Por Fátima Prado
Disponível em: http://kittyprado.wordpress.com/2009/07/28/a-segunda-guerra-e-os-quadrinhos/#more-775
Em 1939 começa a segunda guerra mundial. O nazismo avança pela Europa e a situação de incerteza e medo domina o planeta. Nos EUA, era necessário inspirar na população o nacionalismo para aumentar a certeza da vitória na guerra. Com esse propósito, os meios de comunicação de massa foram largamente utilizados.
No caso dos quadrinhos, o mecanismo de persuasão era simples. Quando o leitor gosta de um personagem, com o tempo passa a imitar parte de seu comportamento e a acreditar na maior parte do seu discurso. Com isso, quando idéias antinazistas são lançadas nas histórias, são grandes as chances de serem assimiladas pelo público.
Os quadrinhos eram um sucesso e não escaparam do processo mesmo antes da entrada dos EUA na guerra. O Príncipe Valente em suas histórias lutou contra os hunos (na gíria inglesa, germânicos). Dick Tracy e X-9 combateram espiões. Tarzan lutou contra soldados coloniais nazistas. Entretanto, foi em Super-Homem que os editores encontram a fórmula do sucesso. Afinal, para combater a ameaça o nazista cada vez mais próxima o público necessitava de algo mais do que um homem.
A partir do êxito de Homem de Aço, os quadrinhos americanos passam a ser editados em revistas próprias, as chamadas comic-books. A mensagem ideológica era transmitida em histórias em que esses heróis enfrentavam espiões nazistas ou conspirações de alemães, japoneses e italianos.
Quando os Estados Unidos entraram no conflito, em 1941, os quadrinhos já divulgavam suas mensagens de propaganda ideológica. O mais conhecido deles é o Capitão América. Jack Kirby e Joe Simon, criam um super-herói que literalmente veste a bandeira americana, pois seu uniforme é estrelado e listado nas cores da bandeira dos EUA. Logo na primeira edição do gibi, o Capitão já aparece dando um soco em Hitler. Assim, tornou-se o primeiro herói declaradamente inimigo dos nazistas e de tudo que possa ameaçar a democracia americana. Se Super-Homem surgiu como um alienígena defensor da justiça, Capitão América era Steve Rogers, um americano de verdade, lutando no front.
Heróis criados para a guerra
Em 1942, o psicólogo William Moulton Marston criou a primeira super-heroína, a Mulher Maravilha, que assim como o Capitão América, também vestia as cores da bandeira americana (com uma águia no peito e estrelinhas na saia). Sua função era clara: mostrar para as mulheres que elas eram capazes de cuidar de si mesmas quando os homens fossem para a batalha. A personagem tentava levar a mensagem de que as mulheres tinham de entender seu potencial, lutar por direitos iguais e resolver suas próprias vidas.
Outros heróis como Sentinelas da Liberdade, Sociedade da Justiça, Capitão Marvel, Namor, Tarzan, Mandrake, Fantasma e Flash Gordon, entre outros, lutaram na Segunda Grande Guerra combatendo nazistas e japoneses. Superman desmantelou uma muralha de submarinos no Atlântico, preparando a invasão aliada. Por seus poderes sobrenaturais tidos como ameaçadores a uma política fascista, Flash Gordon teve suas histórias proibidas por Mussolini na Itália.
Mas não foram os super-heróis os únicos convocados para a guerra. Os estúdios Disney entraram na propaganda contra os inimigos dos EUA. Mickey Mouse, por exemplo, foi usado até mesmo em cartazes de guerra que lembravam os americanos do ataque japonês a Pearl Harbor. O nome “Mickey Mouse” chegou a ser, inclusive, um dos códigos usados pelas tropas americanas no desembarque na Normandia, no “Dia D”.
Na mesma época, foram criados personagens como parte da política de boa vizinhança dos EUA. Um dos exemplos é o personagem Zé Carioca, representando o Brasil, e Panchito, simbolizando o México.
Se os aliados usavam os quadrinhos como arma, os alemães e os italianos percebiam o engajamento dos personagens. Hitler bania os gibis de O Príncipe Valente das cidades que conquistava e mandou seu ministro das comunicações, Herr Goebbels, preparar um duro discurso atacando os personagens Disney, em especial Donald. Benito Mussolini proibiu a venda dos gibis norte-americanos na Itália.
A comprovação da utilização das histórias em quadrinhos como instrumento de propaganda ideológica durante a Segunda Guerra Mundial é uma prova de seu poder como meio de comunicação de massa, assumindo um importante papel na formação do imaginário e da cultura mundial.
Hoje os quadrinhos estão menos políticos? Apesar das temáticas cada vez mais adultas, as HQs estão longe de ter o mesmo papel que tiveram durante a segunda guerra. Mas como o Obama foi capa do Homem Aranha, os leitores sempre podem aguardar mais pitadas de realidade dentro do mundo dos quadrinhos e super-heróis.
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