sábado, 1 de novembro de 2008

Documentário brasileiro sobre mestre da HQ é lançado em DVD nos EUA

RIO - Quase 10 anos depois do lançamento de Will Eisner – Profissão: cartunista, a cineasta, artista plástica e quadrinista Marisa Furtado de Oliveira finalmente conseguiu a façanha de jogar no concorridíssimo mercado de DVD americano seu documentário sobre o mestre da HQ.

O produto, em pré-venda na gigante Amazon, chega às lojas dos Estados Unidos em dezembro, na mesma época do lançamento do longa The Spirit, versão cinematográfica de Frank Miller baseada no principal personagem de Eisner, com Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson e Gabriel Macht no elenco.

O documentário só havia sido exibido na terra natal de seu personagem uma vez, como parte da programação do maior festival de quadrinhos dos Estados Unidos, realizado em San Diego e conhecido como Eisner Award, que homenageou o desenhista no ano de sua morte, em 2005.

– Foi uma luta imensa para conquistar esse lançamento. Enfim o filme vai entrar na bibliografia sobre Eisner – desabafa Marisa.

– Os americanos rejeitam não só produtos audiovisuais estrangeiros, mas também a idéia de que alguém fez, antes deles, o que poderiam ter feito.

Primeiro de uma série de programas feitos pela diretora para a TV Senac – que retratou mais três papas do cartum, Ziraldo, Henfil e Jerry Robinson, co-criador do Batman – o filme é, na verdade, um conjunto de três episódios e já foi exibido por canais por assinatura de 36 países.

Mas, mesmo tendo percorrido esse longo caminho, Marisa precisou fazer mil e uma adaptações para fechar o contrato com a Image Entertainment, responsável pela distribuição não só nos EUA, mas em todos os países de língua inglesa.

Outro documentário sobre a vida do cartunista começou a ser rodado depois da morte dele. Isso fez com que Marisa transformasse a vontade de lançar o filme sobre o inventor da graphic novel nos EUA numa meta de curto prazo.

Para encontrar um distribuidor, fez cópias do DVD com um projeto gráfico de primeira linha e contou com a ajuda preciosa do empresário do cartunista, Denis Kitchen, da mulher, Ann, e do biógrafo dele, Bob Andelman.

– Enquanto eles passavam o chapéu para fazer o filme, eu já tinha tudo pronto. Mas o preconceito contra filmes estrangeiros é grande – diz a diretora.

Marisa, que assina todo o design do DVD, ainda emplacou o que praticamente nenhuma produtora consegue nas distribuidoras: decidir sozinha a arte da capa e receber o copyright por ela. Já no filme, precisou ceder, e muito. Repleto de animações feitas a partir de desenhos de Eisner, o documentário foi praticamente reeditado.

Marisa precisou refazer todos os balões, vertendo o texto do português para o inglês; teve de digitar os roteiros, escritos há 12 anos, pois não tinha mais os arquivos; listou todo o conteúdo reproduzido para obter nova autorização de direito de imagens; reeditou a trilha sonora.

O que mais doeu, porém, foi aceitar a substituição da narração, feita por ela mesma, por outra, em inglês. No lugar de sua voz está, agora, a da cantora Kate Lyra.

– Tudo isso me custou dois anos de trabalho e muito dinheiro, mas estou imensamente feliz – assegura Marisa.

– Incluí coisas que deixaram o filme ainda mais brasileiro, como novas músicas. Apesar das concessões, as referências estão todas lá.

A relação de Eisner com o Brasil recebeu reforço nos extras:

– Tinha imagens inéditas com ele contando histórias sobre suas peças de arte brasileira, declarando o amor pelo país.

Pesquisadora da linguagem de quadrinhos, Marisa sempre trabalhou na área. Conheceu Will Eisner em 1991, quando o artista veio ao Brasil convidado da primeira Bienal Internacional de Quadrinhos (hoje Festival Internacional dos Quadrinhos), realizada em Belo Horizonte. Depois passou a assessorá-lo em outras visitas dele ao país. Eisner passou a indicá-la como cicerone no Brasil a todos os cartunistas importantes.

– Recebi vários deles, como Jerry Robinson, levava para todo canto no meu fusquinha – lembra Marisa.

A idéia para o documentário surgiu no aniversário de 80 anos de Eisner, em 1997, no museu de Boca Raton, na Flórida.

Mas ela demorou a conquistar a confiança do biografado, que nunca quis se expor. Não-convencional, o filme, além das animações, traz as entrevistas com Eisner em enormes cenários especialmente construídos para o projeto.

– Nos tornamos muito amigos. Ele e a Ann (mulher de Eisner) me adotaram. Tive a sorte de rodar o documentário quando ele tinha 82 anos, estava muito ativo, cheio de idéias, com mil coisas a dizer.

http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/10/31/e311017891.html

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