sábado, 3 de maio de 2008

A Corte Portuguesa no Brasil: história contada através dos quadrinhos

As comemorações da data começaram no final do ano passado e atingiram seu clímax em abril deste ano. Muitas publicações foram feitas, principalmente livros e revistas que narram a viagem e as histórias em torno deste período, marcado por grandes transformações culturais, econômica e políticas no Brasil. Nas linhas que seguem, pretendo tratar destas transformações e, ao mesmo tempo, mostrar como os quadrinhos retrataram personagens marcantes deste nosso período histórico, que considero ainda pouco explorado e comentado nas salas de aula do nosso país.

Tudo começou com o Bloqueio Continental criado por Napoleão em 1806, o qual pretendia sufocar econômica mente sua maior inimiga, a Inglaterra. Dom João, reina época príncipe regente de Portugal relutou em compactuar com Napoleão, tentando se manter neutro dentro desta disputa. Como governante ele não desejava uma guerra nem com a França, nem com a Inglaterra. A estratégia funcionou por algum tempo, até que Napoleão ordenou a invasão de Portugal e D. João teve de aceitar o plano de fuga proposto pelos Ingleses e transferir a Corte Portuguesa para o Brasil.

Foi uma viagem longa, em navios lotados – dizem que D, João trouxe consigo cerca de 15 mil pessoas, membros da administração pública e da nobreza lusitana -, viajando com animais vivos, sem condições mínimas de higiene e privacidade. As acomodações eram as mais simples: a corte teve de se contentar com redes estreitas e muita gente acabou dormindo no chão. Os deques reservados aos nobres eram mal ventilados e não garantiam a menor privacidade dos seus ocupantes. Dom João viajou na cabine do comandante. Era o lugar mais confortável do navio.

A chegada de Dom João e da Corte ao Brasil, em 1808, trouxe um verdadeiro choque cultural, político e econômico à colônia portuguesa. Era uma situação nova: um futuro rei e sua família morando em uma colônia, distantes da metrópole e tendo que se adaptar a um novo mundo. Ocorreu uma troca, uma reciprocidade entre o futuro rei a sua nova casa, onde ele seria, por fim coroado, após a morte de sua mãe, a rainha D. Maria I. Da mesma forma que Dom João e a Corte provocaram mudanças na cidade do Rio de Janeiro, onde se estabeleceram também a cidade veio a promover mudanças em vários hábitos dos portugueses, recém chegados. Talvez por esta razão a historiadora Lilia Moritz Schwarcz tenha dado o título de D. João Carioca, à HQ que produziu juntamente com quadrinista Spacca, onde conta a chegada da corte portuguesa ao Brasil (clique aqui para saber mais sobre esta HQ).

A cidade cresceria de forma rápida e desordenada. Não havia nem mesmo moradias disponíveis para todos os recém-chegados e muitas pessoas tiveram que ceder suas casas à Corte por ordem do regente. Este episódio deixou marcas não apenas nas portas das moradias, selecionadas para acomodar os nobres portugueses, mas em muitas família, nem todas satisfeitas em perder suas casas, por tempo indefinido, e ter que ir morar na periferia ou na zona rural. Para contar este episódio, o quadrinista André Diniz escreveu uma HQ muito interessante, chamada “Ponha-se na rua” (mais detalhes, clique aqui), onde através da ficção procura mostrar o impacto das mudanças que estavam ocorrendo na história do nosso país, e nem todas tinham apenas efeitos positivos.

Junto com a abertura dos portos e com a elevação do Brasil a Reino Unido, também a forma de se retratar o país estava mudando. Homem erudito, Dom João promoveu a vinda de artistas, cientistas e outros estudiosos europeus para desvendar os mistérios e retratar as belezas da nova sede do Império. Destacaram-se a Missão Artística Francesa (1816), a Missão Austríaca (1817) e a Expedição Langsdorff (1824). Estas missões, que tinham por objetivo “mapear” a cultura e a natureza brasileira, ajudaram a criar uma identidade para o país perante o mundo. Dentre os cientistas e artistas que aqui chegaram, um se tornou famoso pela forma como ilustrou nossa terra e nosso povo em seus quadros Jean-Baptiste Debret, que morou no Brasil, de 1816 a 1831. Não raramente, suas obras são encontradas em livros de História, mostrando o cotidiano brasileiro na primeira metade do século XIX. O quadrinista Spacca dedicou uma HQ a este personagem histórico, chamada de "Debret em Viagem Histórica e Quadrinhesca ao Brasil" (para saber mais, clique aqui). De 1834 a 1839 Debret publicou, em três volumes, "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", retratando o dia-a-dia brasileiro: paisagens, índios, escravos, condecorações e cenas da sociedade carioca.

Toda esta parte da história do Brasil pode ser contada e ilustrada através dos quadrinhos, como fizemos neste pequeno trecho. Opções, atualmente, não faltam. Nos primeiros parágrafos, por exemplo, usamos alguns quadros e tiras retirados da revista "Você Sabia?" - Independência do Brasil, da Turma da Mônica. Atividades variadas podem ser feitas com este material, tendo-se em vista que os quadrinhos não vão substituir o texto histórico convencional ou os exercícios comumente aplicados nas salas de aula, mas sim enriquecê-los e torná-los mais compreensíveis aos alunos.


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