Documentário J. Carlos: Traço fino
O cartunista J. Carlos colaborou com as principais publicações brasileiras de 1902 a 1950. Homenageado neste carnaval pela escola Acadêmicos da Rocinha, o ilustrador é também protagonista de um documentário produzido pelo Futura, J. Carlos – a figura da capa.
Tradutor de notícias em imagens que os principais jornais e revistas brasileiros publicaram durante as cinco primeiras décadas do século XX, José Carlos de Brito e Cunha trabalhou intensamente na imprensa do Rio de Janeiro e teve seus desenhos publicados em inúmeros veículos influentes da mídia impressa de seu tempo.
No filme, uma produção do bisneto do ilustrador, José Eduardo Brito Cunha, depoimentos de Chico Caruso, Zuenir Ventura, Lan, Isabel Lustosa, entre outros, recontam a história do cartunista, em sua passagem por periódicos como O Cruzeiro, Careta, Fon-Fon, Para Todos, O Malho e outros.
Realidade desenhada
As guerras mundiais de 1914 e 1939 e a Semana de Arte Moderna foram alvo do elegante traço de J. Carlos, que ilustrava da folia carnavalesca ao Palácio do Catete, de carona nos bondes que partiam da galeria Cruzeiro para satirizar os badalados bailes da burguesia carioca.
Símbolo de uma época em que desenhos podiam representar mais que o próprio discurso, J. Carlos se transformou em inspiração para muitos chargistas da atualidade, com uma produção que abrange ilustrações de texto, publicidade, histórias em quadrinhos, charges, caricaturas, vinhetas, capas de revistas e livros infantis.
O documentário revela curiosidades da vida do autor, como a sua quase mudança para os Estados Unidos a pedido de Walt Disney, que se encantara por seu traço. J. Carlos, carioca inveterado, declina o convite, mas não sem antes deixar um presente para o criador do ratinho mais emblemático de todos os tempos: um esboço do que viria a ser a figura do simpático papagaio Zé Carioca.
filme mostra o que resta da obra de cinco décadas de trabalho do cartunista, que hoje está, em sua maior parte, guardada na casa de seu filho em Petrópolis.
J.Carlos – a figura da capa
Veja abaixo uma entrevista com Zé Brito, repórter do Futura e diretor do documentário:
De onde surgiu a ideia de fazer o documentário?
A ideia é antiga. Surgiu em 2003, quando eu ainda era repórter do Globo Ecologia e nem pensava em trabalhar no Futura. Comecei então a recolher alguns depoimentos em vídeo para fazer um piloto e apresentar a algum canal de TV. Gravei com a maioria dos entrevistados na época. No início do ano passado, apresentei uma proposta de documentário ao Canal, que se interessou muito, mas não conseguiu viabilizar o orçamento proposto. No fim do ano, com a definição dos enredos das escolas de samba para o carnaval 2009, a Acadêmicos da Rocinha escolheu homenagear J. Carlos, com o enredo Tem Princesinha no Salão, o Rio no meu Coração. Fizemos um acordo e o que era material para o piloto passou a servir também para o produto final. Gravamos outras seqüências, outros depoimentos, caricaturas e terminamos no barracão da Rocinha.
Como foi o processo de produção?
O maior desafio foi o curto espaço de tempo para a produção, gravação e edição do material. Esse é um processo lento que leva em conta pesquisa, cronogramas e, é claro, edição. Quando tudo foi aprovado no início de janeiro, decidimos começar a gravar. A partir daí chegamos à conclusão de que exibir antes do carnaval seria a melhor escolha, porque mostrava o nosso interesse em divulgar a obra antes da imprensa em geral falar sobre os enredos das escolas de samba. Foi aí que a correria começou. Sabíamos que não havia margem de erro pra nada. Se chovesse muito (e choveu) teríamos que adiar algumas cenas, se alguém ficasse doente, se os entrevistados estivessem de férias, se alguém viajasse, se a ilha de edição desse problema... Eram tantos “se´s’, que tudo era uma aposta. E deu certo. O documentário ficou pronto a 48 horas da exibição.
Quanto a pesquisa, foi ampla, afinal, são mais de 150 mil desenhos. Sem a ajuda crucial do meu avô, não teria êxito. Ele teve a maior paciência do mundo em abrir os arquivos e gavetas de sua casa em Petrópolis infinitas vezes para a equipe. Aliás, essa é uma das coisas das quais tem mais orgulho: mostrar a obra do pai para os outros.
Algum caso curioso que tenha ocorrido durante o processo?
No barracão da Rocinha, em um ensaio técnico que ocorreu há uma semana, a família de J. Carlos e alguns caricaturistas haviam sido convidados. Meu avô disse que foi ótimo, apesar de lotado, e que sambou com a Luisa Brunet durante a noite inteira. Disse que tem até uma foto em que ela o pega no colo.
Para assistir a trechos do documentário na chamada do Canal e ler mais sobre o processo, Zé Brito disponibiliza o seu blog: www.foradapauta.wordpress.com
Fonte: http://www.canalfutura.org.br/main.asp?View={D2EF690E-49AB-498F-9011-7957E4D9F702}&Team=¶ms=itemID={973ACA07-7CD1-42AF-9D17-4B2040D5BE24}%3B&UIPartUID={D90F22DB-05D4-4644-A8F2-FAD4803C8898}
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