A ideia sempre foi ousada: misturar os caminhos de fomentação da
leitura de uma biblioteca com a criação de um espaço de convívio e
lazer, como o de um parque. Deu certo. As Bibliotecas Parque
despontam hoje como projetos multifuncionais de sucesso em áreas de
risco da cidade. Depois de fincar estantes e projetos bem-sucedidos em
Manguinhos e Niterói, o modelo, vinculado ao Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), ganha a comunidade da Rocinha. A partir de 4 de
junho, o C4 – Centro de Convivência, Comunicação e Cultura – abre as
suas portas, com cinco andares dedicados à literatura, às artes, à
integração dos moradores com as práticas locais, à cultura contemporânea
e, é claro, aos clássicos.
Inspirada no formato bem-sucedido de experiências realizadas em
Medelin e Bogotá, na Colômbia, a Biblioteca Parque é um espaço de troca e
aprendizado, desenvolvido para o aprimoramento social e cultural.
Através da reflexão e da criação, o projeto contribui para a diminuição
da violência, criando um espaço de convivência dentro da comunidade. A
expectativa é de que a nova biblioteca da Rocinha receba 216 mil pessoas
por ano, entre moradores da região e de bairros próximos, tendo
capacidade inicial para 15 mil livros e dois mil DVDs, além de
disponibilizar 48 computadores e 12 notebooks pra uso.
Espaço aberto de diálogo entre o livro e o conhecimento
A diretora da C4, Daniela Ramalho, conta que a ideia de criar um
centro cultural nasceu fundamentalmente de um sonho da própria
comunidade, que levou o desejo até a Secretaria de Estado de Cultura.
"Há uma grande expectativa na região porque a Rocinha tem muitos grupos
e atores sociais e culturais, que são interlocutores importantes para o
nosso trabalho. Sabemos que a Rocinha é muito populosa e que o público
do espaço vai ser muito grande. Por isso, temos conversado com as
lideranças e manteremos permanentemente um diálogo aberto com os
moradores e com esses agentes”, declara.
O jornalista Robson Melo, funcionário do setor de mídia e música da
Biblioteca Parque da Rocinha, atesta, como morador fiel, a implementação
do projeto como um grande passo para a comunidade. “É o espaço público
mais importante de todos os tempos na Rocinha, porque, apesar das nossas
outras reivindicações por melhorias nas condições da favela, cultura
não tem preço. Podem te levar tudo, menos o seu conhecimento. A
biblioteca vai trazer toda uma vida de saber e criação para comunidade”,
garante ele, que costuma incomodar-se com o ambiente formal das
bibliotecas tradicionais. “Eu gosto de ler, mas não gostava de
biblioteca. O silêncio obrigatório do espaço me incomodava porque
acredito em momentos de conversa e de interação durante uma leitura. O
centro de convivência da C4 permite que as pessoas dialoguem e debatam”,
acrescentou o jovem de 29 anos.
Para a Superintendente da Leitura e do Conhecimento, Vera Saboya, a
biblioteca potencializa uma tendência que já fervia na comunidade. “A
Rocinha é uma comunidade repleta de artistas, agentes e mediadores
culturais. Ela tem uma vocação cultural muito grande. O modelo da
Biblioteca Parque é de um espaço múltiplo que trabalha todas as artes:
música, cinema, teatro, literatura, gastronomia etc”, comenta. “Na
Rocinha, o prédio que sedia o espaço revela a estrutura arquitetônica
própria do lugar, uma estrutura toda verticalizada”, completa.
A Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes, também reforça a
importância do projeto. "O conceito de biblioteca vem evoluindo muito,
de um lugar apenas guardar livros, de consulta para pesquisas e estudos
para um centro de cultura, conhecimento e de idadania”, explica. “É um
lugar de acesso livre e irrestrito à informação. É isso que forma um
cidadão de primeira classe. E é isso que estamos tentando criar com o
programa de Bibliotecas Parque”.
Além das prateleiras com livros, o conjunto de ambientes do espaço
conta com uma DVDteca, um cineteatro, um sala multiuso para cursos,
estúdios de gravação e edição audiovisual, setor de internet
comunitária, cozinha-escola e café literário. “Queremos fazer um
atendimento de qualidade e, por isso, contamos com historiadores,
atores, bibliotecários, entre outros profissionais. São 45 funcionários,
sendo que apenas sete deles não fazem parte da comunidade. Isso nos
revela uma compreensão que vem de dentro da Rocinha e uma expectativa
enorme. Queremos atrair desde o menino que quer ler o seu gibi até os
grupos culturais que querem desenvolver seus projetos”, acrescenta
Daniela.
“Imaginamos criar em todas as regiões do estado pelo menos uma
biblioteca desse tipo. Todas interligadas, cada uma funcionando como
cabeça de rede das bibliotecas municipais, escolares, comunitárias, de
todos os projetos de leitura e educação. Seriam as condutoras, a
referência de um modelo novo de se discutir a questão do conhecimento,
da formação, da educação”, conclui Adriana.
Em um ano de funcionamento, a Biblioteca Parque de Manguinhos
recebeu 130 mil usuários, teve 61.929 consultas ao acervo e 37
mil empréstimos domiciliares e emitiu 9 mil carteirinhas.
Por sua vez, ao longo de seis meses de funcionamento a Biblioteca
Pública de Niterói – a segunda da nossa rede de bibliotecas-parque,
re-inaugurada em julho de 2011 após cuidadoso restauro e completa
modernização – , recebeu 48.800 usuários, teve 52 mil consultas,
emprestou 25 mil livros e emitiu 5.300 carteirinhas.
Depois da Rocinha, a próxima etapa do projeto é a inauguração da Biblioteca Parque do Alemão.
PUBLICADO NO SITE DA SECRETARIA DE CULTURA DO RIO DE JANEIRO
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