segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Artigo sobre hqs biográficas e memorialistas

O Diário do Nordeste tem apresentado ótimas reportagens sobre quadrinhos. Hoje eu li uma bem interessantes, sobre memória. Estou reproduzindo, abaixo. Para quem quiser ler no link original, é só clicar aqui. Só faço uma ressalva ao texto: há quadrinhos biográficos produzidos no Brasil, sim, mas a maioria é pouco conhecida porque está fora do circuito das grandes livrarias e das bancas de jornal, por falta mesmo de incentivo. Muitos deles tem objetivos educativos. Já falamos aqui de quadrinhos biográficos, dê uma conferida.

A memóri
a nos quadrinhos

Lançamentos revelam a ascendente corrente das HQs voltadas para registros de caráter memorialístico
A memória existe na tensão, necessária, entre a recordação e o esquecimento. Apesar da necessidade deste último para a manutenção do primeiro, a Arte em muitos momentos se constitui num esforço de registrar, de deixar gravados os acontecimentos. A literatura se estabeleceu como a linguagem favorita daqueles que pretendiam preservar suas memórias pessoais. Recentemente, as histórias em quadrinhos também entraram no jogo. Lançamentos do mercado brasileiro comprovam esta tendência.

A lista é extensa: “Violent cases”, da dupla inglesa Neil Gaiman e Dave McKean; os dois volumes de “Epiléptico”, do francês David B.; “Fun Home: uma tragicomédia em família”, da norte-americana Alison Bechdel; e a quadrilogia “Persépolis”, da franco-iraniana Marjane Satrapi (que virou adaptação e estréia nos cinemas ainda este semestre). Isto, para nos restringirmos ao que chegou às livrarias e comic shops nos últimos meses.

Curiosamente, os quadrinhistas brasileiros ainda não despertaram para o filão memorialístico e autobiográfico.

Traços particulares
Em todos estes lançamentos, está presente o esforço de registrar memórias. As semelhanças param por aí e dão uma mostra da riqueza do campo dos quadrinhos contemporâneos. Neil Gaiman, o criador do ícone gótico Sandman, trabalha em cima de uma anedota vivida na infância, completando os “buracos” da memória com fartas doses de imaginação. “Fun Home” é influenciado pelo clássico tratamento que o escritor francês Marcel Proust deu ao tema, em sua obra “Em busca do tempo perdido”. Prova prática de uma linguagem que ainda não recebeu o devido reconhecimento.

O cronista de Nova York

Não é possível falar na relação entre memorialismo e histórias em quadrinhos sem citar o Will Eisner (1917 - 2005). Ele foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da linguagem das HQs norte-americanas, introduziu o formato das graphic novels, com seu álbum “Um Contrato com Deus” (1978), e, em sua homenagem, denominou o Eisner Awards, espécie de Oscar do gênero.

Para a maioria daqueles que conhecem superficialmente sua obra, Eisner é apenas o criador de The Spirit, herói detetivesco que vive aventuras entre gangsters e mulheres fatais. No entanto, Eisner testou os limites de suas possibilidades de criação em suas graphic novels.

Nelas, a memória foi sua mais importante musa, e as áreas pobres de Nova York, ocupadas por imigrantes e seus descendentes, seu cenário favorito. “Pequenos Milagres”, “Avenida Dropsie” e “Um Contrato com Deus” são exemplos de sua criação.

Filho de imigrantes judeus, Eisner criou dezenas de histórias envolvendo a comunidade judia do Brooklin. O quadrinhista se valeu de suas memórias de infância, bem como de causos envolvendo figuras que conheceu.

Apesar disso, Will Eisner quase sempre preferiu trabalhar no campo da ficção. Com maior ou menor esforço, maquiou as cenas autobiográficas que criava. Caso de “O Sonhador”, em que retrata as dificuldades vividas nos primeiros anos da indústria das histórias em quadrinhos.

Nenhum comentário: