No mundo dos quadrinhos
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
Há quem imagine que apenas crianças gostem de viajar pra lá. Não é verdade. Adolescentes e adultos também curtem. Tanto que cada vez mais jovens criam as próprias histórias. Porém, ainda tem quem acredite ser impossível viver de quadrinhos e considera que essa é uma profissão sem futuro. Puro preconceito. Não faltam histórias de sucesso.
O pai do menino que tem "macaquinhos no sótão", como ele diz, e panela na cabeça sempre viveu disso. Ziraldo, 76 anos, criador da Turma do Pererê e tantos outros personagens, começou cedo. "Aos 6 anos já era veterano", garante. Aos 16, o mineiro de Caratinga já trabalhava como desenhista. "Ganhava meu dinheirinho. Desde então, nunca mais parei de desenhar."
A dica de Ziraldo pra quem está começando? "Paciência e muita leitura. Se tem talento, tem de buscar informação, saber de tudo o que acontece no mundo", aconselha.
Com tudo - João Montanaro, 13, vem se tornando o queridinho de artistas de peso, como os ilustradores Orlando Pedroso e Adão Iturrusgarai. Já é chamado de o mais jovem cartunista brasileiro. Não é por menos: quem lê as tirinhas que cria nem acredita que tenham saído da cabeça de um adolescente.
Aos 6 anos, João copiava desenhos, como os do Bob Esponja, da TV. Um ano depois, inventava as próprias histórias. "Era sem fala porque não sabia ler direito. Quando tinha de usar, pedia para meu pai escrever", diz.
A mania de mandar e-mail para os ídolos deu certo. O pessoal gostou muito das criações do João, que passou a ser convidado a publicar trabalhos em diversas revistas, como a Mad. "Gosto de ser conhecido pelo humor e não pela minha idade. Meu objetivo é fazer todo mundo rir", assegura. Para conhecer a tirinhas do João, acesse o www.porjoao.blogspot.com
Gibi personalizado - Jhesse Alves Duque de Souza, 11 anos, de Santo André, está começando a trilhar seu caminho. Fanático por gibis desde a infância, agora também aderiu aos mangás. Influenciado pelo pai, grafiteiro, desenha desde os 5 anos.
Há alguns meses, inventou um gibi com as aventuras de Leninho, menino que se transforma em dragão. "Primeiro, penso no que vou escrever; depois que o texto está pronto, desenho", explica. Ele também faz tirinhas. "É bem mais difícil porque tem de pensar em uma história e resumir tudo para caber num espaço pequeno", afirma.
Estúdios estrangeiros importam brasileiros
Os quadrinhos são uma área promissora. Entretanto, o mercado de trabalho daqui ainda não oferece chance para todos. A produção nacional é inferior à do Japão e Estados Unidos, de onde provém a maioria das HQs comercializadas no Brasil.
Talento é o que não falta. Prova disso é a quantidade de brasileiros contratados por grandes estúdios, como DC Comics e Marvel. De São Bernardo, Ivan Reis, 32 anos, manda os desenhos do super-herói Lanterna Verde para a editora norte-americana DC Comics. Como? Pela internet. "Apesar de divertido, o trabalho é muito desgastante", afirma.
Outra prova de que os quadrinhos estão em alta são as inúmeras adaptações para o cinema, que sempre batem recordes de bilheteria. De olho nos lucros, a Disney comprou a Marvel por US$ 4 bilhões (o equivalente a cerca de R$ 8 bilhões).
E quem não desenha?
O que acontece com quem não tem tanta habilidade com o lápis e os traços, mas adora criar as próprias tiras? Marcelo Aniza Argachoy, 13 anos, de São Bernardo, encontrou a alternativa na internet. Fã de quadrinhos, ele sempre procura tirinhas on-line para ler. Desde o início do ano, utiliza o site www.bitstrips.com para criar os personagens (coloca roupa, expressões etc.) e os cenários dos quadros. Depois, acrescenta os balões com os diálogos.
"Como sempre gostei de tiras, queria saber se era bom nisso. Fiz uma de teste e o pessoal gostou. Se fosse desenhar, acho que ninguém iria curtir", conta. Marcelo passou a dica aos amigos que também se amarram em HQ. "No site tem todas as ferramentas para fazer as histórias. Quando os outros gostam do que faço, fico feliz", afirma Gabriel Ari Domingues de Oliveira, 12.
