Não há muitas revistas mensais em quadrinhos que venham com glossário, mas não há muitas revistas em quadrinhos como “Unknown Soldier” (“O Soldado Desconhecido”).
A série, escrita por Joshua Dysart e ilustrada por Alberto Ponticelli, se passa em Uganda e contém um guia de referência com mais de 20 entradas, inclusive uma explicação sobre o brutal grupo rebelde Exército de Resistência do Senhor; sobre o militante pacifista Abdulkadir Yahya Ali, que foi assassinado; e sobre os acholis, um grupo étnico do norte do país.
“O Soldado Desconhecido”, publicado pelo selo Vertigo, da DC Comics, tem como protagonista o médico Lwanga Moses, cuja família fugiu de Uganda para os EUA quando ele tinha sete anos. Ele volta em 2002 com sua mulher, Sera, também médica, esperando aplicar sua formação numa parte do país há 15 anos em guerra civil.
Moses encontra um mundo repleto de violência, meninos usados como soldados e meninas punidas por atos inocentes, como andar de bicicleta. No caminho, se depara também com a atriz e ativista Margaret Wells, uma espécie de Angelina Jolie.
Uma compilação das seis primeiras edições de “O Soldado Desconhecido” estará nas livrarias norte-americanas a partir deste mês. Moses, o personagem-título, cujo rosto fica envolto em ataduras, na verdade é uma recriação de um protagonista de 1966 da DC, que ficara desfigurado durante a Segunda Guerra Mundial e foi enviado em missões de espionagem.
Ninguém está mais surpreso que Dysart pelo fato de Uganda ser tema de uma HQ. Fã de história, ele diz que ficou obcecado com a pesquisa acerca de extremistas religiosos depois dos atentados do 11 de Setembro. Descobriu referências a Joseph Kony, o notório comandante do Exército de Libertação do Senhor, e o achou fascinante.
Em entrevista telefônica, Dysart disse que havia proposto um projeto centrado da Segunda Guerra Mundial, que foi rejeitado. Então, mudou seu foco para Uganda, esperando uma resposta semelhante. Mas a ideia foi aprovada, disse ele, “e então fiquei aterrorizado”. Karen Berger, executiva da DC Comics, disse que “quando exploramos algo na Vertigo, queremos explorar algo que seja inédito nos quadrinhos”. “A beleza da série é que ela trata não só de questões como o combate à violência com mais violência, mas também de como o povo de Uganda foi afetado por esse modo de vida.”
Com o projeto aceito, Dysart visitou a biblioteca pública, pegou emprestados todos os livros que encontrou e vasculhou a internet. Decidiu também que, “se iria lidar com o aspecto pior da vida dessa gente, teria de ir até lá”.
Ele visitou Uganda no começo de 2007, meses depois de um cessar-fogo ser declarado, passou algum tempo com os acholis e esteve nas cidades de Campala e Entebbe. Voltou com mais de mil fotos, que Ponticelli usaria como referência para as ilustrações.
“O Soldado Desconhecido” é inflexível no seu retrato da violência, e isso transparece com mais força ainda na coletânea, sem a pausa mensal entre as edições. Uma cena particularmente horrível trata da desfiguração do personagem-título: uma voz interior o guia em meio à violência, mas, quando ele atinge um ponto insuportável, ele golpeia a si próprio para tentar silenciá-la.
O assustador episódio saiu da imaginação de Dysart. Alguns detalhes que ele aprendeu na sua viagem, contou o roteirista, eram horríveis demais para a HQ. “Entrevistei uma criança-soldado reformada que havia sido obrigada a morder uma mulher até a morte”, contou.
A reação da crítica à série tem sido positiva. O site satírico “The Onion” a considerou “tanto relevante para o mundo real quanto visceralmente excitante”. A HQ também foi indicada na categoria melhor série do Prêmio Eisner, espécie de Oscar dos quadrinhos.
Estimativas do ICV2.com, site que cobre HQs, sugerem que o livro terá um mercado difícil. Enquanto a primeira edição vendeu modestos 16 mil exemplares, a nona caiu para 7.500, ocupando o 207° lugar em vendas em junho. (O título mais vendido da Vertigo neste mês, “Fables”, sobre personagens de fábulas exilados em Manhattan, vendeu mais de 23 mil exemplares.) Mas as coletâneas da Vertigo costumam se sair melhor do que seus títulos mensais.
Dysart, cujo próximo projeto para a Vertigo é “Greendale”, adaptação de um álbum de 2003 de Neil Young, disse que “O Soldado Desconhecido” poderia ir além da guerra civil. Ele também quer escrever sobre o envolvimento das corporações na África e sobre os testes antiéticos dos laboratórios farmacêuticos em grupos étnicos, caso a série perdure. Se podemos competir totalmente em um mundo de super-heróis eu não sei”, disse ele. “O meio, infelizmente, tem um leitorado limitado. Vamos ver.”
