E o rolo continua. O bom é que eles não tem como esconder a incompetência dos funcionários irresponsáveis que assumiram o trabalho de selecionar livros para alunos das escolas, respeitando a faixa etária dos mesmos. O ruim é que ao invés de supervisionar o programa eles acham melhor ficar no jogo de empurra-empurra. Ainda falam mal do livro de quadrinhos. Por ter sido o primeiro vai ficar marcado, infelizmente.
SÃO PAULO - O governo de São Paulo pode retirar mais dois ou três livros do programa de melhoria da alfabetização no estado. Os títulos com problemas serão anunciados nesta sexta-feira pela Secretaria de Estado da Educação. Até agora, duas das 818 obras selecionadas pelo Programa "Ler e Escrever" foram recolhidas por serem consideradas inadequadas.
Uma obra que havia sido escolhida como material de apoio para alunos do terceiro ano do Ensino Fundamental foi recolhida nesta quarta-feira. O livro tem dois poemas considerados inadequados à série, ambos escritos pelo poeta mato-grossense Joca Reiners Terron. O problema está na ironia, que crianças desta idade escolar ainda não conseguem decifrar. O secretário de Educação, Paulo Renato de Souza, admitiu que o livro pode causar problemas no desenvolvimento das crianças.
- O livro não é adequado e pode causar certa perturbação no desenvolvimento psicológico e moral das crianças - disse Paulo Renato.
Na poesia 'Manual de auto-ajuda para supervilões', há uma frase que diz 'Nunca ame ninguém. Estupre'. No mesmo poema, os alunos ainda encontraram frases como 'Tome drogas, pois é sempre aconselhável ver o panorama do alto' e 'Seja um pouco efeminado. Isso sempre funciona com estilistas'. A outra poesia, 'Perdido nas cidades', tem um trecho que fala de um esquimó: "Meu amigo esquimó nunca me deixa só. E, quando estou prestes a congelar, ele mija em cima de mim".
Segundo Paulo Renato, a material é destinado a adolescentes e não a crianças de 9 anos. Ele determinou na quarta-feira o recolhimento de todos os exemplares que tinham chegado às escolas da rede pública, 15 dias dias atrás. O secretário Paulo Renato, ex-ministro da Educação, disse que foi instaurada uma sindicância para apurar as responsabilidades na escolha dos livros.
- Houve erro grave na seleção dos livros. Não foram seguidos os critérios definidos pela própria equipe da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE). Logo que surgiu o primeiro problema, pedimos à coordenação do programa que revisasse os livros. Isso está sendo feito e será concluído nesta quinta-feira. Nesta sexta-feira, mais dois ou três livros serão retirados do programa por serem considerados inadequados - disse Paulo Renato, sem dar maiores detalhes sobre o conteúdo dos livros.
Esse é o terceiro caso de problemas com o material escolar registrado nas escolas estaduais de São Paulo neste ano. Em março, alunos da 6ª série do ensino fundamental receberam livros de Geografia com informação errada, em que o Paraguai aparecia duas vezes no mapa e o Equador sequer era ilustrado. Na semana passada, a Secretaria estadual da Educação mandou recolher mais de mil exemplares de um livro também distribuído pelo programa 'Ler e Escrever'. A obra "Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol" é uma coletânea de histórias em quadrinhos de vários autores sobre futebol. Mas as histórias são recheadas de palavrões, piadas de duplo sentido, referências a agressões físicas e verbais e palavrões, além de imagens de mulheres seminuas.
- Em uma semana foram detectados dois problemas graves. Da primeira vez, um livro com tiras e charges de conteúdo adulto, discriminatório, cheio de rótulos preconceituosos e linguagem ambígua, além de inadequada. Agora esse livro de poesia, com um conjunto de preconceitos embutidos num único poema, além de incitação à violência - disse a professora Ângela Soligo, coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo a educadora, há duas preocupações nos sucessivos casos de erro em livros distribuídos a alunos da rede pública. A primeira é se há profissionais com qualificação para fazer essa seleção. Ela disse que os livros selecionados parecem ter passado apenas pelo crivo de 'compradores'. A segunda é que agora os professores estão inseguros. A educadora afirmou que cabe aos professores uma nova atribuição nesse momento, o de revisar um material que já deveria estar revisado.
- Ninguém leu o primeiro livro. Leram apenas a capa, o prefácio e alguma história lá dentro - disse o secretário Paulo Renato, dizendo que a partir de agora os livros serão analisados por uma comissão especial, no mesmo molde adotado pelo Ministério da Educação.
Uma pessoa que foi ligada à Secretaria de Estado da Educação disse que faltam técnicos gabaritados para analisar os livros. Segundo a fonte, as falhas na seleção começaram a ocorrer depois que um grupo de mulheres que analisava minuciosamente o conteúdo dos livros foi substituído.
- Mais de 10 mulheres que estavam há muito tempo na Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) foram substituídas por professores universitários que não têm paciência em analisar minuciosamente os livros. Esses livros têm que ser lidos página por página. Até fotos com dupla interpretação precisam ser desclassificadas - disse a fonte.
O vereador João Antônio, do PT, disse que há um problema crônico na Secretaria de Educação. Segundo ele, as pessoas não conseguem fazer uma triagem dos livros que devem ser distribuídos na rede estadual de educação. Para ele, os sucessivos erros mostram mais do que um descuido dos responsáveis pela análise das obras. Ele disse que o assunto será discutido na Comissão de Educação e na Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara Municipal.
- Vamos mandar os erros para a Academia Brasileira de Letras tomar conhecimento. O Ministério Público já está investigando a responsabilidade. Esperamos que a Assembléia Legislativa do Estado também se posicione - afirmou.
Fonte: http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/05/28/governo-de-sp-pode-retirar-de-programa-de-alfabetizacao-mais-dois-ou-tres-livros-com-conteudo-inadequado-756088649.asp
2 comentários:
Sou de São Paulo e fiquei sabendo desse erro gravíssimo das escolas daqui pelo CQC.Como detesto futebol e faço quadrinhos pensando na família inteira, fiquei indignado com a dupla ausência completa de tato que os "responsáveis" pela educação tratam o tema. Em primeiro lugar, quadrinho não é coisa só de criança. Imagina se colocassem para passar algum desenho animado do tipo "Fritz the Cat" ou "A Vergonha da Selva" para essas crianças assistirem, alegando que só por ser "desenho animado", forçosamente é infantil. Como quadrinista, esse tipo de coisa me enfurece.
No mais, parabéns pela iniciativa.
Giorgio Cappelli
giorgio_cappelli@yahoo.com.br
Acho que este tipo de coisa reflete a falência do ensino no Brasil, quando não se tem mais técnicos na educação em condições de examinar o material que será entregue nas escolas, muito menos a faixa etária à qual ele se destina.
Postar um comentário