entenderam no inicio como os gibis iriam fazer parte de instrumento de pesquisa, investigação e atuação em psicologia em uma universidade, principalmente devido ao grande preconceito que até então existia em relação a esse tema. Waldomiro Vergueiro (Núcleo de Pesquisas de Histórias em quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 1998) afirma que "Quadrinhos e Universidade realmente nem sempre fizeram uma dupla lá muito dinâmica". Waldomiro comenta que os intelectuais universitários até pouco atrás tinham a tendência de "amarrar" o nariz para os produtos da indústria de massa. Custaram a aceitar meios de comunicação de impacto mundial incontestável, como o cinema ou o rádio, demorando para acreditar que eles pudessem apresentar um objeto de estudo digno para os bancos acadêmicos ou que pudessem oferecer como resultado verdadeiras obras de arte.
A ciência, em conseqüência a universidade, tem que se ocupar apenas com coisas importantes e que levem a pensamentos profundos, diziam os intelectuais (e muitos ainda dizem). "Gibi"? Isso é coisa de criança. É totalmente supérfluo, que se lê e joga fora. Como se pode dar valor para algo que é produzido aos milhares, em "papel vagabundo", cheio de desenhos de gosto inacreditáveis, de personagens que usam roupas espalhafatosas? Até pode representar um produto interessante para os outros, mas... enfim, história em quadrinhos não é coisa séria", afirma Vergueiro (1998, Pag. 78). E com isso colocavam um ponto final no assunto. As historias em quadrinhos, definitivamente, não pertenciam ao ambiente universitário.
Felizmente isso mudou um pouco, afirma Vergueiro, porém, nem todo o ranço acadêmico foi eliminado, é claro, mas já é mais fácil encontrar-se, nas universidades do mundo inteiro, professores interessados nas histórias em quadrinhos, que realizam e orientam pesquisas, ministram disciplinas sobre elas e realizam um contato muito frutífero com produtores e consumidores desse meio de comunicação de massa, ajudando a ampliar a compreensão sobre as particularidades e potencialidades do meio.
Este movimento de absorção das histórias em quadrinhos pelo ambiente acadêmico começou em fins da década de 60 e início da de 70, quando alguns interessaram-se pelo assunto e passaram a abordá-lo sob o ponto de vista semiológico, histórico, estético, etc. A partir daí, as historias em quadrinhos passaram a ser um pouco melhor vista pelos acadêmicos.
Segundo Waldomiro Vergueiro o Brasil de uma certa forma, foi pioneiro nesse aspecto, pois foi aqui que mais precisamente na Universidade de Brasília, que foi criada a primeira disciplina sobre Histórias em Quadrinhos em um curso de graduação, ministrada pelo professor Francisco Araújo, que até hoje continua trabalhar com esse assunto em curso de terceiro grau. Foi no Brasil também, que uma das primeiras pesquisas sobre quadrinhos foi realizada em ambiente universitário, coordenada pelo professor José Marques de Melo, na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Foi nessa mesma escola, ligada ao Núcleo de Pesquisas em Histórias em quadrinhos, que surgiu mais de 20 anos depois, o primeiro curso de Especialização em Quadrinhos, durante a década de 90 (que infelizmente, deve curta duração).
A universidade pode representar um ambiente privilegiado para a criação de quadrinhos, principalmente poder trabalhar com aspectos de vida do povo brasileiro, podendo promover uma ampla avaliação do pensamento, expressar sentimento e principalmente sendo válvula de escape para a criatividade e emoções dos alunos desta universidade.
