sábado, 25 de agosto de 2007

Che Guevara em quadrinhos

”Sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça praticada contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Essa é a qualidade mais linda de um revolucionário.”

A História, enquanto disciplina escolar, parece ter sido a maior beneficiada com as recentes publicações de quadrinhos, ainda mais quando se trata do gênero biográfico. De alguns anos para cá estão sendo elaboradas biografias de personagens históricos que podem ajudar a enriquecer ainda mais as aulas de História – no blog já citamos o caso de Debret, Santos Dumond, e há ainda outros personagens da história cuja a vida ou partes dela estão sendo adaptadas para HQs. O biografias históricas em quadrinhos não são necessariamente uma novidade. A Ebal já publicava HQs com heróis nacionais há 50 anos atrás. A novidade é que as novas HQs, que estão invadindo lentamente o mercado dos quadrinhos, possuem um olhar mais contemporâneo sobre os personagens e uma linguagem mais atual.

É o caso da biografia em mangá do médico revolucionário argentino Ernesto Guevara de la Serna, de autoria do sul-coreano Kim Yong-Hwe, publicado no Brasil pela Editora Conrad. O guerrilheiro nascido a 14 de junho de 1928 e assassinado pela CIA em 1969 teve partes de sua vida e história de luta transpostos para as páginas de um mangá, ou manhwa (quadrinho coreano). Kim Yong-Hwe realizou uma profunda pesquisa para elaborar este trabalho, deixando clara sua paixão pelo personagem. A obra retrata as origens e as qualidades do herói latino-americano, que luta contra o imperialismo dos EUA. Ela é carregada de fatos sobre a vida de Che, sendo muito informativa, mas possui uma visão romanceada do homem, valorizando ainda mais o mito.

Argentino de Rosário, Ernesto nasceu numa família burguesa e foi por muito tempo sustentado pelo pai que era arquiteto. Formado em medicina, partiu com o amigo Alberto Granados por uma viagem de motocicleta pela América Latina, quando começou a entender os mecanismos que regem a dependência entre os países subdesenvolvidos da região e os Estados Unidos – fase de sua vida que foi retratada no filme “Diários de motocicleta". Aliás, os momentos iniciais da biografia retratam este período, em Che circulou a América do Sul de motocicleta acompanhado de seu amigo e também médico Alberto Granado serão familiares.


Suas viagens e experiências pessoais acabaram conduzindo-o à militância política, revoltado com a brutalidade da ação norte-americana em território estrangeiro, Che decide optar pela revolução como única forma de libertar a América Latina. Depois de conhecer Fidel Castro no México, em julho de 1955, resolve juntar-se aos insurgentes cubanos – e em novembro do ano seguinte é um dos comandantes da milícia armada que se instala em Sierra Maestra e que termina por derrubar o ditador Fulgencio Batista em 1959.

Che torna-se embaixador dde Cuba e viaja pelo mundo tentando encontrar países que possam ser aliados ao novo regime instalado na ilha – foi durante essas viagens que Che recebeu a Ordem do Cruzeiro do Sul em 1961, do então presidente brasileiro Jânio Quadros. Infelizmente ele não ficou satisfeito como a morosidade da carreira diplomática e acabou voltando a ser um simples guerrilheiro. Guevara acabou sendo capturado, faminto e desamparado, nas selvas da Bolívia e executado pela CIA em 09 de outubro de 1967.

Estas e outras passagens são contadas na HQ que possui uma finalidade didática: apresentar o mito ao público jovem, que veste suas camisas, reproduz suas frases, mas muitas vezes não conhecem a sua história. Apesar das lacunas e da parcialidade que possui, uma vez que só mostra o lado bom do mito, omitindo a suas falhas, a HQ é importante ao contextualizar este período tão marcante da história da América Latina e por levantar questões importantes sobre o imperialismo e suas conseqüências para a população latino-americana.
Para quem quer mais informações, Matheus Moura tem uma resenha sobre esta obra no site Bigorna .

10 comentários:

Hunter disse...