Em geral, os personagens são os colegas da escola. "A gente coloca coisas que acontecem no nosso cotidiano", explica Danilo Collmus De Marchi, 13. Eles só reclamam de dois probleminhas: o site é todo em inglês e quando vão preencher os balões em português não conseguem acentuar as palavras.
Nona arte surgiu no século 19
História em quadrinhos no Brasil, banda desenhada em Portugal, historieta na Argentina, comics nos Estados Unidos. Não importa o nome, a nona arte está em todos os lugares.
Sabe-se que os egípcios utilizavam imagens em sequência para contar histórias há milhares de anos. Entretanto, a HQ, na forma como conhecemos, surgiu somente no século 19, na Europa, Estados Unidos e Brasil. Aqui, os primeiros quadrinhos foram produzidos pelo italiano Ângelo Agostini.
Entre os artistas mais importantes estão o norte-americano Will Eisner (1917-2005), criador de Spirit, Hergé (1907-1983), pai de Tintin, e Stan Lee, responsável por X-Men, Homem-Aranha, Homem de Ferro, entre outros.
No País, destaca-se o também italiano Eugênio Colonnese (1929-2008), que vivia em Santo André desde 1967. O artista foi o criador de inúmeros quadrinhos de terror, como os da vampira Mirza.
Consultoria de Paulo Ramos, jornalista e pesquisador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP
A febre do manga
O mangá - como os quadrinhos japoneses são chamados, com traços diferentes e ordem de leitura inversa, da direita para a esquerda - é o estilo que tem mais espaço entre os adolescentes. Tanto que personagens clássicos, como a Turma da Mônica e Luluzinha, ganharam versões nessa linguagem. Sem contar que eventos que reúnem fãs do gênero (aí se incluem os animes) estão sempre bombando.
No Japão o mangá é lido por todo tipo de pessoa. Não é raro ver um executivo com um exemplar na mão enquanto vai para o trabalho. No Brasil, apesar de ter gente que curtia o gênero desde a década de 1980, começou a se destacar nos anos 1990 com a publicação de Dragon Ball.
Entre os gênios dos mangás está Osamu Tezuka (1928-1989), pai do Astro Boy, que ganhou adaptação para o cinema, com estreia prevista para janeiro. No Japão, Tezuka é chamado de deus do mangá.
Dicas para se dar bem
O time de ilustradores do Diário - formado por Seri, Fernandes e Gilmar - tem um monte de dicas para a galera que quer se aventurar pelo mundo dos quadrinhos. Confira:
A primeira coisa é saber se você realmente gosta disso. Daí é só investir, aprender e treinar.
Quem tem paixão por desenho precisa correr atrás do sonho. É necessário enfrentar o preconceito de quem pensa que quadrinista não é profissão. Não pode desistir nunca.
Há bastante espaço no mercado, principalmente por causa das novas tecnologias, como a internet. A dica é criar um blog para começar a divulgar seus desenhos.
É preciso desenhar muito, até formar calo no dedo. Só assim você vai aprimorar o traço e criar estilo.
Tem de ler muito e de tudo (livros, revistas, jornais); isso o ajudará a criar quadrinhos bacanas.
Tentar participar de eventos, como os salões de humor (o mais importante no Brasil é o que acontece em Piracicaba) para conhecer os artistas consagrados e conseguir algumas dicas.
Se você curte artes plásticas, comece a frequentar exposições de todos os tipos.
Pesquise bastante o trabalho de diferentes artistas para descobrir o estilo de cada um e a partir daí criar o próprio.
Participe de cursos, oficinas e workshops de desenhos.
Onde aprender
SANTO ANDRÉ - Desenho e HQ (Biblioteca Nair Lacerda, tel.: 4433-0760, e Biblioteca Cecília Meireles, tel.: 4472-6368). Livre.
Desenho e Ilustração (Biblioteca Vila Palmares tel.: 4991-4099). A partir de 11 anos.
SÃO BERNARDO - HQ (Biblioteca Monteiro Lobato, tel.: 4125-7993). A partir de 12 anos.
DIADEMA - HQ (Biblioteca Interativa de Inclusão Nogueira, tel.: 4071-9684). A partir de 12 anos.
RIBEIRÃO PIRES - Mangá (Escola Municipal de Música, tel.: 4824-1631). A partir de 15 anos. Vagas esgotadas para este semestre.
Fonte: Diário do Grande ABC
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