Do inglês, magazine quer dizer revista e fanatic, fã, fanático. A aglutinação destes dois termos resultou numa mania: o fanzine. Com aspecto de ficção científica e histórias em quadrinhos, a espécie de revista de bolso teve origem nos Estados Unidos por volta de 1929, mas o ponto alto se deu na França, durante os movimentos de contracultura, em 1968, quando as pessoas utilizavam o fanzine como ferramenta ampla de comunicação de baixo custo. No Brasil, começou também na década de 60. Hoje, na era da internet, versões em xerox e feitas artesanalmente ainda circulam.
O publicitário Marco Paulo Guimarães Henriques é o editor-chefe do “Páginas Vazias”, que existe desde 2002 e, recentemente, lançou sua versão eletrônica. Distribuída gratuita e trimestralmente em cidades do Triângulo Mineiro e em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Fortaleza e Natal, “Páginas Vazias” é pensada por publicitários, historiador e arquiteto.
“O vimos como meio de comunicação independente, livre para abordar diversos assuntos. Nós pensamos em algo mais criativo, com melhor acabamento e, ao longo dos anos, o zine foi evoluindo e atingindo um público cada vez maior por não sermos partidários. No início era mais voltado para a música, mas abrimos o leque e hoje falamos de diversos assuntos”, disse Marco Paulo.
Ele conta que o nome foi sugestão de um amigo, defendida por ele, já que os pais não eram a favor das atividades que o filho desenvolvia. “Eu tenho banda, mexo com zine etc. Para eles, isso eram páginas vazias mesmo, perda de tempo. Achei legal e ficou como uma crítica: será que são paginas vazias?”
As edições possuem anúncios, patrocínios e participação de vários colaboradores e o fanzine possui diversos canais de comunicação com os leitores, como myspace, orkut e fotolog.
Segundo o editor chefe, o retorno financeiro não existe. “Fazemos por prazer, é um hobby. Todos da equipe têm seus trabalhos, mas o Páginas Vazias nos proporciona muitos contatos, conhecer pessoas. Já enfrentamos problemas por falta de dinheiro na hora de imprimir e outros detalhes, mas está tomando uma proporção que não imaginávamos. Tenho pretensão de, no futuro, transformá-lo numa revista.”
“Tupanzine” está na 57% edição
O “Tupanzine”, fanzine de Brasília que apareceu em 1994 e ainda ativo, foi criado pelo funcionário publico Ricardo Tubá e é considerado um dos mais antigos. Antes dele, em 1988, Tuba desenvolvia o “The Best of”, uma lista dos melhores e piores (discos, bandas). Seis anos depois, surgiu o “Tupanzine”, muito mais abrangente.
Na sua 57o edição, possui periodicidade variável (média de três números por ano) e é distribuído gratuitamente em Brasília, Porto Alegre e São Paulo. Para o funcionário público, a arte é levada como uma brincadeira cheia de gozação e sátiras de bandas independentes.
No início, havia amigos envolvidos no processo de criação, mas há um bom tempo ele faz o trabalho apenas com colaboradores. “Antes era praticamente no xerox e artesanal, mas agora há uma versão mais sofisticada, com tiragem que chega a 1,2 mil cópias. É impresso em folha A4, mas não chega a ser revista, porque muitas pessoas preferem o estilo de montagem. Não tenho ambição de virar revista, quero continuar neste esquema mais light. `Tupanzine` não envelheceu e continua atingindo grande público, que vai de adolescente até professores”, disse Tubá.
“Zine Grito” aborda temas polêmicos
A primeira edição do “Zine Grito” foi lançada timidamente com apenas 10 cópias em novembro de 2005. Hoje, a criação do especialista em informática Matheus Araújo Aguiar está na 13a edição. Sem uma periodicidade fixa, o fanzine aborda temas sobre meio ambiente, política e desigualdade social. “Eu queria que fosse algo pessoal, onde eu pudesse expressar livremente o que penso, minhas ideias. Daí o nome ‘grito’, pois é o meu desabafo.”
Produzido em uma folha A4 dobrada ao meio, Matheus desenvolve os textos e os desenhos quase sempre a lápis ou a caneta para depois xerocar cerca de 150 cópias e distribuir gratuitamente em shows e entre amigos de faculdade. “Uso colagens, mas faço tudo a mão, raramente digito, prefiro seguir este formato e espero que fique até como exemplo para outras pessoas experimentarem o fanzine. Comecei pela vontade de influenciar as pessoas, de criar um ponto de influência alternativa, que não tivesse qualquer vínculo, e então fui ganhando segurança e tenho projeto de fazer outros zines, crescer nesse universo.”
Saiba mais:
Fanzine é uma revista editada por um fan (fã, em português). Trata-se de uma publicação despretensiosa, eventualmente sofisticada no aspecto gráfico, dependendo do poder econômico do respectivo editor (faneditor). Engloba todo tipo de tema, com especial incidência em histórias em quadrinhos (banda desenhada), ficção científica, poesia, música, feminismo, cinema, jogos de computador e videogame em padrões experimentais.
Dica:
Leia o livro Fanzine, de Edgard Guimarães, publicado pela editora Marca de Fantasia. Ela traz orientações básicas para quem quer investir quadrinhos independentes.
Fonte: http://www.correiodeuberlandia.com.br/texto/2009/02/28/35390/revistas_artesanais_sobrevivem.html
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