Por Sérgio Codespoti (29/07/09)
A cidade de Bruxelas não é apenas a capital da Bélgica, é a capital mundial dos quadrinhos, batendo concorrentes como San Diego (sede da
San Diego Comic-Con) e
Angoulême (que além de abrigar o festival de mesmo nome também tem o
maior museu de quadrinhos da Europa).
Em um ano normal, Bruxelas oferece aos seus visitantes um
museu de quadrinhos caprichado, dezenas de
comic shops e lojas de artigos relacionados à nona arte, alguns festivais e os famosos murais de quadrinhos (por volta de 50) espalhados pela região central da cidade, retratando personagens das HQs criados por autores belgas.
Se isso já não bastasse, a prefeitura homenageou diversas ruas da cidade, mais de 30, com placas com nomes de personagens belgas das HQs, como
Le Petit Spirou, Os Túnicas Azuis, Ric Hochet e outros.
Mas este é um ano atípico. Este ano o órgão de turismo de Bruxelas decidiu que 2009 seria dedicado aos quadrinhos e criaram o festival
Brussels 2009 BD Comics Strip, com 36 eventos oficiais distribuídos ao longo do ano (incluindo:
Retrospectiva Gir,
Estilo Átomo,
Exposição Goscinny e
a maior pagina de HQ.
Está em cartaz nos cinemas da cidade o longa de animação
Suske en Wiske: De Texas Rakkers (
Bob Et Bobette & Les Diables du Texas), baseado nos personagens de Willy Vandersteen, autor que, aliás está sendo homenageado em duas exposições, uma delas acontecendo na prefeitura da cidade (com direito a três cartazes de Joost Swarte divulgando o evento, pendurados na frente do palacete gótico datado de 1455).
Não gosta de cinema, prefere o teatro? Em 13 de agosto será reprisada a peça
Peter Pan, baseada nos seis álbuns de HQ de Régis Loisel.
Peter Pan, versão teatral, esteve em cartaz em 2008, e é uma adaptação de Benoît Roland e Emmanuel Dekoninck, com direção de Dekoninck e cenografia de Xavier Rijs.
A peça poderá ser vista ou revista até 5 de setembro, no
Chapiteau de l'école du cirque (parte do complexo
Tour & Taxi).
O
Atomium, um dos símbolos não apenas cidade, mas de toda a Bélgica, está exibindo
duas exposições de HQ:
Em busca do estilo atômico (ligada aos artistas da década de 1950, da chamada "escola de Marcinelle", que fizeram uso do
design em suas histórias), com participação de Ever Meulen, Yves Barge, Serge Clerc e Daniel Mariscal Torres; e
14 Visões do Atomium, com 14 imagens dos artistas François Avril, Ted Benoit, Philippe Berthet, Dupuy e Berberian, Ever Meulen, Floc'h, Vittorio Giardino, Jean-Claude Götting, André Juillard, Loustal, Frank Pé, François Schuiten, Joost Swarte e Bernard Yslaire, interpretando o
Atomium.
Aliás, Joost Swarte (que é holandês) não só deu nome "estilo atômico", mas também é o sujeito que cunhou o termo linha clara, que é usado para definir o trabalho de Hergé e dezenas de outros artistas.
E se um museu já não bastasse, a cidade inaugurou no dia 18 de junho um segundo museu de quadrinhos, dedicado ao desenhista Marc Sleen (cujo nome verdadeiro é Marcel Honoré Nestor Neels), que, aliás, tem o título honorífico de Chevalier (o equivalente a um "Cavaleiro"). O evento de abertura contou com a participação do rei da Bélgica, Albert II.
Sleen é o criador do personagem Néron e está no livro dos recordes por ter desenhado sozinho, durante 55 anos, duas páginas diárias de seu personagem.
Curiosamente, o
Musée Marc Sleen fica em frente do
Centre Belge de la Bande Dessinée (o museu dos quadrinhos de Bruxelas), na Rue de Sables. Basta atravessar a rua. Aliás, a Rue des Sables, endereço dos dois museus, foi homenageada com uma nova placa e agora também se chama Rue Smurf (os Smurfs, ou Schtroumpfs, foram criados pelo belga Pierre Culliford, conhecido como Peyo).
Marc Sleen é considerado um dos quatro grandes nomes dos quadrinhos flamengos (belgas da região de Flandres que falam o neerlandês)
Willy Vandersteen, Bob de Moor e Jef Nys.
A cidade de Bruxelas também já foi retratada diversas vezes nas HQs, como por exemplo em Tintim. O álbum
Tintin et la Ville reúne uma série de textos sobre a relação do personagem com as cidades e inclui uma introdução de François Schuiten (que desenhou Bruxelas em suas HQs) e um texto sobre a capital belga assinado por Diane Hennebert (diretora do
Atomium).
Bruxelles dans la BD, la BD dans Bruxelles : Itinéraire découverte e
La BD dans la ville, ambos de Thibault Vandorselaer, são livros que mostram a relação da cidade com os quadrinhos.
Bruxelas também abriga a sede da editora
Lombard, criada por Raymond Leblanc, que em 2006
celebrou 60 anos de atividades.
Aliás, o prédio da
Fundação Raymond Leblanc, próximo à estação de trem/metrô
Bruxelles - Midi, está decorada com um painel de Johan de Moor, que cobre toda uma de suas laterais.
E nem mesmo a estação
Bruxelles - Midi escapa dos quadrinhos, numa de suas entradas existe um painel gigantesco com uma cena de
Tintim na América, na qual ele está sobre uma antiga locomotiva, reproduzida diretamente da arte original (e, portanto, é possível ver parte do desenho à lápis e outros detalhes). No mesmo saguão também existe uma enorme assinatura de Hergé, na parede, e um painel informativo sobre a página de Tintim, e Hergé.
Não dá para negar que Bruxelas respira e vive quadrinhos.
Fonte: http://www.universohq.com/quadrinhos/2009/n29072009_04.cfm