quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quadrinhos e cinema: união atravessa as décadas


Ao final da década de 1940, em Belém, um garoto de dez anos cruzava a avenida Rui Barbosa, quase que diariamente, em busca de revistas de super-heróis. Ia até a banca da esquina e passava horas imerso em revistas, escolhendo as publicações mais recentes. “O jornaleiro era meu amigo, eu já tinha até conta na banca, que pagava no final de semana com o dinheiro da mesada”, lembra Arnaldo Prado Júnior, hoje com 70 anos. Mais de 50 anos depois, a paixão pelo universo das HQs continua. Tanto que Arnaldo ministra a partir do próximo dia 13 o curso “Histórias em Quadrinhos e Cinema”, na Caiana Filmes. Ainda dá tempo de se inscrever.

Em entrevista por telefone, Arnaldo pede, em tom de brincadeira: “Não me chame de senhor!”. Ok, obedeço. Arnaldo então demonstra que mais do que colecionar revistas -hoje ele tem uma parede inteirinha tomada por exemplares raros datados de 1930, almanaques e lançamentos -, ele coleciona memórias destas seis décadas de estudo sobre cinema e quadrinhos. Tanto que não poupa comentários ao rememorar esta época. “Eu gostava de ir a pé às vesperais Passatempo no Olympia, depois no Iracema, e no Cinema Poeira, sempre aos sábados, às 16h. Lá, eram exibidos dois episódios de seriados acompanhados de um longa ou média metragem. O melhor é que na frente do cinema sempre havia pessoas vendendo revistas usadas na calçada”, recorda, aos risos. Era início da década de 1950.

Com o passar dos anos, a curiosidade pelo cinema foi ganhando ares mais sérios e ele decidiu fundar, em 1956, o Cineclube da Juventude, onde reunia amigos para assistir e debater filmes. Foi a senha para que ele e seus textos de crítica cinematográfica ganhassem os principais jornais do Estado, dentre os quais A Palavra, A Folha do Norte e A Província do Pará. Foi assim de 1959 a 1964.

As pesquisas de Arnaldo sempre passaram longe da academia: ele é engenheiro civil por formação, mestre em Ciências e Informática pela PUC do Rio de Janeiro e hoje professor aposentado da Faculdade de Computação da UFPA. Diante do recorrente estranhamento de quem se depara com o seu currículo, ele diz que já tem uma resposta pronta: “Que história é essa? Engenheiro não pode curtir quadrinhos? Cultura é de todo ser humano”, rebate.

Hoje ele mantém o blog Tempos Modernos, em homenagem ao que, em sua opinião, é o melhor filme do século passado. No blog ele comenta sobre informática, cinema, internet e, claro, quadrinhos.

>> Tradição ou tecnologia?

Fã convicto do Capitão Marvel, Arnaldo é enfático quando fala sobre o uso da tecnologia na adaptação dos quadrinhos para o cinema. “É possível fazer coisa boa e ruim, com ou sem tecnologia. Há críticos bem resistentes quanto à utilização da computação gráfica, mas eu não sou um deles. Se a criação do artista parte da imaginação, da fantasia, há cenas que não são possíveis de criar somente com a fotografia, aí entram os efeitos especiais. Mas também não vamos fazer do cinema um videogame”, diz.

Para o crítico, quando se transporta uma história da revista para a telona, só uma coisa é indispensável: a fidelidade à historia original.

“Sou a favor da atualização, mas as características básicas do personagem devem ser preservadas. Acho muito esquisito refazer o destino do personagem de maneira indiscriminada, como aconteceu com o Homem-Aranha. Mudaram completamente a história”, lamenta, em relação ao herói vivido por Tobey Maguire no filme de Sam Raimi. Em contrapartida, ele considera o filme “Watchmen” – adaptação para as telas da série escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons - um grande acerto.

SOBRE O CURSO

O curso “Histórias em Quadrinhos e Cinema” será realizado entre os meses de abril e maio (veja serviço). A proposta é a construção de conhecimento sobre o tema num processo interativo entre os participantes. Serão exibidos trechos de filmes de diversas épocas, dos seriados de cinema “O Fantasma” e “Flash Gordon” aos atuais “X-Men”, “Batman”, “Super-Homem” e “Quarteto Fantasma”.

As aulas tratarão do surgimento das histórias em quadrinhos, a invenção do cinema e os elementos comuns às duas linguagens, que começaram a se desenvolver praticamente no mesmo período: o final do século XIX. Arnaldo também falará sobre a influência das convergências tecnológicas e de mídias na Sétima Arte. “Eu me empolgo muito quando discuto cinema e quadrinhos. Me renovo a cada momento e aprendo muito com os alunos nos cursos que ministro. É como se eu rejuvenescesse”.

SERVIÇO

Curso Quadrinhos e Cinema, com Arnaldo Prado Júnior. Dias 13, 15, 20, 22, 27, 29 de abril e 4 de maio, de 15h às 18h. Investimento: R$ 50. Inscrições pelo telefone 3343-4254 ou na sede da Caiana Filmes (rua Diogo Móia, 986 entre 14 de Março e Alcindo Cacela).

SAIBA MAIS

Super-Homem, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, X-Men, Batman, Homem de Ferro, Hult e Watchmen são algumas das HQs adaptadas para as telonas. Nas décadas de 1930 e 1940, os seriados de cinema levaram às telas personagens como O Fantasma, Capitão América, Buck Rogers, Flash Gordon, Batman e até o Super-Homem e o Capitão Marvel, naturalmente com limitações de recursos que resultaram em soluções precárias.

FONTE: DIÁRIO DO PARÁ

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