Quem nunca ouviu falar de Pato Donald, Mônica, Homem-Aranha, Batman, Fantasma, Snoopy, Coringa? Em algum momento da vida, esses e outros personagens já foram importantes para nossas trajetórias particulares, nos defendendo dos perigos cotidianos e das ameaças intergalácticas; ou simplesmente nos divertindo com "coelhadas" e o mundo próprio de Patópolis.
Tudo começou com as histórias em quadrinhos (HQs), carinhosamente chamadas de "gibis" aqui no Brasil (por exemplo, em Portugal se chamam "banda desenhada"). Quase sempre, nossa iniciação na leitura ocorria nos gibis, comprados pelos pais ou dados por tios e vizinhos. As imagens coloridas e o carisma dos personagens atraíam ao primeiro contato.
É o caso de Enos Moises da Silva, 43 anos, e Vicente Sobianski, 36 anos, dois iratienses que foram "contaminados" ainda crianças pelo fascínio exercido pelos gibis. Sem medo ou vergonha, os dois declaram que o interesse pelas revistas em quadrinhos foi tão forte e importante que ambos se tornaram colecionadores de gibis.
De um hábito comum para qualquer criança ou adolescente, Enos e Vicente foram se interessando cada vez mais pelas HQs. Hoje, adultos, passaram para a condição de colecionadores. Frequentemente, viajam para outras cidades em busca de edições raras ou de exemplares que possam completar suas respectivas coleções, num verdadeiro trabalho de garimpagem em sebos (locais para venda de usados: livros, revistas, CDs, DVDs etc.).
FORMAÇÃO HUMANA - No entanto, errou quem pensou que Enos e Vicente são pessoas "bitoladas" por uma mania; ou "nerds" que vivem num mundo aparte, sem relação entre seus gibis e o resto.
Funcionário da Prefeitura Municipal de Irati, onde exerce a função de auxiliar de administrativo em contabilidade, Enos conta que foi praticamente alfabetizado pelos gibis. Sua mãe, grande incentivadora da leitura, trabalhava como empregada doméstica e trazia as revistas em quadrinhos dadas pela patroa. Assim, Enos se iniciou nos gibis da Disney, vivendo as aventuras do Pato Donald, Tio Patinhas etc.
Como seu pai tinha problemas com alcoolismo, sua mãe é que ficou responsável pela criação dos filhos. Por conta disso, Enos não se esquece dos únicos quatro exemplares comprados por seu pai: Popeye, Mr. Magoo, Carabina Slim e Brasinha.
Autônomo da área de instalação e decoração de gesso, Vicente apresenta história parecida. Os gibis eram presença em sua vida desde antes de se alfabetizar, "Já estavam em meu DNA", brinca Vicente. Seu pai proibia a leitura de qualquer coisa, principalmente de gibis.
Nessa época, seu pai abandonou a família, obrigando sua mãe a cuidar de quatro filhos. Consequentemente, aos 12 anos de idade, Vicente foi forçado a abandonar a escola no 3º ano do ensino fundamental (antigo "primário"). Se por um lado sua formação passou longe do ensino oficial, por outro o mundo dos quadrinhos possibilitou conhecimento e sensibilização como ser humano.
Por isso, "Os gibis são difusores de ideias, abrindo a mente do ser humano. Além disso, melhoram a comunicação e contribuem para o crescimento do homem", afirma Vicente. Sua trajetória de vida comprova isso, pois numa conversa sobre qualquer assunto, ele demonstra segurança e personalidade no desenvolvimento de uma ideia.
Nesse quesito, Enos partilha de opinião semelhante. "Como o homem precisa de cultura e conhecimento, o gibi pode ser o primeiro degrau para isso. A leitura de um gibi não se resume a ele, obrigando o leitor a se informar sobre outros assuntos para entendê-lo. Assim, a "cultura de HQ" contribui para o enriquecimento cultural do indivíduo". Por sinal, Enos escalou muitos outros degraus ao longo de sua vida, formando-se em dois cursos universitários, Ciências Contábeis e Letras, e ingressando no serviço público por meio de concurso.
COLEÇÃO - Amantes do quadrinho produzido na Europa, principalmente de origem italiana, Enos e Vicente, como todo bom colecionador, mantêm gibis de variados tipos: Disney, Turma da Mônica, super-heróis (Marvel e DC), Tex, Zagor, quadrinizações (livros e filmes), edições especiais, Kripta do Terror, Ken Parker etc.
O acervo de Enos é composto de mais de 2.600 exemplares, com destaque para sua coleção completa das revistas do herói Zagor. Ele garante que tem todos os gibis publicados no Brasil com esse personagem, inclusive edições em outras línguas (italiano e francês).
Além disso, Enos tem algumas raridades: uma biografia quadrinizada do Padre. Anchieta, publicada pela Ebal; uma adaptação de Os Sertões (1955), da col. Edição Maravilhosa (Ebal); A Bíblia em Quadrinhos, publicada pela Ebal nos anos 50; e algumas edições de Gibi, uma revista semanal publicada pela RGE (atual editora Globo), que consagrou o termo "gibi" como sinônimo de história em quadrinhos (HQ).
CÍRCULO DE LEITURA - Além do gosto por leitura e coleção de gibis, Enos e Vicente também gostariam de poder disseminar os gibis por meio de palestras, cursos, exposições, projetos etc. Para eles, seria muito importante que as pessoas tomassem contato com o mundo dos gibis, desfazendo preconceitos e abrindo os olhos para esse universo. Assim, poderiam ser formados círculos de leitura, congregando pessoas com as mesmas afinidades pelo assunto.
CURIOSIDADES
- O mangá, gibi japonês, vem conquistando o público brasileiro há alguns anos. A grande diferença para o gibi tradicional é o modo de leitura: de trás para frente, à maneira oriental. Seu sucesso é tão grande que Maurício de Souza adaptou as histórias da Turma da Mônica para o formato do mangá, criando a Turma da Mônica Jovem. O sucesso foi instantâneo;
- Na indústria dos quadrinhos, existe uma espécie de "Oscar": é o Prêmio Eisner, em homenagem ao mítico Will Eisner. Anualmente, os melhores trabalhos são escolhidos pelos norte-americanos. Os brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon já ganharam, em diferentes categorias, essa premiação;
- Graphic Novel (romance gráfico) é um termo utilizado para classificar os gibis que se aproximam do status de obra literária. Maus (1992), de Art Spiegelman, foi a única HQ a ganhar o Prêmio Pulitzer, dado geralmente a publicações da literatura e do jornalismo, nos EUA.
Fonte: Brasil Wiki
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