segunda-feira, 18 de maio de 2009

HQ sobre índios une arte e antropologia

Foto tirada por André Toral
Autor de "Os Brasileiros" afirma que prioriza a imaginação, mas se apropria de temas da antropologia
PEDRO CIRNECOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem são os brasileiros? Ou melhor: existe uma resposta única para essa pergunta, ou depende da época, do lugar, do contexto? Esses questionamentos estão presentes nas sete histórias em quadrinhos publicadas no livro "Os Brasileiros", de André Toral, 51, lançado neste mês. A busca da identidade não é um tema estranho a Toral, que além de quadrinista também é antropólogo e professor de história da arte -uma parte de sua tese de doutorado virou a HQ "Adeus, Chamigo Brasileiro", lançada em 1999. Mas ele faz questão de frisar: não é um desenhista que ilustra antropologia, mas um criador de histórias em quadrinhos. "Se eu quisesse fazer história, ia para academia.
Aqui, é a imaginação que vale", diz Toral, sobre as histórias que cria. Mas há um momento em que os caminhos do antropólogo e do artista se cruzam: "A antropologia ensina um jeito diferente de ver o mundo, uma espécie de estranhamento da realidade que me leva a encontrar temas para as histórias em quadrinhos". As sete histórias de "Os Brasileiros" têm índios como protagonistas. São HQs que se passam em momentos e lugares diferentes da história brasileira: do Sudeste nacional do século 16 ao Nordeste invadido por holandeses no século 17, passando por uma estrada no Rio Grande do Sul do século 20. "O livro mostra índios em diferentes contextos. Como é ser índio no Brasil de hoje?", pergunta o autor.
"Condição plural"
O antropólogo e quadrinista ("Eu via isso como uma esquizofrenia profissional, hoje sei que essas duas posições se alimentam") explica a escolha do título do livro: "Brasileiros é uma condição plural". "Por isso que o título está no plural, ele remete a um problema: o que significa ser brasileiro? Não é uma condição única: varia com o período histórico." Há uma diferença entre a maneira como o índio é retratado normalmente em livros e quadrinhos (heroico, inocente, vítima) e como Toral os retratou em "Os Brasileiros": "Os índios são tão complicados quanto nós, não dá para simplificar com um traço único, um caráter único: não é possível". "Eu respeito essa complexidade dos índios e não posso julgá-los por suas decisões." "Os índios não podem ser retratados como vítimas das circunstâncias, porque sempre foram protagonistas da história. Eles tomam decisões ativas, não apenas reagem aos acontecimentos", diz o quadrinista.

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