A melhor biografia em quadrinhos do Che ainda é a que foi feita na Argentina por Hector German Oesterheld e os Breccia. Não entendo por que publicam essa aberração coreana e ignoram uma obra-prima feita no país vizinho!

Hunter (Pedro Bouça)

Matheus Moura disse...

Olá Natania,

Agradeço pelo elogio a minha resenha do Debret. Aproveito sua postagem sobre a biográfia do Che e te indíco uma outra resenha minha, agora claro, sobre a revista citada. Confira: http://www.bigorna.net/index.php?secao=mangamanhwas&id=1170213490

Tenha um bom dia,

Matheus

Natania A S Nogueira disse...

Oi Pedro!
Eu sinceramente não conhecia esta outra biografia, mas fico satisfeita em saber que dispomos de uma outra fonte, no caso, uma outra obra. Aliás, seria interessante fazer uma comparação, lendo as duas. Realmente no Brasil as coisas são complicadas. Tirando uma meia dúzia de autores, quase nada se publica de qudrinhos latino-americanos. O que é uma pena. Saimos perdendo com isto.

Natania A S Nogueira disse...

Oi Matheus!
Vou agora mesmo sugerir sua resenha no corpo do texto! Valeu pela dica!
:-)

Alexandre Lancaster disse...

É fácil entender. O mangá coreano é mais dinâmico, cinematográfico, tem volume de páginas e fica mais visível nas livrarias ao lado dos Vagabonds e Dragon Balls edição definitiva. O Argentino, mesmo com ótimos desenhos, tem cara de "quadrinho oficial" pelo que vi – muito como as velhas biografias da ebal. Se eu quisesse atingir um público mais jovem, teria feito a mesma escolha.

Natania A S Nogueira disse...

Oi Alexandre, eu sinceramente não tenho muita intimidade com quadrinhos argentinos. Só mesmo Maintena e Quino. Mas acho ótimo que se façam comentários, pois isto enriquece o tema e é uma forma de aprendizado.

Hunter disse...

Alexandre,

Sinceramente, se você quer atingir um público jovem, não acho que uma biografia do Che é o veículo mais indicado.

E se o coreano só mostra o lado bom do cara, no que seria menos "biografia oficial" que a versão argentina?

Hunter (Pedro Bouça)

Alexandre Lancaster disse...

Okay, eu não me expressei bem quando disse "oficial". Mas o fato é que essa biografia do che claramente foi escrita para adolescentes, pode dar uma olhada mais atenta. A intenção dela é introduzir o personagem histórico para um público mias jovem. O que eu quis dizer é que o que vi dele, mesmo bem desenhado, me lembra muito aquele esquema de texto didático com imagem ao lado que aparecia nos quadrinhos didáticos chapa branca da Ebal. É algo que soa burocrático nos dias de hoje, goste ou não. É só confirmar:
http://www.dandare.info/artists/images/breccia_che.jpg
http://www.tebeosfera.com/Documento/Articulo/Argentina/Pics/oestche.gif

Nesse sentido, lamento dizer, mas acho que o Che do oesterheld tem menos chances comerciais do que o Che coreano. Volta e meia ouço comentários sobre este, críticos ou elogiosos. E mais: eu, com uma editora voltada a quadrinhos de livraria, pegaria na boa o Cesare ( http://shoujo-cafe.blogspot.com/2006/10/novo-mang-de-fuyumi-souryou.html ) e jogaria contra o Bórgia-açougue da Conrad. Não porque eu acredite em superiordade ariana do mangá contra o europeu ou bobagens desse tipo, mas porque isso seria mais vendável com o marketing certo. Se eu fosse trazer um europeu (e no fundo o quadrinho argentino é um quadrinho europeu do outro lado do oceano), traria um Senda da vida.

Bira disse...

Natânia, seu blog é bom demais!
Informativo, arejado e aberto ao diálogo. Parabéns

Natania A S Nogueira disse...

Valeu, Bira!
Não é sempre que se recebe um elogio de um cartunista/quadrinista com a sua experiência.
Espero que volte mais vezes!
:-)