O artigo é uma indicação da amiga Valéria Fernandes. Fala sobre a HQ do Tintim, acusada de racismo. Vale a leitura. Aguardo comentários.
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0809200822.htm
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0809200822.htm
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Das 24 aventuras em quadrinhos criadas pelo belga Hergé (1907-83) e estreladas pelo jornalista Tintim, nenhuma provocou tanta polêmica quanto a que retrata sua passagem pelo continente africano. A história, lançada no Brasil há 38 anos como "Tintim na África", está saindo novamente, como "Tintim no Congo", mais fiel ao título original ("Tintin au Congo").
Quando esta HQ foi lançada pela editora Egmont na Inglaterra, em 2005, trazia um aviso dizendo que o livro tinha estereótipos e que alguns leitores podem considerá-lo ofensivo. Em 2007, a Comissão para Igualdade Racial (CRE) pediu às livrarias britânicas que retirassem de suas prateleiras a HQ, devido ao conteúdo racista. A editora norte-americana Little, Brown anunciou, também em 2007, uma caixa com todas as HQs de Tintim, exceto por este álbum, que seria publicado separadamente. Meses depois, recuou e divulgou que a coleção, ainda não completa, sairá integralmente.
Nesta aventura, Tintim viaja à África para escrever reportagens. Chega ao Congo Belga (que depois viria a se chamar Zaire e, atualmente, República Democrática do Congo), então uma colônia da Bélgica (curiosamente, na primeira edição portuguesa, o nome foi alterado e virou "Tim-Tim em Angola", então colônia de Portugal). É nesse ponto que começam as questões que trariam problema aos futuros editores. Tintim aparece como mais forte e inteligente que os africanos, retratados com inocência infantil e subservientes. Em uma cena, após causar um acidente que derruba um trem, ele convence os congoleses a colocar a máquina de volta aos trilhos sem que ele mesmo precise fazer força. Em outra, o jornalista substitui o professor dos jovens africanos e leciona aos congoleses sobre a sua "pátria, a Bélgica".
Quando Tintim volta à Europa, os africanos criam um ídolo de madeira para adorá-lo como se fosse um deus. Há, ainda, cenas de violência contra animais. Em uma passagem, Tintim explode um rinoceronte com uma dinamite. Além disso, derruba mais de dez antílopes a tiro. O leitor brasileiro não verá algumas dessas cenas nesta edição de "Tintim no Congo". A história, lançada originalmente semanalmente a partir de 1930 e reunida em livro em 1931, foi revisada por Hergé em 1946 e relançada com pequenas alterações. Não há mais rinoceronte sendo explodido por dinamite e a aula sobre a pátria Bélgica é substituída por uma de matemática. É esta versão que foi lançada no Brasil.
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Das 24 aventuras em quadrinhos criadas pelo belga Hergé (1907-83) e estreladas pelo jornalista Tintim, nenhuma provocou tanta polêmica quanto a que retrata sua passagem pelo continente africano. A história, lançada no Brasil há 38 anos como "Tintim na África", está saindo novamente, como "Tintim no Congo", mais fiel ao título original ("Tintin au Congo").
Quando esta HQ foi lançada pela editora Egmont na Inglaterra, em 2005, trazia um aviso dizendo que o livro tinha estereótipos e que alguns leitores podem considerá-lo ofensivo. Em 2007, a Comissão para Igualdade Racial (CRE) pediu às livrarias britânicas que retirassem de suas prateleiras a HQ, devido ao conteúdo racista. A editora norte-americana Little, Brown anunciou, também em 2007, uma caixa com todas as HQs de Tintim, exceto por este álbum, que seria publicado separadamente. Meses depois, recuou e divulgou que a coleção, ainda não completa, sairá integralmente.
Nesta aventura, Tintim viaja à África para escrever reportagens. Chega ao Congo Belga (que depois viria a se chamar Zaire e, atualmente, República Democrática do Congo), então uma colônia da Bélgica (curiosamente, na primeira edição portuguesa, o nome foi alterado e virou "Tim-Tim em Angola", então colônia de Portugal). É nesse ponto que começam as questões que trariam problema aos futuros editores. Tintim aparece como mais forte e inteligente que os africanos, retratados com inocência infantil e subservientes. Em uma cena, após causar um acidente que derruba um trem, ele convence os congoleses a colocar a máquina de volta aos trilhos sem que ele mesmo precise fazer força. Em outra, o jornalista substitui o professor dos jovens africanos e leciona aos congoleses sobre a sua "pátria, a Bélgica".
Quando Tintim volta à Europa, os africanos criam um ídolo de madeira para adorá-lo como se fosse um deus. Há, ainda, cenas de violência contra animais. Em uma passagem, Tintim explode um rinoceronte com uma dinamite. Além disso, derruba mais de dez antílopes a tiro. O leitor brasileiro não verá algumas dessas cenas nesta edição de "Tintim no Congo". A história, lançada originalmente semanalmente a partir de 1930 e reunida em livro em 1931, foi revisada por Hergé em 1946 e relançada com pequenas alterações. Não há mais rinoceronte sendo explodido por dinamite e a aula sobre a pátria Bélgica é substituída por uma de matemática. É esta versão que foi lançada no Brasil.
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4 comentários:
Felizmente, devagarinho, vamos evoluindo historicamente... com o passar dos anos as coisas vão mudando. Por outro lado, temo pelo radicalismo e pela hipocrisia...
Excelente assunto para discutir em sala, né?
Pois é, quanto Tintim no Gongo foi escrito, o contexto era outro. Não acredito na intenção racista, pelo menos não consciente, do autor. Infelizmente, temos uma leitura anacrônica do texto, daí o personagem acaba assumindo uma postura politicamente incorreta. Esta polêmica já completou mais de um ano e parece que não vai terminar tão cedo.
Esse revisionismo com os quadrinhos de Hergé já é antigo. É óbvio que é necessário ler e interpretar as histórias de Tintim tendo em mente a realidade - muitas vezes cheia de preconceitos da época. Proibi-las simplesmente é estupidez. Se enveredarmos por esse caminho, as estantes começarão a se esvaziar rapidamente, pois sempre haverá motivo para censurar uma obra. Exemplo fácil: todos os livros da série "Dr. Dolittle", em que a visão eurocentrista e colonizadora, para sermos generosos nos termos, campeia.
Se pegarmos publicaçõe populares dos anos 30 a 60 vamos encontrar muita coisa que para época era senso-comum e hj apareceria como escandaloso. Publicações e personagens tem que estar inseridos no contexto em que a obra foi produzida. Acho, inclusiver, que é um mérito republicar este tipo de material. Como disse a Jenny, é um boa fonte para ser trabalhada em uma sala de aula. Lembrei-me de Rui Barbosa (acho que foi ele), que queria que todos os documentos sobre a escravidão no Brasil fossem destruídos, como forma de apagar a marca negativa que ela deixava na nossa história. Loucura! A gente tem que lembrar sim, entender os fatores que geraram tal comportamento e aprender a identificá-lo no nosso tempo. Espero ter me expressado bem... eu me empolguei :-)
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