Texto de Adriano Ribeiro e Camila Bevilacqua
Bordas largas, cores fortes, personagens com superpoderes ou em situações heroicas e nada humanas. Poder voar, liberar teias pelos punhos, seja formado por uma equipe ou por um personagem solitário, como Wolverine. As Histórias em Quadrinhos - HQs, como são conhecidas hoje - conquistaram adolescentes e adultos e se tornaram febre pelo mundo todo.
Contar o nascimento das HQs é uma tarefa difícil. Isso pelo momento em que se pode considerar a criação dessa arte. Há quem diga que tudo começou com os hieróglifos (sinais da escrita pictográfica dos antigos egípcios). Outros dizem que a arte rupestre, aqueles inscritos ou desenhos nas rochas, são a representação mais antiga dos quadrinhos. Na verdade, tudo o que é definido como uma história cronológica pode ser visto como ponto de partida para as HQs atuais.
Ao longo dos anos os quadrinhos evoluíram. A estrutura atual foi arquitetada no início da década de 1990. Juntaram-se as folhas formando um livreto preso com grampos que era distribuído de forma gratuita. Depois disso, foi comercializado a um baixo preço, até o dia em que um jornal de Nova York, “The New York Sunday World”, decidiu imprimir, pela primeira vez a cores e em uma página inteira, os quadrinhos para aumentar a venda do periódico. O personagem da tira era “Yellow Kid” (O Menino Amarelo), de Richard Outcault. O HQ inovava com personagens fixos e frases.
Algum tempo depois, o concorrente “Morning Journal” publicou um encarte semanal com oito páginas. A disputa entre esses dois grandes jornais, além de ser responsável pela reformulação estrutural das HQs, acelerou sua modernização. Ainda não havia balões com falas. Antes, o diálogo era escrito na roupa do personagem. Nem os desenhos eram exatamente dispostos em quadros. Eram jogados nos espaços das tirinhas.
A passagem do personagem principal e seus companheiros tinha um aspecto independente, mas os traços infantis e a forma sequencial da arte, contando uma história, já estavam presentes.
De acordo com o crítico de cinema Ricciotto Canudo, a história em quadrinho é a nona arte e recebeu diferentes nomes ao redor do mundo.
Essa maneira de contar histórias deu tão certo e é tão valorizada hoje que existem lojas e sebos especializados em HQs. O Sebo e Livraria Multiverso, por exemplo, tem duas lojas com cerca de 70% do material voltado para o mundo dos quadrinhos.
Segundo Anderson Roberto da Silva, 33, proprietário de um dos sebos Multiverso, a ideia de abrir um sebo de HQs surgiu para unir o útil ao agradável. “Os quadrinhos sempre foram uma paixão e percebemos que um sebo para esta área seria um diferencial, já que é uma faixa mal explorada do mercado”, disse.
Anderson diz que há bastante procura e que o público é diversificado e cativo. “Quando conhecem o sebo, é um processo contínuo de procura e troca. Os clientes variam de 13 a 40 anos. Os mais velhos normalmente já colecionavam e perderam o material de alguma maneira. Assim, eles procuram quadrinhos clássicos. Os mais jovens estão antenados nas novidades do mangá (quadrinho japonês)”.
Os preços variam entre R$ 1e R$ 5. O material antigo é o que mais vende. Apesar de a maioria do público ser masculino, hoje muitas mulheres procuram os sebos, em busca principalmente do quadrinho japonês.
Mangá
Há no Japão os chamados mangás, que se divergem um pouco das HQs por terem como principais características a liberdade de esquema dos quadros e as variedades de temas como drama, heroísmo e diversidade sexual.
No Brasil, nos anos 90 os mangás dominaram seu espaço e muitos deles foram transformados em animes - desenhos exibidos na televisão, em vídeo ou em cinemas - o que marcou mais a vida dos jovens e da nova legião de seguidores da arte.
Há escolas na região que dão aulas de mangá, como a AreaE, que tem sede na Liberdade, em São Paulo, há cinco anos, e uma filial no Rudge Ramos, em São Bernardo, com a mesma gerência desde 2007.
