quarta-feira, 4 de julho de 2007

O Grito do Povo: a Comuna de Paris em hq


O Grito do povo é uma hq singular, uma adaptação do romance de Jean Vautrin pelo premiado desenhista Jacques Tardi. Foi publicado no Brasil pela Editora Conrad em dois volumes, divididos em duas partes cada. O romance de Vautrin passa-se em uma França humilhada pela derrota na guerra franco-prussiana e com a população da capital insatisfeita com o governo. Nasce, então, um dos mais importantes episódios da história daquele país: A comuna de Paris. Herdeira das tradições revolucionárias francesas, a Comuna de Paris foi um governo popular organizado pelas massas parisienses em 18 de março de 1871, sendo fortemente marcado por diversas tendências ideológicas, populares e operárias.

Segundo Prosper-Olivier Lissagaray[1], um dos membros da comuna, ela teria sido "uma revolução feita por homens comuns e que deu aos trabalhadores a consciência de sua força, sem que esses pudessem desenvolver suas idéias". Os revolucionários desejavam melhorar as condições de vida na França e buscavam um governo que desse mais atenção à questão da justiça social. Esta experiência durou cerca de 12 dias e teve um saldo de dezenas de milhares de mortos.

No Grito do Povo (referência a um periódico francês da época), Vautrin nos leva a ver a revolução pelos olhos dos revolucionários, cujo cenário ganha vida sob o traço de Tardi. O que esta hq tem de diferente? Ela nos mostra um lado mais humano de um episódio marcante da história, nos leva aos guetos de Paris, mostra o sofrimento e a paixão do povo, animado pelo desejo de lutar por uma França mais justa. Prostitutas, soldados, religiosos, donas de casa, crianças e jovens pobres estes são os personagens. Em alguns momentos e me senti dentro do romance de Victor Hugo “Os Miseráveis”, mas O Grito do Povo ainda vai muito mais além. Tardi nos devolve a França do século XIX e compõe um cenário que mistura palácios e favelas. Vautrin procura a todo momentos informar ao leitor sobre o que acontecia na Comuna, fazendo ricas citações, narrando acontecimentos reais em meio a uma trama que envolve amor, traição, luxúria e muita violência.

E o mais interessante na leitura desta hq foi justamente à habilidade do autor de separar o fato da ficção, através de notas, de narrativas e descrições. Ao mesmo tempo em que estamos em meio a uma trama que envolve personagens fictícios, estamos conscientes da presença de personagens históricos reais e de situações históricas reais. Para o professor de história, o Grito do Povo não é apenas uma fonte de estudo, mas também um excelente material para se trabalhar o tema na sala de aula.


[1]LISSAGARAY, Hippolyte Prosper-Olivier. História da Comuna de 1871. São Paulo. Ensaio. 1991.

3 comentários:

Lilian disse...

Natania, obrigada pela dica, vou dar uma olhada nestes quadrinhos, pois a Europa do século XIX é um dos temas que trabalharei com meus alunos do Ensino Médio no 2o semestre. Venha conhecer meu blog!
Tudo de bom,
Lilian - São Paulo - SP

walter stodieck disse...

muito boa a dica mesmo...

assim que der procurarei a revista para ler, hehe

beijos!

Octavio Aragão disse...

Ei, Waltão, trata-se de dois álbuns em formato horizontal... dificilmente poderíamos classificar O GRITO DO POVO como uma revista. :-)

Mas leia MESMO! É excelente.