PEDRO CIRNE
colaboração para a Folha de S.Paulo
Não é de hoje que editoras nacionais investem em adaptações de clássicos da literatura brasileira para quadrinhos, mas 2009 está sendo um ano de crescimento do gênero.
Esses lançamentos e as promessas de novas adaptações mostram que editoras e quadrinistas têm se aprofundado no gênero. Para 2009, estão previstos "O Ateneu", de Bira Dantas (Escala); "O Cortiço", de Ivan Jaf e Rodrigo Rosa (Ática); e "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Edgar Vasques e Flavio Braga (Desiderata).
Uma novidade é o reaparecimento de Luiz Gê, grande quadrinista dos anos 80, que volta a fazer HQs para uma editora depois de quase uma década parado. O resultado é "O Guarani", que não deixa o lado romântico de lado, mas prima pelas sequências de aventura.
"É preciso ter estrutura editorial para fazer quadrinhos de página [publicados em livros ou revistas], que é diferente das tiras em quadrinhos [publicadas em jornais]", diz Gê, ao explicar por que se envolveu com projetos fora das HQs. "As editoras grandes abriram os olhos e estão publicando quadrinhos. É a primeira vez na minha vida que existem boas condições para fazer quadrinhos no Brasil."
Se "O Guarani" foi para Gê um retorno aos quadrinhos, "Jubiabá" foi para Spacca uma mudança de gênero -suas três últimas obras foram biografias de pessoas ligadas à história brasileira. O livro é uma adaptação de um dos primeiros romances escritos por Jorge Amado, em 1935.
"A história traz muitas situações que seriam abordadas em outras obras de Jorge Amado: circo, greve, pai de santo, Recôncavo Baiano, boxe como espetáculo público, jagunço...", comenta Spacca.
Já em "O Pagador de Promessas", Eloar Guazzelli adapta a peça de teatro de Dias Gomes. "É impossível adaptar uma peça de teatro sem fazer interferências. Posso cortar, mas não posso colocar nada extra", diz. "A diferença é a liberdade. Em um trabalho autoral, faço o que quero."
"O Alienista" parece ter caído no gosto dos quadrinistas nacionais. A versão de Luiz Antonio Aguiar e Cesar Lobo é a terceira em três anos --as outras duas foram dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, em 2007, e a de Lailson de Holanda Cavalcanti, no ano passado.
Futuro
Para Spacca, a onda de adaptações literárias pode servir para criar novos leitores de quadrinhos. "Espero que sejam uma brecha para impactar os leitores e mostrar que as histórias em quadrinhos são muito mais que isso."
Guazzelli vê um paralelo entre as adaptações da literatura para os quadrinhos de hoje com as para a televisão feitas décadas atrás. "A televisão começou assim e, se você olhar hoje para adaptações televisivas, verá que são verdadeiras obras-primas", afirma. "É um espaço que se está criando. Tenho certeza de que o nível do material está entre médio e bom."
"Cada um que aparece mostra um jeito independente de adaptar", pondera Luiz Gê. "Muito pode ser feito. O gênero está longe de se esgotar."
ORIGINALMENTE PUBLICADO NA FOLHA
ARTIGO SUGERIDO POR MAURO CÉSAR
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