Nascido na região italiana do Piemonte e criado em Paris, Angelo Agostini chegou a São Paulo por volta dos 20 anos de idade, lançando em 1864 seu primeiro periódico de textos e ilustrações, o Diabo Coxo. A esta experiência pioneira (primeiro jornal ilustrado da província) se seguiria, em 1866, o Cabrião. Após mudar-se para o Rio de Janeiro, e ainda inspirado nos jornais de caricatura europeus (como Le Charivari), Agostini lançou, em 1876, o semanário Revista Illustrada, com críticas à sociedade do Segundo Império, e em 1895, já sob o governo republicano, o jornal Don Quixote, além de participar de diversas publicações de outros editores como O Malho e O Tico-Tico (estas no início do século 20).
Quer seja quando fazia caricaturas de governantes, quer seja ao retratar personagens anônimos da vida brasileira, Agostini produziu em litografia um importante documento histórico (em potencial) sobre os tempos do Segundo Império e os primeiros anos da República. Atento aos acontecimentos e engajado nas lutas pela liberdade dos escravos e pela liberdade de imprensa, Agostini (como todo bom “jornalista humorístico”) desagradava aos donos do poder, enquanto seus jornais e desenhos gozavam de popularidade entre os leitores. Para o semiólogo e pesquisador de quadrinhos Antônio Luiz Cagnin:
“Ainda que pioneiro nas histórias em quadrinhos, Agostini foi mais conhecido como caricaturista e como tal se destacou no panorama da vida nacional por sua atuação na imprensa ilustrada. Empunhando as armas do riso e da sátira, exerceu uma influência efetiva na formação da opinião pública, sobretudo em momentos decisivos da vida nacional: a abolição da escravatura e a proclamação da república. Esse mesmo poder persuasivo através da imagem, Agostini havia exercido antes, em São Paulo, por ocasião da guerra do Paraguai” (Phenix, 1996, p.10).
O crédito pelas informações biográficas sobre Angelo Agostini, apresentadas aqui, deve-se ao trabalho de revisão crítica realizado por Antônio Luiz Cagnin (e divulgado na edição de estréia da breve revista de pesquisa sobre histórias em quadrinhos Phenix). Infelizmente, apesar da importância de Agostini para o humor político e os quadrinhos no Brasil, ele é hoje virtualmente desconhecido do público em geral. O que se deve principalmente ao fato de serem raras as republicações de seus trabalhos (merecendo destaque a excelente coletânea de seus quadrinhos lançada, em 2002, pelo Senado da República). Aliado a isso, o número limitado de pesquisas sobre o humor político brasileiro e a restrita divulgação dos trabalhos realizados dificultam a construção de uma história da caricatura no Brasil.
Quando realizei minha pesquisa de Mestrado há dez anos e concluí minha tese de Doutorado há cinco anos, de fato o número de pesquisas acadêmicas e o interesse pelo humor e pelos quadrinhos brasileiros era bastante limitado. Felizmente, nos últimos anos, as instituições acadêmicas têm se mostrado mais abertas a trabalhos sobre o tema. Além disso, a boa recepção dos livros do pesquisador Gonçalo Júnior e de obras como O rebelde do traço: a vida de Henfil escrito por Dênis de Moraes chamaram a atenção das editoras para um filão mercadológico pouco explorado.
Com isso, novas publicações têm surgido todos os meses, como o recém-lançado A leitura dos quadrinhos, livro no qual o jornalista Paulo Ramos analisa a linguagem das HQs. E isso sem falar no incansável e importantíssimo esforço de Henrique Magalhães, que através da editora Marca de Fantasia dá vazão a uma parte significativa da produção acadêmica nacional voltada aos quadrinhos, humor e linguagens afins. Mas se o cenário melhorou nessa última década, há ainda muito o que se pesquisar e principalmente publicar, para termos resgatada e valorizada a memória de nossos quadrinhos e desenhos de humor. Uma tradição brilhantemente iniciada por pioneiros como Angelo Agostini.
Fonte: http://maisquadrinhos.blogspot.com/
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