domingo, 4 de outubro de 2009

Polêmica sobre quadrinhos chega a Minas Gerais

Parece que esta semana os mineiros começaram a debater os quadrinhos nas escolas. Novamente há uma polêmica tanto quanto à linguagem quanto às cenas. Will Eisner está na mira, para variar. Tem horas que não dá pra entender o conservadorismo de alugns diretores e pais de alunos.



Livro com palavrão é polêmica nas escolas públicas de Minas

Palavrões, textos obscenos, xingamentos e agressões verbais. Esses são os ingredientes que fazem pais e professores declararem guerra contra alguns livros didáticos e obras literárias usadas nas salas de aula e bibliotecas de escolas públicas de Minas Gerais. Moralismo ou mau exemplo? A polêmica está lançada. De um lado, educadores defendem o estudo desses conteúdos com orientação pedagógica, pois eles podem ajudar no ensino das diferentes formas de linguagem e até mesmo na educação sexual dos jovens. Do outro, estão os mais resistentes, que acreditam que o papel da escola não é escancarar nas páginas dos livros tudo o que os pais querem afastar do cotidiano dos filhos.

A discussão gira em torno de dois títulos: Viver, aprender unificado e Um contrato com Deus e outras histórias de cortiço. O primeiro deles, da Editora Global, traz gírias e palavrões condenados pela Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais (Fapaemg). Este ano, 15 mil exemplares do livro foram distribuídos a alunos dos 8º e 9º anos do ensino fundamental, com idade mínima de 15 anos, matriculados no Projeto de Aceleração da Aprendizagem da Secretaria de Estado de Educação (SEE). O alvo das críticas é um texto de cinco páginas, do escritor Reginaldo Ferreira da Silva (que usa o nome literário Ferréz), em que expressões consideradas vulgares aparecem nos diálogos de personagens adolescentes que vivem numa periferia de São Paulo.

Indignada com a presença do livro didático nas escolas públicas, a Fapaemg promete acionar o Ministério Público Estadual. “A falta de limites e de bons modos é um grave problema enfrentado atualmente pela juventude e esse linguajar de baixo calão não pode ser aceito dentro das instituições de ensino. Queremos que o estado assuma seu papel de educador e transmita bons valores para os nossos filhos, não permitindo a libertinagem. Vamos pedir que seja feita uma cartilha complementar, pois o texto presente no livro não faz parte da nossa cultura”, afirma o presidente da federação, Mário de Assis.

Já a Associação de Professores Públicos de Minas Gerais defende a obra nas salas de aula sob o argumento de que ela é usada para explicar aos jovens as diferentes formas de linguagem da sociedade. “O livro trata das várias formas de comunicação, que podem ser desde as mais eruditas e cultas até as mais corriqueiras. Os palavrões estão dentro do contexto de ensinar aos jovens os modelos de linguagem e acredito que isso escandaliza muito pouco as pessoas, pois todos os jovens com mais de 15 anos já ouviram expressões como as citadas no texto. Será que isso fere tanto assim os ouvidos?”, questiona a presidente Joana D’Arc Gontijo.

Em nota, a Secretaria de Estado de Educação esclarece que o livro, “assim como todo o material dos projetos desenvolvidos pelo estado e distribuído aos estudantes da rede estadual, foi examinado e aprovado pela equipe pedagógica para ser usado nesta faixa etária”. Segundo a SEE, a obra “contextualiza o texto do romance, apresenta o autor (Ferréz) e o ambiente em que se passa a história, explora o universo textual chamando a atenção para a construção da personagem, a linguagem e o contexto social, o tempo e o espaço na narrativa e a organização estrutural da narrativa”.

Bibliotecas

Outro alvo da polêmica é a obra Um contrato com Deus e outras histórias de cortiço, de Will Eisner, que usa o modelo de histórias em quadrinhos para contar dramas de moradores do bairro nova-iorquino do Bronx. Distribuído pelo Ministério da Educação (MEC), dentro do Programa Nacional da Biblioteca na Escola (PNBE), o livro aborda temas complexos, como a violência doméstica, o abuso sexual de crianças e o uso de bebida alcoólica. O MEC afirma que as discussões em torno do título são antigas e ainda reforça que as bibliotecas são responsáveis pela política de empréstimo das suas obras e que esses trabalhos devem ser coordenados por bibliotecários ou professores capacitados.

Nas escolas, o livro é visto com ressalvas por alguns educadores, como Ermelindo Martins, diretor da Escola Estadual Paschoal Comanducci, no Bairro Jaqueline, na Região Norte de Belo Horizonte. “Já recebemos orientação de pedagogos da Secretaria de Estado de Educação para que o livro não ficasse exposto nas prateleiras e que o acesso a ele só fosse feito de maneira orientada. O problema é que não há critérios definidos sobre a faixa etária que pode lê-lo e não acredito que a linguagem seja adequada para alunos do ensino fundamental. Não sou a favor da censura, mas defendo que é preciso acompanhar os jovens para que eles sejam capazes de fazer uma leitura crítica. Caso contrário, o que a família vai dizer sobre a escola que permite o contato com um livro desses?”, diz Ermelindo.

Fonte: Uai!

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