sexta-feira, 4 de junho de 2010

Restaurantes estrelados e museus dedicados a Magritte e Hergé, criador de Tintim, dão graça a visita à Bélgica


BRUXELAS - Em Bruxelas, não se tropeça em atrações monumentais. Mas a capital belga e da União Europeia tem ao alcance das mãos o que há de melhor no continente, e sempre há novidades para os amantes da culinária. Os belgas são os maiores compradores de champanhe do mundo. Vão de carro explorar as vizinhas caves francesas para abastecer seus restaurantes e adegas. A cidade tem o maior índice per capita de estrelas Michelin em toda a Europa: 18, no total, para 1 milhão de habitantes . Nos mercados, produtos do mundo inteiro são de primeira linha. Tudo isso explica o altíssimo nível de bistrôs, brasseries e restaurantes. E não é só na capital. Outras cidades ostentam estabelecimentos estrelados com cardápios inesquecíveis. Os preços, na maioria das vezes, são mais do que razoáveis para a qualidade do que se está consumindo. Se o apelo gastronômico sozinho não servir de desculpa para uma viagem, vale lembrar que a Bélgica acaba de ganhar (finalmente) dois novos museus grandiosos dedicados a dois de seus mais ilustres cidadãos. No centro de Bruxelas, o badalado Museu René Magritte reúne todos os dias turistas fãs do pintor surrealista. Em Louvain-la-Neuve, a 20 minutos da capital, um imponente e divertido prédio do arquiteto francês Christian de Portzamparc abriga a obra de Hergé, como ficou conhecido Georges Remi (cujas iniciais de trás para frente se pronunciam Hergé), pai do intrépido repórter das histórias em quadrinhos Tintim.

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Telas, fotos e objetos contam a vida do surrealista René Magritte; Museu Hergé é dedicado a Tintim

Em um ano de crise financeira global, com estragos na Europa, a Bélgica inaugurou no segundo semestre de 2009 dois grandes novos museus. Ambos homenageiam personagens belgas que se tornaram conhecidos pelos mundos fantásticos que criaram na ficção: o pintor surrealista René Magritte e Georges Remi, o Hergé, autor das histórias em quadrinhos de Tintim. As duas instituições eram uma demanda dos belgas.

Até a construção do Museu Magritte, ao lado do Museu de Belas Artes, em Bruxelas, as obras do artista ficavam alojadas neste último, e a tímida casa onde morou o pintor era o único museu dedicado a ele. Este, portanto, é o primeiro museu destinado a vida e obra de um dos surrealistas mais conhecidos do século XX e apresenta a maior coleção de trabalhos de Magritte do mundo. Bruxelas ficou com dois museus com nomes bem parecidos, que você tem de saber que não são os mesmos, para não se confundir na visita à cidade: o René Magritte, antigo, e o Magritte, o novo. Meio surreal, mas faz sentido.

Nos três andares de exposição, o novo museu Magritte conta a vida do pintor em ordem cronológica. Apresenta suas telas, objetos pessoais, fotografias (uma de suas paixões), cartazes de propaganda publicitária e espalha pelas salas as frases que Magritte teria dito para descrever a si mesmo, sua obra e o mundo em que vivia.

Para não perder tempo nas longas filas que se formam em frente ao museu desde a sua abertura, o visitante pode comprar os ingressos pela internet. Não há espera para quem tem bilhete eletrônico. A loja tem objetos variados. Seriam mais interessantes se não fossem tão caros artigos como, por exemplo, os quadradinhos do elegante chocolate Wittamer, com embalagens que reproduzem as pinturas de Magritte.

A cerca de 20 minutos de carro ou de trem do Centro de Bruxelas, o Museu Hergé foi construído na cidade de Louvain-la-Neuve. Embora esteja fora da capital, os amantes das histórias em quadrinhos não podem perder a novidade. O prédio espetacular do arquiteto francês Christian de Portzamparc (o mesmo da Cidade da Música, no Rio) abriga toda a obra de Hergé e abriu as portas em meio à polêmica.

Todos os direitos autorais de Hergé pertencem à viúva do artista, o que já deu pano para manga e rendeu discussões infindáveis na Bélgica. As regras para a reprodução da obra do autor são tão rigorosas que mesmo os brinquedos acabam custando caro. Somente alguns fabricantes podem produzi-los, para não haver risco de cópias. No dia da inauguração, repórteres fotográficos e cinegrafistas convidados para a abertura se viram diante do impasse: não podiam fotografar nem filmar nada. É proibido tirar fotos lá dentro. Pode-se fotografar apenas a deliciosa brasserie Le Petit Vintième (nome do jornal onde trabalhava Tintim), que é toda decorada com as capas das histórias do jovem repórter.

O museu está organizado e a apresentação da vida e obra do autor é muito bem feita. Mostra não apenas as aventuras de Tintim, como de outros personagens criados por Hergé. Tudo bem disposto, com algumas áreas interativas para adultos e crianças. Vale a pena explorar a loja do museu, cheia de peças que lembram algumas das aventuras de Tintim, Capitão Haddock e Professor Girassol, como brinquedos, cartões-postais, e, claro, livros. Há alguns objetos pelos quais se cobram valores proibitivos, mas há vários a bons preços.

Assim como dois museus com quase o mesmo nome combinam com Magritte, que gostava de enganar a nossa percepção, a controvérsia cai bem ao criador de Tintim: durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial, Hergé, que na juventude tinha sido um militante da direita católica, publicou trabalhos no "Le Soir", jornal controlado por partidários dos nazistas que ocuparam seu país, e usaram a publicação para defender ideias antissemitas. A esquerda já estava de olho nele desde que, em uma aventura antes do conflito, o repórter enfrentava os comunistas russos. E até hoje muita gente não perdoa o retrato dos africanos feito em "Tintim na África". O advogado congolês Bienvenu Mbutu Mondondo entrou com um processo simplesmente para proibir a circulação da história na Bélgica, em um caso que a Justiça ainda vai julgar.

FONTE: O GLOBO.COM

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