A memória nos quadrinhos
Lançamentos revelam a ascendente corrente das HQs voltadas para registros de caráter memorialístico
A memória existe na tensão, necessária, entre a recordação e o esquecimento. Apesar da necessidade deste último para a manutenção do primeiro, a Arte em muitos momentos se constitui num esforço de registrar, de deixar gravados os acontecimentos. A literatura se estabeleceu como a linguagem favorita daqueles que pretendiam preservar suas memórias pessoais. Recentemente, as histórias em quadrinhos também entraram no jogo. Lançamentos do mercado brasileiro comprovam esta tendência.
Curiosamente, os quadrinhistas brasileiros ainda não despertaram para o filão memorialístico e autobiográfico.
Traços particulares
Em todos estes lançamentos, está presente o esforço de registrar memórias. As semelhanças param por aí e dão uma mostra da riqueza do campo dos quadrinhos contemporâneos. Neil Gaiman, o criador do ícone gótico Sandman, trabalha em cima de uma anedota vivida na infância, completando os “buracos” da memória com fartas doses de imaginação. “Fun Home” é influenciado pelo clássico tratamento que o escritor francês Marcel Proust deu ao tema, em sua obra “Em busca do tempo perdido”. Prova prática de uma linguagem que ainda não recebeu o devido reconhecimento.
O cronista de Nova York
Nelas, a memória foi sua mais importante musa, e as áreas pobres de Nova York, ocupadas por imigrantes e seus descendentes, seu cenário favorito. “Pequenos Milagres”, “Avenida Dropsie” e “Um Contrato com Deus” são exemplos de sua criação.
Apesar disso, Will Eisner quase sempre preferiu trabalhar no campo da ficção. Com maior ou menor esforço, maquiou as cenas autobiográficas que criava. Caso de “O Sonhador”, em que retrata as dificuldades vividas nos primeiros anos da indústria das histórias em quadrinhos.
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