domingo, 15 de março de 2009

Educação em quadrinhos

Universitário aborda a importância das histórias na educação em conclusão de curso. Monografia rendeu trabalho social em biblioteca pública de Ceilândia e dobrou a freqüência de crianças e jovens na instituição

JANE ROCHA
jrocha@jornalcoletivo.com.br


Com o objetivo de ressaltar a importância do uso das histórias em quadrinhos na educação e suas diferentes possibilidades pedagógicas, Mauro César Bandeira de Oliveira, aluno de graduação do curso de artes plásticas da Universidade de Brasília (UnB), elaborou seu trabalho de conclusão de curso.

O projeto do universitário propõe a discussão acerca do desenvolvimento da disciplina de criação em arte seqüencial através da história em quadrinhos com tiras, charges, cartoons e vinhetas no currículo dos estudantes de nível médio das escolas do país e dos cursos de graduação em artes visuais, design e comunicação nas universidades do Brasil.

Mauro César Bandeira de Oliveira conta que escolheu este tema para a monografia por amor aos quadrinhos e pela importância da inclusão deles no conteúdo programático dos currículos escolares como metodologia didática para ensinar outras disciplinas. “Acredito que, assim como eu, as crianças e jovens gostariam de aprender mais sobre técnicas de como produzir suas próprias histórias em quadrinhos”, afirma o universitário. “Os quadrinhos têm grande importância para a formação em todos os níveis do ensino”, reforça.

O graduando não entende por que os quadrinhos ainda não foram incluídos no conteúdo programático dos currículos escolares como metodologia didática para ensinar outras disciplinas, a exemplo da língua portuguesa, matemática e geografia. “Crianças e jovens têm o hábito da leitura de histórias em quadrinhos e este interesse é pouco aproveitado pela escola”, acredita. “A arte seqüencial ainda não está presente na sala de aula como uma linguagem que ajuda a integrar os conteúdos curriculares com a cultura, a linguagem e o interesse das crianças”, reforça.

Nas escolas de nível médio e superior do país há uma grande demanda por cursos e disciplinas em criação de artes seqüenciais que venham a promover a formação de quadrinhistas, cartunistas, e chargistas para abastecer uma crescente demanda por profissionais nessa área. “Nenhuma dessas áreas é suprida de acordo com um mercado de trabalho potencial e com as enormes possibilidades de formação de criadores em arte seqüencial em nosso país”, afirma o graduando.

As histórias em quadrinhos são muito apreciadas pelo público, mas a linguagem da arte seqüencial não é reconhecida nos cursos superiores de artes, comunicação ou design. “Os quadrinhos são excluídos das disciplinas obrigatórias ou optativas que se dedicam à formação de habilidades na criação e produção em arte seqüencial”, afirma o graduando. “Quando muito se observam iniciativas isoladas no currículo acadêmico ou em projetos de extensão e mesmo assim com um enfoque teórico”, diz.

Publicações já têm uma longa tradição no Brasil
No Brasil, a publicação de histórias em quadrinhos começou no início do século XXI. No país, o estilo comics dos super-heróis americanos predomina, mas vem perdendo espaço para uma expansão muito rápida dos quadrinhos japoneses conhecidos como Mangá. Os artistas brasileiros têm trabalhado com ambos os estilos. No caso dos comics, alguns já conquistaram fama internacional, como Roger Cruz, que desenhou X-Men, e Mike Deodato, que desenhou Thor, Mulher Maravilha e outros.

Os quadrinhos no Brasil têm uma longa história que remonta ao século XIX, com o trabalho pioneiro de Angelo Agostini. Ele criou uma tradição de introduzir desenhos com temas de sátira política e social, as conhecidas charges, nas publicações jornalísticas e populares brasileiras. Nessa linha apareceu também o cartunista Belmonte, criador do Juca Pato.
Do Tico Tico à Turma da Mônica

Em 1905 surgiu a revista O Tico Tico, considerada a primeira revista de quadrinhos do Brasil, com trabalho de artistas nacionais como J. Carlos. A partir dos anos 1930 houve uma retomada dos quadrinhos nacionais, com os artistas brasileiros trabalhando sob a influência estrangeira, como a produção de tiras diárias de super-heróis com a publicação do Garra Cinzenta, em 1937, no suplemento A Gazetinha, e de terror, a partir da década de 1940. Em 1939 foi lançada a revista O Gibi, nome que se tornaria sinônimo de revista em quadrinhos no Brasil.

A única vertente dos quadrinhos que desenvolveu no Brasil um conjunto de características profundamente nacional é a tira. Apesar de não ser originária do Brasil, ela desenvolveu características diferenciadas no país.

Tira brasileira se tornou rebelde
A tira brasileira ganhou uma personalidade menos comportada do que a americana durante os anos 60, sob a influência da rebeldia contra a ditadura e, mais tarde, nos anos 80, de grandes nomes dos quadrinhos underground, muitos deles ainda em atividade.

No início dos anos 70 os quadrinhos infantis predominaram no país, com o início da publicação das revistas de Maurício de Souza e a montagem, pela Editora Abril, de um estúdio artístico que deu oportunidade para que vários quadrinhistas começassem a trabalhar profissionalmente, produzindo histórias do Zé Carioca e de vários personagens de Walt Disney.

Artistas brasileiros continuaram a desenhar histórias de personagens infanto-juvenis estrangeiros para dar continuidade à produção de histórias e capas das revistas de sucesso do Fantasma, Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira e Mandrake.
Contato:
(61) 3901-1360

Fonte: Mauro César Bandeira de Oliveira

2 comentários:

Prof. Michel Goulart disse...

Eu pretendo dar uma olhada no trabalho de Mauro César. Sou professor de História e gosto de utizar a nona arte em minhas aulas. Você sabe de fontes - sites ou trabalhos acadêmicos, que traram de uso de quadrinhos nas aulas de História? Um grande abraço

Natania A S Nogueira disse...

Específico, só conheço mesmo artigos, mas há livros como o do DJ e do Waldomiro Vergueiro com capítulos sobre o uso dos quadrinhos nas aulas de história.