Única criança da família até então – os três irmãos vieram depois – e sem vizinhos da mesma idade que pudessem lhe fazer companhia, o menino, desde os 4 anos, passava suas horas entretido com o lápis e o papel.
“Nós morávamos em Juquiá, no Vale do Ribeira. A minha casa era ao lado da casa das minhas cinco tias. E para que eu não as importunasse, já que não tinha com quem brincar, elas me davam papel e lápis para desenhar”, conta Alex, com lágrimas nos olhos de saudades do tempo de infância. “Me emociono porque foi uma época muito feliz”, justifica-se.
Aos cinco anos, ele conseguiu copiar a capa de um livro de quadrinhos do He-Man e, logo em seguida, passou a desenhar paisagens para as tias. O talento, a essa altura, já estava sendo descoberto.
Dois anos mais tarde, ele já carregava na mochila da escola uma pilha de gibis. Todo dia, no caminho para o colégio, ele parava e comprava mais um.
“Eu pegava o dinheiro que minha mãe me dava para o lanche e comprava um gibi. Todo dia”, lembra Alex, que, depois, se alimentava com a merenda da escola. “Até hoje não consigo nem ver sopa de feijão com macarrão, de tanto que eu comi”, diverte-se.
De Juquiá, mudou-se para Registro e, com 14 anos, começou a frequentar um curso particular com Jox, cartunista da Editora Abril.
“Minha mãe me incentivava muito e quis pagar o curso. Aos 15 anos, publiquei minha primeira tira num jornal local sobre o Bronca e o Manero, meus dois primeiros personagens”, conta.
O trabalho agradou ao editor do periódico, que o contratou para ilustrar a Piriri Pororó, coluna semanal de política.
Mas esse não foi o primeiro trabalho de Alex, que um ano antes já tinha iniciado sua vida profissional como ajudante de marcenaria.
“Eu precisava ajudar meus pais e ter meu próprio dinheiro”, explica.
Com quase 16, trocou a marcenaria pela auto-elétrica e, aos 17, foi trabalhar como ajudante de motorista da Brahma. O trabalho, puxado, estava dificultando a conciliação com os estudos.
“E como minha mãe não queria que eu parasse de estudar, me incentivou a largar o emprego, já que eu entrava às 7 horas da manhã e saía às 9 da noite”, conta o cartunista.
Quanto completou 18, voltou a trabalhar como vendedor de móveis; aos 19, virou vendedor de consórcio.
“Quando tinha 21 anos, vim a Catanduva a passeio. Na época, fiquei sabendo que um banco abriria concurso público e resolvi prestar. Passei e entrei como corretor de previdência. Lá trabalhei, com mercado financeiro, até os 29 anos”, diz Alex.
Como viajava por toda a região, conheceu pessoas de diversas cidades e passou a realizar trabalhos como cartunista em Palmares Paulista, Urupês e Catanduva.
“Aos 25 anos, prestei vestibular e entrei na faculdade de Publicidade e Propaganda. No final do curso, foi convidado por uma amiga jornalista, que trabalhava em uma agência de Catanduva, a fazer ilustrações para o SESC. Logo, passou a ministrar oficinas na entidade aos finais de semana.
“Nessa época eu passei a flertar com o Jornalismo e a fazer charges. Comecei a ilustrar o jornal Primeira Edição, da faculdade, e a revista Enfoque. Inclusive, ilustrei a capa comemorativa dos 40 anos da Fafica da revista. Também expus várias tiras na Secom (Semana da Comunicação) e passei a prestar serviços para duas agências da cidade”, recorda Alex.
DESPONTANDO
Foi em 2007 que a vida de Alex começou a mudar. Nesse ano, foi contratado pela Estação Cultura para dar aulas em oficinas de HQ (Histórias em Quadrinhos). O projeto era dele mesmo e tinha sido apresentado à direção de Cultura no ano anterior, com o incentivo do amigo e vocalista da banda de blues Motocircus, da qual também faz parte, como baixista.
“O ano de 2007 foi muito intenso pra mim. Eu tinha 29 anos e estava há pouco tempo trabalhando para uma operadora de celular na área corporativa. Durante o dia, tinha o trabalho. À noite, a faculdade, que estava num ritmo puxado porque era meu último ano e eu tinha que fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso. Só me restavam os finais de semana e eu ainda tinha que administrar o tempo entre as oficinas, os ensaios da banda, os trabalhos da faculdade e a namorada”, lembra Alex.