Segundo Fabrizio Torao Yamai, diretor da escola, “O grupo AreaE possui mais de 400 alunos, distribuídos em 48 turmas, com horários de segunda a sábado, de manhã, de tarde e de noite. A filial do Rudge Ramos tem cerca de 70 alunos, em 11 turmas”.
O diretor explica que o mercado de mangás cresceu no país porque as pessoas passaram a ter mais acesso às publicações. “Esse estilo de desenho gera fascínio e curiosidade nos leitores e, atualmente, a quantidade de mangás vendidos em banca é bem maior do que há cinco anos”, disse.
Os japoneses têm um forte hábito de leitura, com uma faixa-etária bem mais abrangente do que a infanto-juvenil. Assim, quando alguma editora publica um mangá, sua tiragem chega a milhões e em vários estilos para agradar a todos os gostos.
A ordem de leitura de um mangá japonês é a inversa à da ocidental, ou seja, é feita da direita para a esquerda. Alguns mangás publicados fora do Japão possuem a configuração habitual do Ocidente.
Além disso, o conteúdo é impresso em preto-e-branco, contendo esporadicamente algumas páginas coloridas, geralmente no início dos capítulos, e em papel reciclado, tornando-o acessível a qualquer pessoa.
Perfil Brasileiro
Muito se especula sobre o leitor de quadrinhos, mas até o momento ninguém sabia como ele era ou, pelo menos, se alguém sabia - suspeita-se que algumas editoras tenham pesquisado o mercado - não divulgava.
Um trabalho pioneiro realizado por alunos da Esamc (Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação), a pedido do site Mundo HQ, revela pela primeira vez o perfil do atual leitor de quadrinhos do Brasil. Alguns dados não surpreendem: a maioria dos leitores, por exemplo, é do sexo masculino (85%).
Victor Geovou, 21, assume seu vício por quadrinhos. “Compro sempre há uns quatro anos. Eu lia na escola quadrinhos nacionais, mas depois comecei a me interessar por mangá por causa dos desenhos que passavam na TV. Gosto muito de Naruto e Full Metal Alchemist, que são publicados há vários anos no Japão. Leio em um site na internet que disponibiliza os últimos capítulos em inglês.”
Outros dados da pesquisa revelam um leitor diferenciado: grande parte já completou o segundo grau (52%), outros 25% têm curso universitário e 3,7% dos leitores fazem ou já fizeram pós-graduação. E mais: 61% dos leitores preocupam-se com o português das HQs, sendo que 8,1% começaram a ler gibis como parte do processo de alfabetização, e 51% dos leitores leem histórias em outras línguas.
A pesquisa foi realizada durante o 1º Festival de HQ e Universo Fantástico, que reuniu em Campinas, no mês de setembro, cerca de 3.000 fãs de todo o Brasil. Segundo Adriana Mesquita, uma das alunas que coletaram os dados, “essa pesquisa derruba o mito de que histórias em quadrinhos são de interesse exclusivo de crianças e adolescentes. Ela mostra a representatividade do público adulto, que lê quadrinhos há muito tempo, logo conhece do assunto e quer ser tratado diferenciadamente”.
Mais da metade das pessoas que participaram da pesquisa acredita que o contato com a tecnologia moderna - internet e videogame - acabam influenciando o consumo de HQ e 40,7% já leem HQ´s online, porém 17% não as consideram uma verdadeira HQ, pois acreditam na forma conservadora: revistas impressas.
O dono, autor e ilustrador do site Nona Arte ou Acervo HQ, André Diniz, fala que decidiu colocar à disposição gratuitamente as histórias que cria no site. São mais de 400 quadrinhos disponíveis para download ou leitura online: o maior acervo de HQ em língua portuguesa da internet.
No dia 30 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da História em Quadrinhos. Sebos especializados do país farão um evento simultâneo na data. Cerca de 20 sebos de São Paulo participarão dando descontos, exposições e palestras. O evento tem parceria do Quarto Mundo (coletivo de Quadrinistas Independentes).
Serviço
Sebo Multiverso
Bordas largas, cores fortes, personagens com superpoderes ou em situações heroicas e nada humanas. Poder voar, liberar teias pelos punhos, seja formado por uma equipe ou por um personagem solitário, como Wolverine. As Histórias em Quadrinhos - HQs, como são conhecidas hoje - conquistaram adolescentes e adultos e se tornaram febre pelo mundo todo.
