domingo, 15 de novembro de 2009

Sete crianças vão salvar o mundo



The umbrella academy", de Gerard Way e Gabriel Bá, sobre crianças superpoderosas, teve os direitos comprados pela Universal. Vai virar filme
Livia Deodato

Enquanto o escritor Grant Morrison criava mais um diálogo ácido entre os arqui-inimigos Coringa e Batman em meados de 2006, a canção “Welcome to the black parade”, da banda americana de rock My Chemical Romance, não parava de tocar em seu rádio escocês. Chamou sua atenção. “A mistura eletrizante mostrava um grupo pop com ambição”, afirmou Morrison. A constatação não poderia ser mais gratificante para o vocalista do grupo, Gerard Way, que considerava Morrison seu maior ídolo.

Em um encontro marcado pouco tempo depois, o clima era de uma velha amizade. Conversaram sobre rock-n-roll, viagens, vida, morte e, principalmente... quadrinhos. Sim, Gerard já sabia rabiscar lugares fantásticos habitados por super-heróis, muito antes de pensar em ser músico. Morrison pediu para dar uma olhada em seu material e se surpreendeu com a história bem amarrada, a fina ironia aliada ao humor sarcástico, os sentimentos humanos transferidos para jovens salvadores do mundo.

AÇÃO E FANTASIA
The umbrella academy, de Gerard Way e Gabriel Bá, conta a história do poderoso Sir Hargreeves. Ele rastreia sete crianças superpoderosas. A Universal já comprou os direitos para filmá-la

O apadrinhamento instantâneo de um dos mais reconhecidos escritores de histórias em quadrinhos da atualidade foi o primeiro sinal do sucesso. The Umbrella Academy, publicada pela Dark Horse, ganharia em seguida cinco troféus do Prêmio Eisner em 2008 e 2009 – o mais conceituado do gênero, cujo patrono é o grande desenhista nova-iorquino Will Eisner (1917-2005) –, entre eles o de melhor série finita. A HQ (que no Brasil sai pela Devir, R$ 30) também vai virar filme, do estúdio Universal.

A compilação dos seis primeiros números da HQ foi intitulada Suí­te do Apocalipse, por tratar obviamente do fim do mundo. O ritmo ágil dos diálogos foi provavelmente ditado pelos intervalos curtos entre um show e outro que Gerard fazia com sua banda, em meio à turnê de seu terceiro álbum de estúdio, Black parade (2006). O cumprimento dos prazos da editora americana era um receio inclusive de seu amigo Morrison. Mas Gerard honrou o compromisso de conquistar novos fãs, dessa vez por escrito e dentro de balões.

Para trabalhar seus esboços de super-heróis (muito bem feitos, por sinal, e incluídos na edição brasileira), Gerard convidou o desenhista que considera hoje “o melhor do mundo”: o brasileiro Gabriel Bá. É o primeiro trabalho do paulistano dedicado essencialmente a super-heróis. Bá abriu essa exceção por sentir que o esboço gráfico que tinha em mãos ia além de uma narrativa bem amarrada e cheia de ação: “É a história de uma família tentando superar seus problemas, respeitar suas diferenças, viver em conjunto sem que um mate o outro e, quem sabe, salvando o mundo no meio tempo”, escreve no prefácio da edição brasileira. “Pensando bem, uma história bem parecida com aquelas que eu estava acostumado a contar.”

The umbrella academy apresenta as desventuras de sete das 43 crianças com poderes extraordinários que nasceram de mulheres solteiras sem sinais de gravidez. As sobreviventes ao abandono e à adoção foram rastreadas pelo cientista e empresário famoso, medalhista de ouro olímpico, ganhador do Prêmio Nobel e alienígena espacial (entre outros feitos e ocupações incríveis) Sir Reginald Hargreeves, para os íntimos apenas O Monóculo. As crianças, batizadas com números sequenciais, são dotadas de poderes complementares para a salvação do mundo. Com exceção da batizada como Número Sete (mais tarde chamada de Vanya), que, ao perguntar ao padrasto por que não pode ir “brincar” com os outros, ouve: “Bem... você não tem nada de especial”. Tudo o que ela sabe fazer é tocar violino.

A história dos sete super-heróis é contada de forma não cronológica. No primeiro número, descobre- -se que no futuro uma das crianças superpoderosas vai ganhar dinheiro divulgando os segredos da academia em livro. Esse é apenas um dos motivos misteriosos que devem incentivar o leitor a superar a ideia inicial escolhida por Gerard, um tanto quanto batida. O nascimento de uma série de humanos dotados de poderes não é novidade, como provam o seriado Heroes e até a novela brasileira Os mutantes.

The umbrella academy já chegou a seu segundo volume nos Estados Unidos, com o subtítulo Dallas, e foi igualmente aclamado pela crítica especializada. Gerard Way anunciou em julho na Comic-Con de San Diego, a maior feira de quadrinhos e cultura pop do mundo, que a terceira série se chamará Hotel Oblivion.

Para o filme da Universal, Gerard já expressou mais de uma vez sua preferência pelo diretor Alfonso Cuáron (de Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban). O longa deverá estrear em 2012. Com o ótimo storyboard de Bá já pronto, quem sabe até antes.

Fonte: Época

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