Já falamos de biografias de personagens famosos, agora é a vez de falar de um outro gênero: a autobiografia em quadrinhos. Os quadrinhos autobiográficos são o gênero que mais representa, hoje, os quadrinhos alternativos, especialmente nos Estados Unidos. O ato de se revelar perante o público, expor sua história pessoal, mostrar seus pensamentos e sentimentos, é único para cada autor. Cada HQ é diferente da outra – não somente pela história, é óbvio, mas principalmente pela forma de contá-la.
E não pensem que são apenas as pessoas famosas que recorrem a este gênero dos quadrinhos para publicar suas histórias de vida. Não mesmo! Pessoas comuns, como eu e você que tiveram sua vida marcadas por experiências boas e ruins, encontram na autobiografia um forma de refletir sobre sua vida, compartilhar passagens dela com outras pessoas e, por que não dizer, superar traumas passados, não apenas escrevendo sobre eles mas, especialmente, representando-os através do desenho.
A autobiografia em quadrinhos que talvez tenha tido a maior repercussão nos últimos anos foi a da iraniana Marjane Satrapi que viu seu país ser completamente transformado a partir de 1979, com a revolução islâmica. Para contar sua história ela publicou Persépolis. Ela tinha 10 anos, teve que trocar se escola, usar véu e parar de estudar francês. Não podia usar jeans, ouvir rock ou usar um par de tênis. Seus pais, que intelectuais liberais – além de terem apoiavam o governo anterior - passaram a ser perseguidos e ela presenciou os horrores da guerra, quando uma bomba caiu em seu bairro. Mas como nem tudo são lágrimas, a história também mostra momentos de descontração em família e até passagens cômicas, envolvendo a autora.
Persépolis foi lançado na França, em 2001, por uma pequena editora independente. Tornou-se um fenômeno de crítica e público. No mesmo ano, o primeiro volume ganhou o importante prêmio do Festival de Angoulême, na França. Persepólis foi considerada a melhor história em quadrinhos de 2004 pela Feira do Livro de Frankfurt. O sucesso de Persepolis, foi tão grande que a série (que tem 4 partes) teve os direitos de publicação vendidos para Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Israel, Suécia, Finlândia, Noruega, Japão, Coréia do Sul, Hong Kong, Turquia e Estados Unidos, inclusive o Brasil, onde foi publicada pela Companhia das Letras. Persepolis foi transformado em um longa de animação, dirigido pela própria e por Vincent Paronnaud, vencendo o Festival de Cannes deste ano, que se encerra neste fim de semana. Persepolis é uma história de vida e uma aula de história.
Para quem quer mais informações, Flávio Calazans fez comentários interessantes sobre a obra, no link: http://www.revistaetcetera.com.br/old/14/visuais/satrapi1.htm, além disto há um site oficial da série, cujo link é http://www.sonyclassics.com/persepolis/
4 comentários:
Nesse quesito, eu recomendo a todos lerem o Epiléptico de David B. (que foi o incentivador de Satrapi). Uma HQ autobiográfica de grande impacto e expressividade!
Hunter (Pedro Bouça)
Satrapi é excelente. E esse é um gênero de quadrinho onde se encontram mulheres no Ocidente produzindo há algum tempo. Mas o legal da Satrapi é que ela é intimista e ao mesmo tempo consegue mostrar o cotidiano ao seu redor, a Revolução em si, a sua visão dos fatos. Eu realmente amo Persépolis.
Eu usei Persépolis como exemplo de autobiografia em quadrinhos porque trata de dois temos muito interessantes: A Revolução Islâmica e a situação das mulheres no Oriente Médio. É realmente uma HQ que vale a pena ser lida e com a qual a gente pode ter uma outra perspectiva de um momento da história que, para nós do Ocidente, é cheio de lacunas.
Eu gotaria de ler Epiléptico. A Conrad lançou recentemente. Li uma resenha sobre esta autobiografia. Infelizmente ainda não poderei adquiri.
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