Contar o nascimento das HQs é uma tarefa difícil. Isso pelo momento em que se pode considerar a criação dessa arte. Há quem diga que tudo começou com os hieróglifos (sinais da escrita pictográfica dos antigos egípcios). Outros dizem que a arte rupestre, aqueles inscritos ou desenhos nas rochas, são a representação mais antiga dos quadrinhos. Na verdade, tudo o que é definido como uma história cronológica pode ser visto como ponto de partida para as HQs atuais.
Ao longo dos anos os quadrinhos evoluíram. A estrutura atual foi arquitetada no início da década de 1990. Juntaram-se as folhas formando um livreto preso com grampos que era distribuído de forma gratuita. Depois disso, foi comercializado a um baixo preço, até o dia em que um jornal de Nova York, “The New York Sunday World”, decidiu imprimir, pela primeira vez a cores e em uma página inteira, os quadrinhos para aumentar a venda do periódico. O personagem da tira era “Yellow Kid” (O Menino Amarelo), de Richard Outcault. O HQ inovava com personagens fixos e frases.
Algum tempo depois, o concorrente “Morning Journal” publicou um encarte semanal com oito páginas. A disputa entre esses dois grandes jornais, além de ser responsável pela reformulação estrutural das HQs, acelerou sua modernização. Ainda não havia balões com falas. Antes, o diálogo era escrito na roupa do personagem. Nem os desenhos eram exatamente dispostos em quadros. Eram jogados nos espaços das tirinhas.
A passagem do personagem principal e seus companheiros tinha um aspecto independente, mas os traços infantis e a forma sequencial da arte, contando uma história, já estavam presentes.
De acordo com o crítico de cinema Ricciotto Canudo, a história em quadrinho é a nona arte e recebeu diferentes nomes ao redor do mundo.
Essa maneira de contar histórias deu tão certo e é tão valorizada hoje que existem lojas e sebos especializados em HQs. O Sebo e Livraria Multiverso, por exemplo, tem duas lojas com cerca de 70% do material voltado para o mundo dos quadrinhos.
Segundo Anderson Roberto da Silva, 33, proprietário de um dos sebos Multiverso, a ideia de abrir um sebo de HQs surgiu para unir o útil ao agradável. “Os quadrinhos sempre foram uma paixão e percebemos que um sebo para esta área seria um diferencial, já que é uma faixa mal explorada do mercado”, disse.
Anderson diz que há bastante procura e que o público é diversificado e cativo. “Quando conhecem o sebo, é um processo contínuo de procura e troca. Os clientes variam de 13 a 40 anos. Os mais velhos normalmente já colecionavam e perderam o material de alguma maneira. Assim, eles procuram quadrinhos clássicos. Os mais jovens estão antenados nas novidades do mangá (quadrinho japonês)”.
Os preços variam entre R$ 1e R$ 5. O material antigo é o que mais vende. Apesar de a maioria do público ser masculino, hoje muitas mulheres procuram os sebos, em busca principalmente do quadrinho japonês.
Mangá
Há no Japão os chamados mangás, que se divergem um pouco das HQs por terem como principais características a liberdade de esquema dos quadros e as variedades de temas como drama, heroísmo e diversidade sexual.
No Brasil, nos anos 90 os mangás dominaram seu espaço e muitos deles foram transformados em animes - desenhos exibidos na televisão, em vídeo ou em cinemas - o que marcou mais a vida dos jovens e da nova legião de seguidores da arte.
Há escolas na região que dão aulas de mangá, como a AreaE, que tem sede na Liberdade, em São Paulo, há cinco anos, e uma filial no Rudge Ramos, em São Bernardo, com a mesma gerência desde 2007.
Segundo Fabrizio Torao Yamai, diretor da escola, “O grupo AreaE possui mais de 400 alunos, distribuídos em 48 turmas, com horários de segunda a sábado, de manhã, de tarde e de noite. A filial do Rudge Ramos tem cerca de 70 alunos, em 11 turmas”.
