Luciano Irrthum transforma o clássico poema em quadrinhos cheios de traços tétricos e deformações
DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Por mais que o misterioso corvo tenha enfatizado o "nunca mais!" no poema mais famoso do americano Edgar Allan Poe, nascido há 200 anos, o mineiro Luciano Irrthum, 37, insiste em desenhá-lo. Com o lançamento de "O Corvo" pela editora Peirópolis, no sábado, é a terceira vez que transforma a obra -já ilustrada por artistas de renome, como Gustave Doré- em uma história em quadrinhos.
Há entre ele e o texto um vínculo que começa em 1994, quando seu avô o presenteou com um livro "grandão, amarelo e antigo" com as obras de Poe. "Eu nem sabia quem ele era", diz, em entrevista à Folha. Mas gostou do que leu e resolveu colocar no papel. O resultado dessa tentativa número um: um gibi de 16 páginas, vencedor do Prêmio Nova de Melhor HQ de 1995.
No ano seguinte, fez uma versão mais solta, ambientada em uma favela brasileira. E o corvo nem era corvo: era um urubu. Sem prêmio, dessa vez. A versão mais recente, lançada no sábado, volta ao texto original com um traço tétrico e repleto de deformações que combina bem com o poema.
Os versos utilizados por Irrthum nos quadrinhos foram retirados da tradução do conto de Allan Poe realizada por Machado de Assis. O assustador corvo é que parece ter recebido atenção especial do artista. Como em um pesadelo, aumenta e diminui de tamanho e muda suas proporções conforme a cena. Os desenhos seguem bem o tom dos versos. Mas pecam, em alguns momentos, pela literalidade em excesso. Quando Poe escreve "dessas duas pancadas tais", por exemplo, Irrthum ilustra com o protagonista mostrando dois dedos ao leitor.
Grasnado
Em entrevista, Irrthum é de poucas palavras. "Meu traço é do jeito que sai...", responde devagar a respeito de sua maneira de desenhar. Mas, ao narrar causos engraçados, é com humor que se comunica. Como quando conta a história dos últimos dias antes de baterem os sinos do prazo de entrega de "O Corvo", que levou quatro meses para desenhar. "O computador "deu pau", parecia que tinha um corvo empoleirado nele! Quando recuperei os arquivos, estavam em preto e branco, e tive de recolorir!", narra. "Mas saiu, né?". Está saindo. Os gibis serão distribuídos em livrarias e bancas durante o próximo mês. De imediato, só no site da editora: www.editorapeiropolis.com.br.
Fonte: Folha UOL
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