domingo, 23 de março de 2008

Alunos tem dificuldade até mesmo de ler histórias em quadrinhos

No Blog dos quadrinhos foram postados dados alarmantes sobre a leitura, em São Paulo, no dia 14 de março, deste mês. Preocupada eu resolvi fazer uma pesquisa sobre o assunto. Os dados desta pesquisa foram publicados por Ednei Procópio, em Um blog escrito a giz, da Giz Editorial, uma empresa especializada na prestação de serviços alternativos ao mercado editorial, no dia 03 de novembro de 2007. As fontes das pesquisa de Ednei partiram de matérias e reportagens de jornais e revistas, incluindo relatórios e pesquisas tirados dos websites das entidades de classes. Ele afirma que há alguns desacordos entre os números, mas o quadro em geral é preocupante.

Para começar, o número de livrarias especializadas no Brasil, ao invés de aumentar, estão diminuindo. Uma pesquisa divulgada pelo Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em setembro de 2007 mostra que, entre 1999 e 2006, o número de municípios que possuem livrarias no país caiu 15,5%.

Destas, 68% das livrarias brasileiras se concentram no Sudeste e no Sul. Mais de mil delas estão centralizadas em apenas dois estados: São Paulo e Rio de Janeiro. Só em São Paulo são 676 livrarias, o maior número do país para uma população de 40 milhões de habitantes. Segundo recomendações das Organizações das Nações Unidas uma livraria para cada 10 mil habitantes.

Segundo a matéria, elas estão distribuídas nacionalmente da seguinte forma:

  • 3% Distrito Federal
  • 5% Norte
  • 4% Centro-Oeste
  • 15% Sul
  • 20% Nordeste
  • 53% na região Sudeste, sendo:
    • 48% em São Paulo
    • 24% no Rio de Janeiro
    • 25% em Minas Gerais
    • 3% no Espírito Santo

São apenas 22 mil bancas de jornal, que são considerados pontos alternativos de venda de livros.

Perto de 10% dos 5.564 municípios brasileiros não tem biblioteca. Ainda não há biblioteca pública em 613 municípios. Desde 1999, o índice de presença subiu de 76,3% para 89,1%. Uma margem mínima de 12,8% se avaliarmos o gigantesco trabalho da ONGs e entidades que cuidam da questão da leitura.

Segundo a pesquisa, o objetivo do uso das bibliotecas também está mudando. Cerca de 40% dos usuários de bibliotecas municipais fazem de tudo, menos ler.

Em São Paulo, apenas 15% das escolas possuem bibliotecas. Ou seja, das mais de 5 mil escolas estaduais paulistas, apenas 750 delas têm bibliotecas e apesar de 73% delas contar com salas de leitura, estas nem sempre estão abertas para os alunos. De acordo com uma pesquisa publicada pela Folha de São Paulo, em novembro de 2007 (...) ao ler um documento, esses alunos não são capazes de identificar, por exemplo, que se trata de uma conta de água. Têm também dificuldades para entender o contexto de uma história em quadrinhos (..)

Somando-s e a tudo isto está o fato de mais de 70% da população adulta não possuir o hábito da leitura. Perto de 75% dos livros, no Brasil, estão nas mãos de apenas 20% da população [ou seja, perto de 230 milhões de livros estão nas mãos de apenas 35 ou no máximo de 40 milhões de leitores]. Basicamente a população do Estado de São Paulo.

Um indicador nacional de analfabetismo funcional em 2005 mostrava que 30% dos brasileiros entre 15 e 64 anos não conseguiam localizar informações em textos longos, apenas nos textos curtos.

Somados aos dados de Edmar, estão resultados da Prova Brasil feitas em todo o Brasil, no ano de 2006, divulgados pela Revista Nova Escola, na edição de fevereiro de 2007

Na Prova Brasil, numa escala de notas que vão de 125 a 350, as turmas de 4a série atingiram um desempenho médio abaixo de 200 pontos - 172,91 em Língua Portuguesa e 179,98 em Matemática (conheça as principais competências avaliadas pelo MEC nos quadros destas duas páginas). Na 8a série, a situação é ainda mais preocupante: os jovens foram tão mal na média que só dominam os conteúdos previstos para os estudantes da 4a série.