O diretor explica que o mercado de mangás cresceu no país porque as pessoas passaram a ter mais acesso às publicações. “Esse estilo de desenho gera fascínio e curiosidade nos leitores e, atualmente, a quantidade de mangás vendidos em banca é bem maior do que há cinco anos”, disse.
Os japoneses têm um forte hábito de leitura, com uma faixa-etária bem mais abrangente do que a infanto-juvenil. Assim, quando alguma editora publica um mangá, sua tiragem chega a milhões e em vários estilos para agradar a todos os gostos.
A ordem de leitura de um mangá japonês é a inversa à da ocidental, ou seja, é feita da direita para a esquerda. Alguns mangás publicados fora do Japão possuem a configuração habitual do Ocidente.
Além disso, o conteúdo é impresso em preto-e-branco, contendo esporadicamente algumas páginas coloridas, geralmente no início dos capítulos, e em papel reciclado, tornando-o acessível a qualquer pessoa.
Perfil Brasileiro
Muito se especula sobre o leitor de quadrinhos, mas até o momento ninguém sabia como ele era ou, pelo menos, se alguém sabia - suspeita-se que algumas editoras tenham pesquisado o mercado - não divulgava.
Um trabalho pioneiro realizado por alunos da Esamc (Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação), a pedido do site Mundo HQ, revela pela primeira vez o perfil do atual leitor de quadrinhos do Brasil. Alguns dados não surpreendem: a maioria dos leitores, por exemplo, é do sexo masculino (85%).
Victor Geovou, 21, assume seu vício por quadrinhos. “Compro sempre há uns quatro anos. Eu lia na escola quadrinhos nacionais, mas depois comecei a me interessar por mangá por causa dos desenhos que passavam na TV. Gosto muito de Naruto e Full Metal Alchemist, que são publicados há vários anos no Japão. Leio em um site na internet que disponibiliza os últimos capítulos em inglês.”
Outros dados da pesquisa revelam um leitor diferenciado: grande parte já completou o segundo grau (52%), outros 25% têm curso universitário e 3,7% dos leitores fazem ou já fizeram pós-graduação. E mais: 61% dos leitores preocupam-se com o português das HQs, sendo que 8,1% começaram a ler gibis como parte do processo de alfabetização, e 51% dos leitores leem histórias em outras línguas.
A pesquisa foi realizada durante o 1º Festival de HQ e Universo Fantástico, que reuniu em Campinas, no mês de setembro, cerca de 3.000 fãs de todo o Brasil. Segundo Adriana Mesquita, uma das alunas que coletaram os dados, “essa pesquisa derruba o mito de que histórias em quadrinhos são de interesse exclusivo de crianças e adolescentes. Ela mostra a representatividade do público adulto, que lê quadrinhos há muito tempo, logo conhece do assunto e quer ser tratado diferenciadamente”.
Mais da metade das pessoas que participaram da pesquisa acredita que o contato com a tecnologia moderna - internet e videogame - acabam influenciando o consumo de HQ e 40,7% já leem HQ´s online, porém 17% não as consideram uma verdadeira HQ, pois acreditam na forma conservadora: revistas impressas.
O dono, autor e ilustrador do site Nona Arte ou Acervo HQ, André Diniz, fala que decidiu colocar à disposição gratuitamente as histórias que cria no site. São mais de 400 quadrinhos disponíveis para download ou leitura online: o maior acervo de HQ em língua portuguesa da internet.
No dia 30 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da História em Quadrinhos. Sebos especializados do país farão um evento simultâneo na data. Cerca de 20 sebos de São Paulo participarão dando descontos, exposições e palestras. O evento tem parceria do Quarto Mundo (coletivo de Quadrinistas Independentes).
Serviço
Sebo Multiverso
- rua Cardeal Arcoverde, 422 - esquina com a rua Capote Valente - Alto de Pinheiros, São Paulo/SP
- avenida João Batista, 104, Osasco/SP
AreaE - Escola de Mangá
- rua da Glória, 279, Cj. 55 – Liberdade, São Paulo/SP
Telefone: 3207-7624
- rua Uberaba, 44 - Rudge Ramos, São Bernardo do Campo/SP
Telefone: 4368-9173
Fonte: Sorrisos laterais
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