Qual brasileiro não conhece, ou pelo menos não viu ou ouviu falar da Mônica, Cebolinha, Cascão ou Magali? Ou do Jotalhão, do Horácio ou do Chico Bento?
Esses e mais de 200 outros personagens são criações de Mauricio de Sousa, um paulista de Santa Isabel que começou sua carreira de quadrinista com a publicação da tira de jornal com o personagem Bidu, em 1959, na Folha da Manhã, em São Paulo.
A famosa menina forte que gosta de bater nos meninos com seu coelhinho azul só foi publicada em 1963, já na Folha de S. Paulo, e isso depois da criação dos personagens Cebolinha, Piteco, Chico Bento, Penadinho, Astronauta e Horácio.
Carro-chefe de suas produções, a Mônica passou a ter uma revista independente só em 1970, editada pela Abril, com 200 mil exemplares. A partir daí, outros personagens também passaram a ter a “sua” revistinha: Cebolinha, Chico Bento, Cascão, Magali, Pelezinho e outras.
Em 1987 os títulos da Turma da Mônica passam a ser editados pela Editora Globo, mas em 2007 a internacional Panini – editora dos super-heróis da Marvel e da DC Comics - passou a ser responsável pela publicação. Outras editoras, como a Melhoramentos, a Girassol, a Ave Maria, a Cia. Editora Nacional e a FTD, também editam as histórias de Mauricio de Sousa, atualmente mais engajado com a responsabilidade e a influência de seus personagens na educação infantil.
A turminha foi se espalhando em parque temático (no Shopping Eldorado em São Paulo), nos games, e foram para as telinhas e telonas, com a produção de animações. Em 1979 foi exibido o especial O Natal da Turma da Mônica – o curta-metragem animado Natal pra todos nós em comemoração à data. Foi a primeira vez na história da televisão brasileira que uma animação (brasileira na criação e produção) foi transmitida em horário nobre. No cinema, As aventuras da Turma da Mônica (1982), A princesa e o robô (1984), As novas aventuras de Turma da Mônica (1986) e Uma aventura no tempo (2007) são os filmes de maior destaque, mas há também muitas outras produções feitas para VHS e DVD.
O sucesso de Mauricio de Sousa pode ser explicado por alguns fatores: o personagem principal ser uma menina – na época da afirmação da emancipação feminina, lembrando que a Mônica “honra” a história do feminino na literatura brasileira, ao lado da Emília e de Capitu –; a diversidade dos personagens – Astronauta, Piteco, Penadinho, Tina, Chico Bento, Jotalhão, Louco –; a predominância do universo infantil – o falar “elado”, o gostar de comer determinado alimento (a melancia da Magali), o não gostar de tomar banho, o ser “do contra”, os bichinhos de estimação, o anjo da guarda, os fantasminhas – e a presença de personagens “animais” como Sansão, Bidu, Floquinho, Jotalhão e Horácio. Tal fato inclusive contribui para alimentar nos mais novos um sentimento de igualdade e respeito entre as pessoas e na relação entre homens e animais.
Apesar de a inspiração gráfica ter sido declaradamente os quadrinhos japoneses do pós-guerra (como Astroboy), o traço particular do desenhista, o enfoque das histórias e as relações infantis não só trazem a marca da época em que foram criadas – o que por si só já conta uma história, como o Astronauta (a chegada do homem à Lua no final da década de 1960), o Rolo e a Tina (meio hippies), e a independência feminina – como também a divulgação de tipos característicos, como o Chico Bento, Ronaldinho, Papa-Capim e o Anjinho. Trabalhando com um imaginário bem brasileiro, os personagens conquistaram três gerações de leitores fiéis e, ao contrário do que alguns estudiosos afirmam, os gibis – no caso, os da Turma da Mônica – ajudaram (e ajudam) na alfabetização dos pequenos e a cultivar o bom hábito da leitura. Isso simplesmente porque o universo infantil é lúdico, imaginativo, fantasioso, emotivo, mas verdadeiro. A forma de penetrar nesse universo é pelo campo da imaginação, imaginar+ação = imagens em ação, ou seja, imagens que falem à realidade infantil (= imaginação), de preferência através de uma identificação. As letras são apenas estranhos códigos que vão sendo decifrados pela curiosidade de entender por completo a mensagem das imagens. É uma sedução silenciosa que constrói leitores e melhores sociedades. E Mauricio sabe como fazer isso.
Como resultado desse trabalho, hoje há mais de um bilhão de revistas publicadas, personagens distribuídos para 126 países (em 50 idiomas), mais de 3.000 itens licenciados – entre brinquedos, produtos de higiene, alimentos, e outros –, a Mônica é embaixadora do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), e podemos dizer que os personagens e as histórias de Mauricio de Sousa, verdadeiramente nacionais, conseguiram o respeito e a admiração mundiais que até então só nossa música e nosso futebol haviam obtido. É a valorização da autoestima e da autoexpressão brasileiras: material midiático criado no Brasil por brasileiros, como brasileiros e para os brasileiros, reflexo e afirmação da nossa identidade cultural que estão ganhando o mundo há mais de duas décadas.
A comprovação do reconhecimento e da abrangência do trabalho de Mauricio de Sousa veio recentemente com a exposição Mauricio 50 anos, no Mube (Museu Brasileiro de Escultura) em São Paulo, e o lançamento do livro MSP 50 - Mauricio de Sousa por 50 Artistas Brasileiros, em que 50 nomes dos quadrinhos nacionais, entre eles Angeli, Erica Awano, Fábio Moon e Gabriel Ba, Ivan Reis, Laerte, Spacca e Ziraldo criaram histórias com os personagens da Turma. Recentemente Mauricio de Sousa também foi convidado pelo do governo chinês para um projeto de pré-alfabetização de 180 milhões de crianças.
Pelo menos no papel, nossas crianças têm referenciais que são e vivem como nós – e não apenas os monstros e super-heróis com superpoderes.
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Fonte: Portal da Educação Pública
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