Segundo a avaliação a leitura vai mal, assim como os resultados em matemática. Para 2007 o resultados também não foram os melhores.

Eu, particularmente, presenciei a avaliação do ano passado e os alunos da 8ª série praticamente se recusavam a fazer as provas e as fizeram Por obrigação, praticamente sem nenhum empenho. Acho que isto também contribuí para os resultados negativos. Não há entre os estudantes interesse em se sair bem e, entre os professores existe a idéia de que a prova está ali muito mais para atestas a sua incompetência como docente do que para buscar soluções para os problemas que o ensino enfrenta atualmente.

Acho que os problemas da educação brasileira residem em um quantitativismo governamental, que exige resultados em curto prazo, investindo muito mais em recursos materiais que humanos; a falta de uma formação continuada (adequada) para professores; pouca valorização do magistério; falta de comunicação entre professores, diretores, pais e alunos; burocratização do ensino; falta de incentivo a alunos e professores, o que faz ir a escola – seja pra trabalhar ou estudar – uma tarefa ingrata. Falta investir na auto-estima dos alunos e dos professores. Investir no material humano é, do meu ponto de vista, investir em professores mais engajados e alunos mais interessados.

Outro coisa importante é a escola entender que não se pode delegar a um professor uma tarefa tão grande quanto a de "aprender" a ler. O texto está presente em todos os conteúdos escolares, assim, eu como professora de história tenho que me empenhar em ajudar meus alunos a ler, interpretar e escrever corretamente e cobrar isto deles. O professor de português introduz noções que todos temos que ajudar a trabalhar. É um trabalho conjunto. Se não há esta consciência, então não há um real processo de ensino/aprendizagem.

6 comentários:

Fátima Franco disse...

Oi, Natty:
Infelizmente eu constatei tudo isto,em 2002, em minha dissertação de mestrado.
É por isto que continuo com um blog sobre leitura, prá fazer minha parte.
Abs

Natania A S Nogueira disse...

Pois é, Fátima, foi também por esta razão que eu comecei o projeto da gibiteca, mas sempre me entristece constatar que, por mais que se fale sobre o assunto, por mais que se reconheça o problema, não se busca realmente uma solução efetiva. Tipo, não basta mandar livros a escola sem que se faça um trabalho com alunos e professores para que eles realmente aprendam a gostar de ler. Digo professores, tb, pq eu vejo que são raros aqueles que lêem com certa frenqüência,

Andréa De Carli disse...

Oi Natania

Não sei se você e a Fátima, como mais experientes irão concordar comigo, mas noto em alguns curso que participo que começa pelos professores esta falta de interpretação e leitura (sem generalizar), mas muitos não sabem interpretar uma simples tarefa e executá-la exatamente como é pedido. Tenho feito vários cursos EAD e pelos trabalhos de alguns colegas tenho notado isto. O que acham?

Abraços Andréa DE Carli

Natania A S Nogueira disse...

Sim, Andrea, vc não está errada. Temos aqui um problema de formação muito sério. Hoje mesmo, se vc for a uma faculdade, perceberá que os estudantes não gostam de ler e que geralmente o fazem por obrigação. Conheço muitos professores que simplesmente consideram a leitura um "trabalho a mais" que preferem deixar para depois. A qualidade dos cursos de formação não é lá das melhores. professores têm muitas vezes as mesmas dificuldades dos alunos, por isto, quando se fala em leitura na escola deve-se pensar no todo. Não estou fazendo um julgamento, apenas expondo uma realidade.

Gilberto Queiroz disse...

Olá Prof. Natania, td bem?
Descobri seu blog na Central de Quadrinhos e gostei mt da iniciativa. Os quadrinhos são realmente um ótima ferramenta na educação das crianças. Parabéns,
Gilberto

Obs.: linkei seu blog, ok?

Natania A S Nogueira disse...

Obrigada, Gilberto!
:-)