quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Mostra em Paris reabilita Tarzan como herói defensor da natureza


Tarzan, um cidadão inglês que se tornou o "rei da selva", foi criado pelo escritor americano Edgar Rice Burroughs há cerca de um século. Agora, o herói é tema de exposição em novo museu parisiense.

Rice Burroughs escreveu 24 histórias sobre Tarzan. O personagem que apareceu também no cinema em 42 filmes é tema agora de exposição no novo museu etnológico parisiense Quai Branly.

A curadoria da mostra consagrada ao ícone do imaginário popular ficou por conta do antropólogo Roger Boulay, que também é especialista em arte da Oceania. Segundo os organizadores, a exposição propõe ao público descobrir as vias de criação do herói, como também a decodificação do mito que ele encarna.

A mostra reuniu histórias em quadrinhos, momentos de filmes, animais empalhados e artefatos africanos que contam um pouco sobre Tarzan e muito sobre a forma como os ocidentais veem – ou costumavam ver – o continente africano.

A exposição, que poderá ser visitada até 27 de setembro próximo, percorre as origens e a natureza de Tarzan, tanto como personagem quanto como mito, reabilitando-o como herói contemporâneo em defesa da natureza.

"Conto de fadas" das teorias de Darwin

Nas histórias de Rice Burroughs, Tarzan era o filho de um lorde e de uma dama britânicos que foi abandonado na costa leste da África. Sua mãe morreu de causa natural quando ele tinha apenas um ano e seu pai foi assassinado pelo líder de um bando de macacos gigantes que raptou e criou o garoto.

Sua mãe-primata o chamava de Tarzan, que significa "pele branca" em "waziri", língua imaginária dos macacos. Seu verdadeiro nome, no entanto, era John Clayton, Lorde Greystoke. Nos livros, ele volta para a Inglaterra, estuda na Universidade de Oxford e, antes de voltar para a selva, aprende 12 línguas, inclusive o latim.

Rice Burroughs também utilizou Tarzan para expressar suas opiniões. O escritor norte-americano rejeitava a religião e venerava Darwin. Ao lado dos desenhos dinâmicos e enérgicos das tiras de quadrinhos, feitos pelo ilustrador Burne Hogarth, a exibição inclui caricaturas desenhadas durante os primeiros debates sobre a obra de Darwin A origem das espécies.

Dessa forma, é possível interpretar a obra de Rice Burroughs sobre o "rei dos macacos" e o "lorde da selva" como uma versão "conto de fadas" das teorias de Darwin sobre a origem da humanidade e a sobrevivência do mais apto.

Tarzan como herói ambiental

Segundo Stéphane Martin, diretor do Museu Quai Branly, apesar do darwinismo de Rice Burroughs, ele também era interessado na ideia de diferentes raças. Ele foi o primeiro a admitir que esse homem branco de tanga subjugava não somente Jane, mas tudo ao seu redor. Assim, Tarzan também teria seu lado obscuro, acredita Martin.

Por outro lado, "também há um lado luminoso, que seria o interesse pelo meio ambiente". "Tarzan talvez tenha sido o primeiro herói ambiental, que não matou animais por prazer", explicou o diretor do museu.

"Há também a dimensão erótica e a fascinação pelo corpo", acresceu Martin: "Se você observar alguns dos filmes produzidos durante a década de 1930, você ficará um pouco surpreso pelo fato de vestirem poucas roupas! Em um dos filmes que estamos mostrando, há uma cena incrível de Jane nadando nua. É claro que ela foi cortada quando o filme foi lançado comercialmente, mas ainda assim fica a ideia de liberdade e ligação com o meio ambiente".

Johnny Weissmüller

Quinze diferentes atores retrataram Tarzan nas telas. Na exposição, existe uma galeria de retratos de todos eles. Em alguns deles, parece ter passado longe o culto do belo corpo que os quadrinhos tanto estimulavam. Mas esse certamente não foi o caso do mais popular dos atores de Tarzan, o múltiplo campeão olímpico de natação Johnny Weissmüller.

Weissmüller tinha origem germânica e judia. Ele nasceu em Freidorf, hoje um bairro da cidade romena de Timisoara, que na época pertencia ao antigo Império Austro-Húngaro, tendo emigrado ainda bebê para os Estados Unidos. Seu famoso grito teve origem no jodel, tradicional canto tirolês que praticava quando criança.

De Bjork à tatuagem

Se Tarzan tinha algo de estranho, ainda mais estranha era a África que se via nos filmes. Rice Burroughs nunca visitou o continente africano. Mas parece não ter incomodado aos produtores o fato de tigres aparecerem na selva de Tarzan, por exemplo, ou de ele se encontrar com vikings ou anitgos romanos em suas aventuras.

A África de Tarzan era tão sem fronteiras quanto o chapéu de um mágico. Tudo poderia sair dela. Hoje em dia, não poderíamos ter tanta liberdade. Ou poderíamos? Stéphane Martin acredita que a cultura pop ocidental desenvolveu um gosto pelo exotismo que é bem parecido com Tarzan.

Segundo Martin, a maioria da cultura pop ocidental da atualidade, da música de Bjork à tatuagem, teve sua inspiração fora da tradicional cultura ocidental.

Autor: John Laurenson / Carlos Albuquerque

Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4581004,00.html

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