Fonte: Folha
A série, escrita por Joshua Dysart e ilustrada por Alberto Ponticelli, se passa em Uganda e contém um guia de referência com mais de 20 entradas, inclusive uma explicação sobre o brutal grupo rebelde Exército de Resistência do Senhor; sobre o militante pacifista Abdulkadir Yahya Ali, que foi assassinado; e sobre os acholis, um grupo étnico do norte do país.
“O Soldado Desconhecido”, publicado pelo selo Vertigo, da DC Comics, tem como protagonista o médico Lwanga Moses, cuja família fugiu de Uganda para os EUA quando ele tinha sete anos. Ele volta em 2002 com sua mulher, Sera, também médica, esperando aplicar sua formação numa parte do país há 15 anos em guerra civil.
Moses encontra um mundo repleto de violência, meninos usados como soldados e meninas punidas por atos inocentes, como andar de bicicleta. No caminho, se depara também com a atriz e ativista Margaret Wells, uma espécie de Angelina Jolie.
Uma compilação das seis primeiras edições de “O Soldado Desconhecido” estará nas livrarias norte-americanas a partir deste mês. Moses, o personagem-título, cujo rosto fica envolto em ataduras, na verdade é uma recriação de um protagonista de 1966 da DC, que ficara desfigurado durante a Segunda Guerra Mundial e foi enviado em missões de espionagem.
Ninguém está mais surpreso que Dysart pelo fato de Uganda ser tema de uma HQ. Fã de história, ele diz que ficou obcecado com a pesquisa acerca de extremistas religiosos depois dos atentados do 11 de Setembro. Descobriu referências a Joseph Kony, o notório comandante do Exército de Libertação do Senhor, e o achou fascinante.
Em entrevista telefônica, Dysart disse que havia proposto um projeto centrado da Segunda Guerra Mundial, que foi rejeitado. Então, mudou seu foco para Uganda, esperando uma resposta semelhante. Mas a ideia foi aprovada, disse ele, “e então fiquei aterrorizado”. Karen Berger, executiva da DC Comics, disse que “quando exploramos algo na Vertigo, queremos explorar algo que seja inédito nos quadrinhos”. “A beleza da série é que ela trata não só de questões como o combate à violência com mais violência, mas também de como o povo de Uganda foi afetado por esse modo de vida.”
Com o projeto aceito, Dysart visitou a biblioteca pública, pegou emprestados todos os livros que encontrou e vasculhou a internet. Decidiu também que, “se iria lidar com o aspecto pior da vida dessa gente, teria de ir até lá”.
Ele visitou Uganda no começo de 2007, meses depois de um cessar-fogo ser declarado, passou algum tempo com os acholis e esteve nas cidades de Campala e Entebbe. Voltou com mais de mil fotos, que Ponticelli usaria como referência para as ilustrações.
“O Soldado Desconhecido” é inflexível no seu retrato da violência, e isso transparece com mais força ainda na coletânea, sem a pausa mensal entre as edições. Uma cena particularmente horrível trata da desfiguração do personagem-título: uma voz interior o guia em meio à violência, mas, quando ele atinge um ponto insuportável, ele golpeia a si próprio para tentar silenciá-la.
O assustador episódio saiu da imaginação de Dysart. Alguns detalhes que ele aprendeu na sua viagem, contou o roteirista, eram horríveis demais para a HQ. “Entrevistei uma criança-soldado reformada que havia sido obrigada a morder uma mulher até a morte”, contou.
A reação da crítica à série tem sido positiva. O site satírico “The Onion” a considerou “tanto relevante para o mundo real quanto visceralmente excitante”. A HQ também foi indicada na categoria melhor série do Prêmio Eisner, espécie de Oscar dos quadrinhos.
Estimativas do ICV2.com, site que cobre HQs, sugerem que o livro terá um mercado difícil. Enquanto a primeira edição vendeu modestos 16 mil exemplares, a nona caiu para 7.500, ocupando o 207° lugar em vendas em junho. (O título mais vendido da Vertigo neste mês, “Fables”, sobre personagens de fábulas exilados em Manhattan, vendeu mais de 23 mil exemplares.) Mas as coletâneas da Vertigo costumam se sair melhor do que seus títulos mensais.
Dysart, cujo próximo projeto para a Vertigo é “Greendale”, adaptação de um álbum de 2003 de Neil Young, disse que “O Soldado Desconhecido” poderia ir além da guerra civil. Ele também quer escrever sobre o envolvimento das corporações na África e sobre os testes antiéticos dos laboratórios farmacêuticos em grupos étnicos, caso a série perdure. Se podemos competir totalmente em um mundo de super-heróis eu não sei”, disse ele. “O meio, infelizmente, tem um leitorado limitado. Vamos ver.”
Fonte: Folha
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