segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Horácio

Por Matheus Moura

Ele é verde, pequeno, arredondado e mal se veem os braços. Muitos o conhecem, mas poucos sabem que ele é vegetariano. Isso pode até mesmo soar estranho, pois ele por natureza deveria ser carnívoro por se tratar de um tiranossauro. O personagem em questão é o Horácio, criado por Maurício de Souza em 1963, para o jornal Diário de São Paulo.

Horácio faz parte dos personagens do Estúdio Maurício de Souza que pertencem à pré-história. Como concepção inicial, Maurício tinha em mente deixar Horácio contracenar com o já conhecido personagem Piteco (um homem das cavernas), publicado no Diário. A ideia não durou muito e logo o dinossauro estreava com tiras próprias na Folhinha de São Paulo, todos os domingos.

O sucesso foi imediato atraindo atenção tanto de crianças quanto de adultos. E isso tinha, e até hoje tem, uma razão de ser: Maurício de Souza manteve a criação das histórias de Horário durante muito tempo atrelada a ele mesmo. Enquanto outros personagens eram, e são, desenvolvidos por equipes criativas tendo apenas o aval do criador, Horácio passava (hoje em menor grau) por todo o processo criativo do próprio Maurício. Isso acabou moldando-o. Essa questão até mesmo fez com que se especulasse de o personagem ser o alter-ego de Maurício.

Mas não é só por ser bonitinho e ter a criação das histórias feitas diretamente pelo mandachuva do estúdio que Horácio se tornou um sucesso. Na verdade o que mais chama atenção nas histórias dele são as temáticas. Praticamente todas tem um “quê” social, humano/sentimental e filosófico.

O vegetarianismo de Horácio toma forma aí. Ele, por ser amável, sempre amigo e livre de preconceitos, precisava ter algo que lhe marcasse como tal. O hábito de comer apenas alface ressalta essa característica, até porque um dinossauro carnívoro não seria um bom amigo/ouvinte. Em contrapartida, o vegetariano, que cuida melhor da própria saúde a se atém a questões de ética e valor à vida é um bom ponto de referência. Dessa forma, Horácio cumpre bem seu papel de crítico, observador e utópico, uma vez que ele vê bondade em situações que até mesmo não são assim tão legais.

Outro ponto que reforça o lado humano de Horário e que o diferencia de outros de sua espécie é a busca pela mãe. Ele, assim como praticamente todos os dinos a sua volta, nasceu de um ovo largado à própria sorte. Enquanto seus contemporâneos não se preocupam com essa questão, Horário vive amargurado, nutrindo um desejo incurável e inalcançável de encontrar sua “querida mãezinha”.

Recentemente foi publicado o Almanaque Piteco & Horácio # 2. Em março de 2009 foi a vez do número um. Cada exemplar vale R$ 3,80. Um valor ínfimo a se pagar por boas histórias de amizade e compaixão. Apesar de não ser em todos os contos que a característica vegetariana de Horácio é explorada, vale a pena conhecê-lo. Atualmente é um dos poucos personagens vegetarianos das histórias em quadrinhos, ainda mais brasileiras.

Fonte: ANDA

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