Para ler todo o artigo, e aproveitar para conhecer o trabalho feito pela Gibiteca UCDB é só ir em http://www.ucdb.br/gibiteca/experiencia.php
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Informatizando a Gibiteca!
sábado, 4 de agosto de 2007
Lugar de quadrinhos é na sala de aula
Atento a isso, o Ministério da Educação, a partir do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), incluiu esse ano algumas histórias em quadrinhos entre as obras que foram distribuídas às mais de 46 mil escolas públicas do país. As histórias escolhidas foram Toda Mafalda, de Quino; Na prisão, de Kazuichi Hanawa; Santô e os pais da aviação, de Spacca; e Dom Quixote em quadrinhos, de Caco Galhardo. “Usar as HQ como instrumento de aprendizado é altamente recomendável, pois auxilia na alfabetização e amplia a percepção narrativa, principalmente no que diz respeito à compreensão das diversas representações Gráficas de passagens de tempo”, explica Octavio Aragão, professor de Desenho Industrial da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ. Reproduzindo contextos da realidade e valores culturais, são as histórias em quadrinhos que oferecem a oportunidade para as crianças, desde cedo, ampliarem seus conhecimentos sobre o mundo, aumentando sua criatividade e aguçando sua imaginação. “As HQ e as tirinhas tornam o ensino mais lúdico e menos árido.
Podem ser um importante instrumento capaz de motivar o aluno para a leitura e para os estudos. Elas o ajudam a construir uma narrativa Mafalda, Dom Quixote e Santos Dumont são alguns dos personagens de histórias em quadrinhos que foram parar nas salas de aula. Se no passado os gibis eram vistos com maus olhos, hoje a situação é bem diferente. Muitos são os professores e pedagogos que utilizam o atrativo das histórias em quadrinhos como material didático de apoio, para além do que está subentendido entre um quadrinho e outro da história. Contribuem, portanto, para o desenvolvimento da própria linguagem, da criatividade e de conceitos como o de causalidade”, afirma Francisco Caruso, físico, fundador da Oficina Eduhq (Educação Através de Histórias em Quadrinhos e Tirinhas) e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
De acordo com Octavio Aragão, os gibis não servem apenas como introdução à leitura. “Os leitores de quadrinhos tendem a desenvolver uma percepção mais aguçada e uma associação de informações complementares com maior eficiência e rapidez, pelo fato de cruzarem referenciais e códigos de fontes diferentes em apenas um contexto. O leitor aprimora a acuidade visual e estabelece rápida associação de idéias”, explica o professor.
Para a Leonor Werneck dos Santos, professora do Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras (FL) da UFRJ, os quadrinhos são importantes materiais para a sua área de trabalho. “É um texto divertido, ágil e bastante interessante. Acredito que em Língua Portuguesa eles são material de leitura especialmente útil, porque o apoio do discurso não-verbal colabora na construção de sentido do texto, ou seja, a multiplicidade de linguagens é extremamente motivadora”, aponta a professora, acrescentando que “como dizia Paulo Freire, aprendemos a ler o mundo antes de ler as palavras. Ver televisão, ler gibis, ouvir música, tudo isso colabora na formação do leitor crítico. O excesso é que deve ser combatido”.
Movimento contra
Contudo, nem sempre as HQ foram pensadas como instrumento de Educação. Pelo contrário, professores e especialistas acreditavam que sua dimensão visual poderia atrapalhar o desenvolvimento intelectual das crianças. Seu potencial pedagógico, porém, foi percebido na década de 1940, nos Estados Unidos, quando o exército norte-americano desenvolveu manuais de treinamento em quadrinhos.
Passado histórico
Narrar através de desenhos é um recurso utilizado desde a pré-história, como mostram as pinturas rupestres que são consideradas, por muitos, como precursoras das histórias em quadrinho. Porém, tal como se conhece hoje, elas surgiram na metade do século XIX. Les Amours de Monsieur Vieux-Bois, publicada em 1837, escrita e desenhada por Rodolphe Topffer (1799-1846), professor da Universidade de Genebra, é considerada a primeira delas. E, com Little Bears and Tykes, desenhada por James Swinneston e editada em 1892 pelo jornal San Francisco Examiner, a idéia chegou aos EUA. A primeira história em quadrinhos brasileira foram As aventuras de Nhô Quim, de Ângelo Agostini, publicada na revista Vida Fluminense, em janeiro de 1869. Entretanto, com Tico-Tico, em 1905, destinada especificamente ao público infantil, contendo contos, textos informativos e curiosidades sobre matérias para crianças, o gênero ganhou importância.
O texto original está diponível em PDF no link http://www.jornal.ufrj.br/jornais/jornal26/jornalUFRJ2622.pdf