Michael Faustino, filho de catador de lixo: alegria no dia a dia com quadrinhos e livros de história
Quem precisa do lixo para sobreviver é treinado a encontrar o que há de bom em amontoados de sujeira e mal cheiro produzidos diariamente pela Esplanada. Às vezes, essa riqueza é aparente, resultado do desperdício de quem resolve, por exemplo, jogar fora obras de Machado de Assis ou de Jorge Amado. Outras vezes, depende da percepção de artesãs, capazes de enxergar em jornais velhos, latinhas usadas e garrafas vazias a matéria-prima para brincos, colares, bolsas, abajures, mandalas, porta-lápis, descanso de mesa, de copo etc.
Quem precisa do lixo para sobreviver é treinado a encontrar o que há de bom em amontoados de sujeira e mal cheiro produzidos diariamente pela Esplanada. Às vezes, essa riqueza é aparente, resultado do desperdício de quem resolve, por exemplo, jogar fora obras de Machado de Assis ou de Jorge Amado. Outras vezes, depende da percepção de artesãs, capazes de enxergar em jornais velhos, latinhas usadas e garrafas vazias a matéria-prima para brincos, colares, bolsas, abajures, mandalas, porta-lápis, descanso de mesa, de copo etc.
A casa da família de Francisco de Assis Almeida, 58 anos, é uma vitrine das pérolas achadas no lixo do Congresso Nacional e ministérios (tema de uma série de reportagens do Correio iniciada no domingo). Há 12 anos, Assis vive do lixo. Catou, selecionou e negociou a parte aproveitável das sobras da burocracia. Hoje, ele faz parte da direção da Central das Cooperativas dos Catadores de Materiais Recicláveis do DF e chefia uma cooperativa do Recanto das Emas.
Desde a época em que começou a viver do comércio do lixo da Esplanada, Assis praticamente montou uma biblioteca particular, além de ter doado alguns achados recorrentes nos contêineres da Esplanada. Edições da Constituição, por exemplo. Uma delas, Assis guarda em casa, as outras repassou para a escola dos filhos. Se tem burocrata que não vê mais valor na Carta Magna, o mesmo não se dá com Assis, que tornou-se um voraz leitor estimulado pelas obras desprezadas nas caçambas do governo e do Congresso.
Acervo Faz parte do acervo do catador, por exemplo, Conto de escola e outras histórias curtas de Machado de Assis, e Tieta do agreste, de Jorge Amado. Além das obras, Assis resgatou dos detritos oficiais uma coleção inteira com a biografia de personagens como Frei Caneca e Visconde de Mauá. Os encartes, são de 1969, mas estão em perfeito estado de conservação.
A família também guarda em casa uma cópia da Agenda 21 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento) que mobilizou os políticos em 1992, quando representantes de 179 países participaram da Eco-92, e assunto que mais tarde saiu da pauta – o que deve explicar o motivo de algumas das cópias do documento terem ido parar no lixo. A reprodução guardada por Assis é toda cheia de apontamentos dos técnicos que um dia estudaram o assunto. Sobre os grifos originais, o catador fez suas observações.
O lixo da Esplanada também é ecumênico. Nele tanto podem ser encontrados o Evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec, como uma edição do Novo Testamento. E que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não saiba, mas um de seus livros, Falas de bem-querer, foi descartado.
Para acalentar o senador, a obra agora descansa em paz em uma prateleira da casa de Assis onde a mulher deste, Maria Aparecida Faustino, espana o pó da biblioteca todos os dias. A arte que brota no lodoParte do lixo produzido na Esplanada volta para as mãos dos servidores sob a forma de artesanato. Um grupo de mulheres se especializou em reciclar papel e transformar detritos em bijuterias e objetos de decoração.
A oficina que agrega valor a cacarecos funciona no quintal da casa das artesãs. Lá, elas estocam a matéria-prima pescada dos contêineres e guardam os equipamentos. Entre as ferramentas, batedeira de papel e peneira. Os objetos reciclados foram vendidos nas últimas exposições que as artesãs fizeram em repartições públicas. Sônia Maria Sousa, 54 anos, revela o lucro da última feira: R$ 160. “Não é muito, o que era lixo e virou enfeite”, comemora.
Fonte: Correio Brasiliense
2 comentários:
Olá Natania,
Gostei muito do seu trabalho, parabéns! Sou professora de Ciências e Biologia em Florianópolis-SC e tb estou usando HQ com meus alunos. Estive no Encontro de Artes e Ciências e participei da Olimpíada de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz em setembro do ano passado, no RJ.
Tenho um blog e vou linkar o seu.Mais uma vez, Parabéns!!
Abraço,
Prof. Marinilde Tadeu Karat
www.labbio.iee.blogspot.com
Obrigada pelo comentário, Marinilde, e desculpe-me por ter demorado a responder. Acho que ciências é um dos conteúdos que mais podem trabalhar com quadrinhos e com outros instrumentos a fim de facilitar o ensino. Sucesso em seus projetos!
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