Sobre ela, ele abre um parênteses.
“A Lê (Letícia) me ajuda muito e, ao lado da minha mãe, é minha maior incentivadora. Eu sempre quis viver da minha arte e nesses cinco anos e meio que estamos juntos ela só me apoiou. Inclusive, ela foi fundamental para eu fechar alguns contratos de trabalho”, frisa o cartunista.
Em 2008, já formado em Comunicação Social, ele foi contratado pelo SENAC para dar aulas de caricatura e desenho de humor. Também ilustrou a cartilha sócio-ambiental da entidade.
No mesmo ano, ministrou 11 oficinas no SESC de Rio Preto, ilustrou a cartilha de uma escola de idiomas e fez ilustrações para o SESC local alusivas ao Dia do Desafio e ao Combate e Prevenção a Incêndios.
E foi nessa época, em 2008, que passou a receber seu primeiro patrocínio.
“Conheci uma pessoa que trabalha com tintas e através dela passei a ser parceiro da Keramik, que é uma importadora e exportadora de materiais artísticos”, explica.
Já na primeira semana de 2009, ministrou palestra para 80 pessoas, promovida pela empresa patrocinadora, e ilustrou o catálogo de produtos que foi distribuído em todo o País – além da Tchecoslováquia, onde fica a sede da Keramik.
“A partir daí, passei a viajar o Brasil para dar workshops. Já passei por São José dos Campos, Presidente Prudente, São Paulo, Manaus, Dracena e Uberlândia. Na próxima semana, estarei em Vitória e Vila Velha”, adianta Alex.
Para 2010, além da parceria com a Keramik e das oficinas na Estação Cultura – atualmente, são sete turmas – ele pretende investir no projeto de publicar um livro de quadrinhos.
“Nós acabamos de lançar o Tiras de Letra na Batalha, que está em sua oitava edição e reúne trabalhos de 27 cartunistas de todo o Brasil, dentre os quais estou eu, que tive nove tiras selecionadas pela Editora Virgo, com a qual agora também tenho contrato”, diz.
INSPIRAÇÃO
Para o cartunista, sua maior inspiração encontra-se no cotidiano.
“Situações do dia a dia me inspiram. Os outros me inspiram. Principalmente as pessoas que gostam de meter o bedelho em tudo sem ao menos procurar saber do que se trata o assunto. Existe muita gente sem discernimento. As pessoas não sabem respeitar. Julgam superficialmente. Não se dão ao trabalho de se informar, mas sempre querem dar pitaco”, constata. Alex conta que utiliza seu trabalho como instrumento de crítica, mas sem perder o humor.
“Procuro despertar o olhar social, trazer informação, acordar as pessoas de alguma forma. E acho que a risada é fundamental, ainda que seja irônica, sabe? Para mim, o lance é você fazer do pingo d’água uma cachoeira”, explica.
Ele afirma que gosta e deve muito a Catanduva, uma cidade ‘muito bonita, com pessoas simples e histórias hilárias’.
“Essa realidade me inspira sempre”, destaca.
Quanto ao futuro, o cartunista diz, sobriamente, que não espera fama, mas reconhecimento e muito trabalho.
“Eu planejo meu futuro, mas sem ansiedade. Sei que agora as coisas estão começando a acontecer para mim. Há cinco anos, seria loucura pensar em viver da minha arte, mas hoje isso é possível. Eu não quero fama, porque fama um dia acaba. Quero sim, muito trabalho. Quero viver desse trabalho, formar minha família, conquistar meu estúdio e obter reconhecimento, valorização. Sei que nada vem de graça na vida da gente. Tudo é resultado de muita ralação e o dinheiro é consequência disso. Se eu vou ser como um Maurício de Souza ou um Ziraldo, não sei. Mas sei para aonde estou indo. Acho fundamental você saber quem é, ter pilares, pois muitos se perdem porque esquecem de onde vieram. Eu sei quem eu sou e de onde eu vim. E quero morrer fazendo quadrinhos”, finaliza Alex.
Fonte: O Regional
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