Discurso sobre quadrinhos na mídia impressa começa a mudar
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A revista "Época" da semana passada trouxe uma matéria sobre a chamada literatura em quadrinhos. Segundo a reportagem, os novos "reis do mundo" não são Super-Homem ou Hulk, e sim Machado de Assis e Eça de Queirós (alusão às adaptações de "O Alienista" e "A Relíquia", lançadas neste ano). A "IstoÉ" -também da semana passada- trouxe uma matéria de duas páginas a respeito do mesmo assunto: a ida dos quadrinhos às livrarias.
A revista "Língua Portuguesa" deste mês traz uma reportagem de seis páginas sobre o jornalismo em quadrinhos, gênero que ainda se firma e que tem no jornalista maltês Joe Sacco o principal representante. A matéria, feita por Luiz Costa Pereira Junior, é representativa por dois motivos: 1) é uma das mais completas sobre o assunto; 2) leva o tema "quadrinhos" a um universo de leitores que tradicionalmente não acompanha quadrinhos. O maior exemplo, no entanto, foi visto no último domingo. E também sobre jornalismo em quadrinhos. A "Folha de S.Paulo" publicou 16 páginas em quadrinhos feitas por Joe Sacco.
A reportagem em quadrinhos foi veiculada no "Mais!", caderno voltado a literatura e artes. O caderno é lido principalmente pelo grupo rotulado como "formador de opinião", que, embora pequeno, influencia o modo como outros enxergam temas artísticos.
A presença da história de Sacco no caderno repercutiu, dentro e fora do jornal.
Pessoas que historicamente ignoravam quadrinhos passaram a noticiar o tema.
"Formadores" porque fazem um recorte de tudo o que é produzido em termos artísticos dentro e fora do país e o leva até o leitor, na forma de notícia.
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Do que se pode ver no calor dos acontecimentos, não se trata de um reconhecimento tardio ou algo do tipo.
O ponto é que os quadrinhos tomaram posse de dois aspectos valorizados pelos "formadores de opinião".
O primeiro foram as livrarias.
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O outro ponto é que os quadrinhos se vincularam a três rótulos pra lá de prestigiados em todos os âmbitos sociais: educação e, principalmente, jornalismo e literatura.
Aos olhos do formador de opinião e do novo consumidor, não se trata de quadrinhos feitos com viés jornalístico. É exatamente o contrário. É jornalismo produzido em quadrinhos.
Destaca-se em primeiro lugar o teor jornalístico, valorizado socialmente, tido como "sério". Os quadrinhos vêm em segundo plano, acompanhando o rótulo "principal". Há uma sensível diferença.
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Uma das discussões que sempre nortearam a área era se quadrinhos eram literatura ou uma linguagem autônoma (embora com um claro diálogo entre as duas formas de arte).
Sempre defendi que associar quadrinhos à literatura era uma forma de buscar um rótulo socialmente aceito e prestigiado -a literatura- para justificar a aceitação dos quadrinhos.
Ironicamente, foi o que ocorreu. Corrigindo: que está ocorrendo.
A apropriação dos termos "literatura" e "jornalismo" ajudou a furar o bloqueio invisível da mídia impressa, que dá sinais de que começa a ver os quadrinhos como "algo sério".
Não pelos quadrinhos em si, mas pelas livrarias, pela educação, pelo jornalismo, pela literatura.
Não deixa de ser relevante.
E é uma porta de entrada para que outros gêneros dos quadrinhos sejam, enfim, descobertos.
Para quem se interessar e quiser saber outros dados, o texto integral pode ser lido no Blog dos Quadrinhos, http://www.blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/
3 comentários:
Olá Natania,
Só para acrescentar mais dados a esta noticia, as aplicabilidades de usar os quadrinhos como objeto de estudo ou veiculo que conduza alguma pesquisa também tem sido ampliada na área de Antropologia, do qual faço parte. Nos últimos anos tenho defendido pesquisas e projetos sobre esta interface nos congressos da área.
Como também projetos paralelos, como o "Passos Perdidos, História Desenhada", ganhador do último HQMIX, no qual propomos adaptar para os quadrinhos não obras de literatura, mas teses acadêmicas (no caso uma na área de antropologia/história). Gerando assim nossas possibilidades para os quadrinhos enquanto veiculo para escoar a produção intelectual dos nossos pesquisadores.
Nosso mais recente produto agora é adaptar para os HQ´s uma série de livros de um historiador famoso do século XVII, José Antônio Gonsalves de Mello. São as histórias em quadrinhos mostrando a que vieram....
Abraços,
Amaro Braga
Isto é muito bom! Obrigada pelas informações, Amaro! Se quiser dar mais detalhes, o blog está a sua disposição.
:-)
oi Natania...
Sabe... desde os primeiros meses do ano que noto algo diferente no mundo dos quadrinhos... muita gente boa produzindo histórias independentes, alguns brasileiros produzindo para o exterior e de um tempo pra cá também tenhos visto muitos professores buscarem atividades nos quadrinhos. Creio que esse é o ano de unir educadores, artistas e profissionais dos quadrinhos... acho que tanto o mercado quanto a educação só têem a ganhar...
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