sábado, 4 de agosto de 2007

Lugar de quadrinhos é na sala de aula

Esta semana o amigo Octavio Aragão me enviou uma reportagem que saiu no Jornal da Cultura, UFRJ, edição de maio sobre quadrinhos na sala de aula. Achei muito legal, até porque reforça o que nós defendemos aqui. Segue a transcrição do texto. Espero que gostem também.

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Por: Rafaela Pereira

Atento a isso, o Ministério da Educação, a partir do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), incluiu esse ano algumas histórias em quadrinhos entre as obras que foram distribuídas às mais de 46 mil escolas públicas do país. As histórias escolhidas foram Toda Mafalda, de Quino; Na prisão, de Kazuichi Hanawa; Santô e os pais da aviação, de Spacca; e Dom Quixote em quadrinhos, de Caco Galhardo. “Usar as HQ como instrumento de aprendizado é altamente recomendável, pois auxilia na alfabetização e amplia a percepção narrativa, principalmente no que diz respeito à compreensão das diversas representações Gráficas de passagens de tempo”, explica Octavio Aragão, professor de Desenho Industrial da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ. Reproduzindo contextos da realidade e valores culturais, são as histórias em quadrinhos que oferecem a oportunidade para as crianças, desde cedo, ampliarem seus conhecimentos sobre o mundo, aumentando sua criatividade e aguçando sua imaginação. “As HQ e as tirinhas tornam o ensino mais lúdico e menos árido.

Podem ser um importante instrumento capaz de motivar o aluno para a leitura e para os estudos. Elas o ajudam a construir uma narrativa Mafalda, Dom Quixote e Santos Dumont são alguns dos personagens de histórias em quadrinhos que foram parar nas salas de aula. Se no passado os gibis eram vistos com maus olhos, hoje a situação é bem diferente. Muitos são os professores e pedagogos que utilizam o atrativo das histórias em quadrinhos como material didático de apoio, para além do que está subentendido entre um quadrinho e outro da história. Contribuem, portanto, para o desenvolvimento da própria linguagem, da criatividade e de conceitos como o de causalidade”, afirma Francisco Caruso, físico, fundador da Oficina Eduhq (Educação Através de Histórias em Quadrinhos e Tirinhas) e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

De acordo com Octavio Aragão, os gibis não servem apenas como introdução à leitura. “Os leitores de quadrinhos tendem a desenvolver uma percepção mais aguçada e uma associação de informações complementares com maior eficiência e rapidez, pelo fato de cruzarem referenciais e códigos de fontes diferentes em apenas um contexto. O leitor aprimora a acuidade visual e estabelece rápida associação de idéias”, explica o professor.

Para a Leonor Werneck dos Santos, professora do Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras (FL) da UFRJ, os quadrinhos são importantes materiais para a sua área de trabalho. “É um texto divertido, ágil e bastante interessante. Acredito que em Língua Portuguesa eles são material de leitura especialmente útil, porque o apoio do discurso não-verbal colabora na construção de sentido do texto, ou seja, a multiplicidade de linguagens é extremamente motivadora”, aponta a professora, acrescentando que “como dizia Paulo Freire, aprendemos a ler o mundo antes de ler as palavras. Ver televisão, ler gibis, ouvir música, tudo isso colabora na formação do leitor crítico. O excesso é que deve ser combatido”.

Movimento contra
Contudo, nem sempre as HQ foram pensadas como instrumento de Educação. Pelo contrário, professores e especialistas acreditavam que sua dimensão visual poderia atrapalhar o desenvolvimento intelectual das crianças. Seu potencial pedagógico, porém, foi percebido na década de 1940, nos Estados Unidos, quando o exército norte-americano desenvolveu manuais de treinamento em quadrinhos.

No Brasil, o interesse cresceu com o incentivo oferecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). “Hoje as HQ não são mais vistas como vilãs por boa parte dos professores e dos pedagogos. Por um lado, a capacidade que elas têm de atrair o leitor jovem está fazendo com que os educadores aproveitem cada vez mais esse instrumento. Por outro, sua utilização vai ao sentido do que é apontado na LDB, por exemplo, a valorização de situações do quotidiano das crianças e dos jovens e de sua vivência”, acredita Caruso. Renato José de Oliveira, diretor da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ, faz coro com Caruso. O professor afirma que é possível produzir HQ interessantes, aproveitando o que elas têm de positivo: “uma linguagem dinâmica e o estímulo que os desenhos e caricaturas dão à percepção de detalhes. Se, ao proporcionarem deleite, eles veicularem mensagens de cunho educativo, como o respeito ao meio ambiente e aos direitos de cidadania, por exemplo, estarão expressando um algo mais que poderá diferenciá-los de outros, voltados apenas para satisfazer as demandas do mercado.”

Passado histórico
Narrar através de desenhos é um recurso utilizado desde a pré-história, como mostram as pinturas rupestres que são consideradas, por muitos, como precursoras das histórias em quadrinho. Porém, tal como se conhece hoje, elas surgiram na metade do século XIX. Les Amours de Monsieur Vieux-Bois, publicada em 1837, escrita e desenhada por Rodolphe Topffer (1799-1846), professor da Universidade de Genebra, é considerada a primeira delas. E, com Little Bears and Tykes, desenhada por James Swinneston e editada em 1892 pelo jornal San Francisco Examiner, a idéia chegou aos EUA. A primeira história em quadrinhos brasileira foram As aventuras de Nhô Quim, de Ângelo Agostini, publicada na revista Vida Fluminense, em janeiro de 1869. Entretanto, com Tico-Tico, em 1905, destinada especificamente ao público infantil, contendo contos, textos informativos e curiosidades sobre matérias para crianças, o gênero ganhou importância.

O texto original está diponível em PDF no link http://www.jornal.ufrj.br/jornais/jornal26/jornalUFRJ2622.pdf


5 comentários:

Valéria Fernandes disse...

Ótimo artigo. Acho legal o seu interesse e esforço em dar visibilidade aos trabalhos pedagógicos com HQs. Seria muito bom se pudéssemos ter mais projetos neste sentido e espaço para trabalhar. Enfim, preciso de HQs que trabalhem o tema da escravidão e mineração... Achar é que é um problema...

Natania A S Nogueira disse...

Bom, hqs falando da história do Brasil realmente são difíceis de achar, mas tem uma hq que fala sobre escravidão disponível no site www.nonaarte.com.br. É sobre Zumbi e foram lançadas duas hqs recentenmente, uma sobre a chegada da família real ao Brasil e outra sobre Chico Rei. Há, também, o já conhecido trabalho do Anngeli e da Lilia Schwarcz sobre o fim do Império e o início da República "Cai o Império! República vou ver!

Sindy disse...

Adorei o post e conhecer o blog. Trabalhei muito com HQs na sala de aula e acredito que elas são um maravilhoso recurso para o incentivo a leitura e a escrita!
Inclusive divulguei uma ferramenta para construção de HQs online no meu blog (http://bloguinfo.blogspot.com)
Parabéns pelo trabalho
Sintian

Natania A S Nogueira disse...

Obrigada, Sintian! Estamos com planos para começar a trabalhar com hqs digitais em breve! Visitei seu blog rapidamente e gostei muito. Devo retornar com calma para ver um pouco mais do seu trabalho. Acho muito importante a questão da informática na educação. Há muito o que aprender e muita gente que quer aprender mas nem sempre tem condições (recursos)

Jenny Horta disse...

Muito bom este artigo Natania. Estou começando a trabalhar com um programa que voc